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Crítica | Emilia Pérez (2024)

Questionável.

por Os Três
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O Plano Crítico já tem uma crítica para este filme, cuja nota é 5 HALs (obra-prima). Se você gostou da obra, clique aqui e leia essa abordagem, escrita por Ritter Fan, nosso editor. Na presente crítica, nós apresentaremos uma visão completamente diferente (e muito negativa) sobre o longa. Siga por sua conta e risco. 

Seremos claros desde o início: Emília Pérez é o tipo de desastre cinematográfico que tenta se mascarar de arte sofisticada, mas acaba afundando num pântano de estereótipos, pretensões vazias e uma dose exorbitante de branquitude (ou anti-nacionalidade ofensiva) insustentável, camuflada por uma produção francesa que, de forma vergonhosa, decide se apropriar da cultura mexicana sem a mínima compreensão ou respeito.

O filme, dirigido por Jacques Audiard, se vangloria por uma premiação que, em vez de celebrar inovação, aplaude a exploração. O diretor, em sua obra inusitada e de “coragem”, utiliza o México e seus preconceitos como se fosse um pano de fundo exótico para um melodrama que tenta, sem sucesso, disfarçar suas intenções de whitewashing. Ao invés de mergulhar na complexidade das culturas, o filme opta por uma abordagem rasa e problemática, que exibe o país como um lugar de crimes, narcotráfico e transições de gênero sensacionalistas.

A história, que gira em torno de um traficante mexicano, Juan “Manitas” Del Monte, que decide transicionar, não só se distorce ao tratar temas de gênero de forma superficial, como também faz isso de maneira estereotipada, como se a transição fosse algo trivial, passível de ser metamorfoseada em mera ferramenta narrativa para uma trama rasamente “divertida”. O que poderia ser uma reflexão sobre identidade, corpo e violência se perde no vazio de um espetáculo pretensioso, onde o principal conceito é reduzido a um recurso enredístico, sem qualquer análise profunda. E, para completar o circo, temos um elenco carente de artistas mexicanos/mexicanas/mexicanes. 

Se o filme almeja ser um musical, ele peca ao tentar forçar esquetes de forma desconexa e sem qualquer motivação real para a história. O que poderia ser uma expressão artística, parece mais uma tentativa forçada de imitar algo “exótico”, com as coreografias vazias de Damien Jalet, que se esforça, mas não consegue salvar a insustentável narrativa. O que se espera de um musical é emoção, é a transcendência da história através da música, mas o que temos em Emília Pérez é um teatro de sombras, onde cada número musical só reforça a farsa do filme, longe de ser “brilhante” ou “emocionante“.

A cinematografia, assinada por Paul Guilhaume, tenta esconder sua falha gritante em retratar o México com uma iluminação escura e maquiagens “artísticas” que se utilizam de recursos antiquados e questionáveis para transformar uma nação vibrante e autêntica num estereótipo de “cartel” e “narcotráfico”. Para nós, este é um desastre envolto num manto de arte orgulhosa, uma tentativa questionável de explorar identidades e culturas que não entende e não respeita. Ao invés de um filme que desafia a percepção e mergulha na complexidade do ser humano, temos apenas uma farsa travestida de inovação. Na verdade, a fita não é uma experiência cinematográfica, é uma afronta ao bom gosto, uma exploração da cultura mexicana e uma tentativa vã de tratar questões sérias com a leveza de uma piada ruim.

Fica a pergunta: estamos aqui diante de uma crítica genuína ou apenas refletindo um cenário de opiniões dispersas, sem alicerce ou direção? O que você acha?

Emilia Pérez (Idem – França/Bélgica, 2024)
Direção: Jacques Audiard
Roteiro: Jacques Audiard, com colaboração de Thomas Bidegain, Nicolas Livecchi e Léa Mysius (baseado em romance de Boris Razon)
Elenco: Zoe Saldaña, Karla Sofía Gascón, Selena Gomez, Adriana Paz, Mark Ivanir, Édgar Ramírez, James Gerard, Agathe Bokja, Lucas Varoclier, Marie-Elisabeth Robert, Eric Geynes, Anabel Lopez, Eduardo Aladro, Line Phé, Cyrus Khodaveisi, Yohan Levy, Daniel Velasco-Acosta, Jonas Paz-Benavides
Duração: 130 min.

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