Obs: Leia a crítica da saga aqui e dos demais tie-ins aqui.
O que são os tie-ins: Em Guerras Secretas, saga de 2015, o Doutor Destino – agora Deus Destino – recriou o mundo ou, como agora é conhecido, Mundo Bélico, a seu bel-prazer, dividindo-o em baronatos, cada um normalmente refletindo de alguma forma um evento ou uma saga passada da Marvel Comics. Com isso, a editora, que, durante o evento, cancelou suas edições regulares, trabalhou como minisséries – algumas mais auto-contidas que as outras – que davam novo enfoque à situação anterior já conhecida dos leitores, efetivamente criando uma saga formada de mini-sagas, com resultado bastante satisfatório, muitas vezes até superior do que as nove edições que formam o coração de Guerra Secretas.
Crítica
E de Extinção foi o ansiosamente aguardado primeiro arco de Grant Morrison à frente dos X-Men, que trouxe reformulações profundas aos mutantes, além de introduzir a vilã Cassandra Nova que só poderia mesmo ser fruto da mente de Morrison: a irmã perdida de Charles Xavier que batalhou psiquicamente com ele ainda na barriga de sua mãe e que conseguiu “escapar” por meio de um aborto parcial. Morrison não só escreveu um run memorável dos X-Men, como oficialmente canonizou e explicou as mutações secundárias, alterou radicalmente o visual do Fera, que ganhou uma versão mais “animal” e mexeu com os uniformes dos mutantes, trazendo-os para algo mais próximo do prático, de certa forma emulando o filme de Bryan Singer (cortesia de Frank Quitely).
Publicado nos três números iniciais de Novos X-Men (#114 a #116, pois a Marvel manteve a numeração, apesar de mudar o título da publicação principal dos mutantes), E de Extinção lidava com a ascensão de Cassandra Nova, sua manipulação dos Sentinelas para dizimar os mutantes de Genosha e a tentativa de tomar o corpo de Charles Xavier, em um arco cujas consequências continuariam por diversos números seguintes. E é por isso que é tão difícil classificar exatamente o que é essa nova releitura do arco, escrita por Chris Burnham e Dennis Culver.
Partindo da premissa que Charles Xavier se matou para evitar que Cassandra Nova tomasse seu corpo, os escritores desenvolvem uma história que contém praticamente todos os elementos do arco original, mas de forma “embaralhada” e com um pulo temporal de 10 anos. Quem leu o arco reconhecerá os elementos principais, mas a história que a dupla conta não é nem necessariamente um “o que aconteceria se…”, nem uma reimaginação do arco. Talvez seja mais honesto dizer que é uma minissérie “inspirada” pelos eventos de E de Extinção, mas que carrega e cria uma mitologia própria. Sim, as mutações secundárias estão lá e sim, Cassandra Nova é parte importante da história, ainda que não tenha presença constante, mas o mote é a manipulação da Força Fênix por um idoso magneto para quase eliminar os poderes dos X-Men clássicos (aqui apenas Cíclope, Emma Frost e Wolverine) e manter controle sobre sua bem-sucedida escola de mutantes em um mundo cujos humanos, muito diferente de terem preconceito, querem filhos mutantes e fazem de tudo para consegui-los, inclusive se consultando com o Fera para que ele localize o Gene X e fecunde óvulos com ele.
Mas é interessante ver um Cíclope de meia idade tendo que lidar com suas patéticas rajadas óticas que precisam ser recarregadas por dias após um mero disparo ou um Wolverine tendo que se virar com um fator de cura lento e quase que completamente inútil. Os dois e mais Frost liberam Xorn de uma prisão e, usando os poderes psíquicos desse poderoso mutante, partem para enfrentar Magneto e libertar Jean Grey, que está dentro do “ovo da Fênix”.
O roteiro de Burnham e Culver, porém, tem muito mais do que isso e simplesmente não há espaço para qualquer desenvolvimento apropriado, o que os obriga a tomar atalhos que tornam a narrativa confusa e repleta de saltos lógicos e narrativos que exigem que o leitor preenchas as lacunas deixadas. O conflito entre os X-Men e Magneto e sua escola toma grande parte das edições e os autores ainda expandem a narrativa trazendo diversas versões do Fera espalhadas pelo Mundo Bélico de forma quase que completamente aleatória sem se preocupar com fluidez. E isso sem se furtar de incluir Cassandra Nova nos minutos finais em mais uma reviravolta que por si só mereceria outra minissérie.
Muito claramente os roteiristas quiseram criar uma versão “veloz e furiosa” dos arcos de Morrison, mas sem trabalhar de forma lógica sua história. Para quem já leu as histórias clássicas, acompanhar não será um problema, mas para leitores de primeira viagem, a minissérie provavelmente parecerá um furacão de ideias jogadas no liquidificador.
No entanto, apesar dos problemas de roteiro, a arte de Ramon Villalobos é belíssima. De certa forma, ele tenta emular o estilo de Quitely, mas sem deixar de imprimir seu próprio estilo que não é simpático a corpos torneados e posições heroicas. A geriatria dos heróis chega a ser constrangedora, mas perfeitamente apropriada para a história. Além disso, ele desenha splash pages poderosas, não necessariamente pela ação, mas pelo impacto causado na progressão da história, o que ajuda, mas não resolve os problemas de roteiro.
A nova versão de E de Extinção é um híbrido interessante que desafia classificações e se vale de “jogo sujo” para avançar a narrativa claudicante. Provavelmente funcionará mais para quem já leu os arcos de Morrison, mas, mesmo assim, acaba divertindo.
E de Extinção (E Is For Extinction, EUA – 2015)
Contendo: E Is For Extinction (2015) #1 a #4
Roteiro: Chris Burnham, Dennis Culver
Arte: Ramon Villalobos
Cores: Ian Herring
Letras: Clayton Cowles
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: agosto a novembro de 2015
Editora no Brasil: Panini Comics
Data de publicação no Brasil: setembro de 2016 (encadernado – Guerras Secretas: X-Men #3)
Páginas: 100