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Crítica | E Depois?

Superficialmente bonito e melancólico.

por Kevin Rick
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Lançado na Netflix no final do ano passado, E Depois? é um dos curtas em live-action indicados ao Oscar de 2024. Passando um pouco batido pelo público, como normalmente acontece com curtas-metragens, a produção ganhou mais atenção após a seleção na grande premiação cinematográfica. Dirigido por Misan Harriman, com roteiro de John Julius Schwabach, o filme acompanha a jornada de luto de Dayo (David Oyelowo), um homem que perde tudo em uma tragédia inesperada.

O início do curta tenta estabelecer o máximo possível de conexão com Dayo e sua família, com algumas rápidas cenas ternas e fofas. Não chegamos a realmente criar um vínculo com os personagens, mas há um toque de compaixão que agarra o espectador a se emocionar pelo evento trágico que dita a segunda parte da fita. Misan inclusive imprime um tom intenso nos minutos iniciais da obra, o que torna o fatídico dia mais agudo e menos abrupto da percepção da audiência, por mais que uma estética meio “comercial de carro” atrapalhe a imersão narrativa.

A partir de tal evento, o curta muda de figura, colocando o luto como o centro das atenções e adotando uma condução mais vagarosa, contemplativa e melancólica através da dor imensurável de Dayo, com destaque para a atuação tocante de Oyelowo. Em alguns momentos, o roteiro e a direção são um pouco apelativos e sentimentalistas em sua óbvia intenção de provocar choro na audiência, mas de maneira geral há um trabalho superficialmente bonito na vulnerabilidade e perdição do protagonista, algo que também é facilmente identificável por se tratar de um tema universal que rapidamente puxa as dores e traumas do próprio público.

É curioso como o filme se assume como uma visão passiva por parte do personagem, que se torna um motorista de uber e começa a caminhar estoicamente pelos problemas e felicidades de seus passageiros, praticamente vivendo indiretamente pelos rápidos acontecimentos que escuta por alto e assiste de canto de olho das pessoas no banco de trás. É difícil extrair substância de tais momentos, porque não existe uma perspectiva realmente delineada pela narrativa ou algum tipo de construção dramática que traga interpretações ou lições de vida para além de estarmos vendo um fantasma observador dirigindo em meio à sua angústia.

É difícil não se emocionar, porém, por mais sentimentalmente induzido que a produção seja. O desfecho em particular é extremamente comovente e relacionável, se não diria pessimista ao tentar responder a pergunta do título português e representar o cenário do título inglês, sobre um momento que parece um mar de ceticismo e tristeza. A explosão emocional de Dayo é ao mesmo tempo um baixo choro eterno e um grito de dor incontrolado, como infelizmente muitos de nós entendemos. O final é abrupto, mesmo para um curta-metragem, mas encapsula a sensação geral do filme: um homem quebrado, sem saber para onde ir e como seguir.

E Depois? (The After) — Reino Unido, 2023
Direção: Misan Harriman
Roteiro: John Julius Schwabach
Elenco: David Oyelowo, Jessica Plummer, Sule Rimi, Izuka Hoyle, Amelie Dokubo, Ellen Francis
Duração: 18 min.

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