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Crítica | Elton John: Never Too Late

O começo e o fim da carreira de uma lenda viva.

por Ritter Fan
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David Furnish fez uma série de entrevistas com Elton John durante a turnê mundial Farewell Yellow Brick Road que, conforme anúncio do cantor, marcou o fim de sua carreira de shows, para gerar dois produtos semelhantes, um livro de memórias sobre a vida de Elton John em turnês e o documentário sob análise, que usa as referidas gravações como fio guia de uma narrativa que, no presente, se passa nos meses que antecedem o último show, no Dodgers Stadium, em Los Angeles, e, no passado, foca no começo meteórico da carreira do artista, nos anos 70. Como um filme tributo à uma lenda viva, Elton John: Never Too Late tem um começo que surpreende, ao indicar que trabalhará não apenas o sucesso, mas também a melancolia de seu passado com o pais e a dor de sentir-se só que o levou a viciar-se em drogas, indicando ousadia em revelar as duas faces de um artista em seu auge prematuro, por assim dizer.

Dirigido pelo próprio Furnish ao lado de R.J. Cutler, que, em 2021, comandou um documentário sobre Billie Eilish, o longa é bem-sucedido na forma como intercala os áudios e entrevistas em vídeo gravadas durante momentos diferentes da última turnê de Elton John, com uma série de gravações e fotografias de seu início de carreira, incluindo um emocionante momento em que vemos John Lennon subir no palco do amigo, no Madison Square Garden e que seria a última vez que o ex-Beatle faria um show ao vivo. Apesar do início que aponta em uma direção mais sombria, é importante ter em mente que o documentário segue uma linha que é muito comum especialmente em tempos recentes, ou seja, de se fazer um documentário que é uma homenagem ou, claro, uma homenagem na forma de documentário e que muito claramente passo pelo crivo do biografado sobre o tipo de conteúdo a ser incluído e, não duvidaria, cada sequência, cada trecho de gravações e assim por diante.

E não há nada de intrinsecamente errado com isso, vale dizer, mas, quando, logo no começo, em meu ao sucesso estrondoso de Elton John, Furnish indaga ao Elton John atual o que ele estava sentindo na época e sua resposta é desconcertantemente honesta, os documentaristas parecem querer indicar que pretendem oferecer algo a mais, algo que vai além da mera homenagem chapa branca. Ainda que esse assunto retorne de tempos em tempos ao longo da minutagem, ele muito claramente fica em segundo plano, o que acaba sendo frustrante em certa medida, como uma promessa que não é cumprida ou um caminho que parece oferecer profundidade, mas não vai muito além da superfície. Sim, é um assunto difícil e é generoso de Elton John lidar com ele ao vivo e a cores, mas faltou talvez apostar nesse aspecto para trazê-lo para o primeiro plano enquanto a turnê no presente caminha e é pareada com o surgimento do cantor no panorama musical.

Além disso, apesar de os aspectos do sofrimento de Elton John no passado ganharem texto e contexto, o documentário não oferece uma história realmente completa e encerra essa trajetória não no passado, mas no presente, com Elton apresentado seu marido e seus dois filhos no último show de sua turnê, em uma indicação clara de que sua solidão foi “curada”. No entanto, entre um acontecimento e outro, há um espaço temporal de décadas que o documentário não quer explorar – e realmente não devia, dada a duração e a estrutura do longa -, mas que ele também não resolve efetivamente, pelo menos não sem se valer dessa conexão feliz e, vamos combinar, fácil. com o presente do astro.

Elton John: Never Too Late oferece dois recortes específicos da vida de um grande artista da música, um no começo e outro no fim de sua carreira, mas o documentário, mesmo introduzindo questões personalíssimas do biografado, parece ter receio de aprofundá-las, de continuar com a ousadia da proposta até o fim. Claro que há muito o que aproveitar em termos de imagens de arquivo no longa, mas, sem o recheio, o resultado é um tanto quanto formular e, mais problemático ainda, inacabado e insatisfatório.

Elton John: Never Too Late (EUA, 13 de dezembro de 2024)
Direção: R.J. Cutler, David Furnish
Com: Elton John, Bernie Taupin, David Furnish, John Lennon, Cliff Jahr, Dua Lipa
Duração: 102 min.

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