Home QuadrinhosOne-Shot Crítica | Dylan Dog – Vol. 13: Eles Estão Entre Nós

Crítica | Dylan Dog – Vol. 13: Eles Estão Entre Nós

Uma comunidade vampírica diferente...

por Luiz Santiago
146 views

Não é de hoje que teorias (da conspiração?) falam a respeito de seres de outro mundo ou de criaturas das mais diversas proveniências habitando entre os seres humanos. O cinema, a literatura e até mesmo os quadrinhos já brincaram muito com isso, sempre gerando interessantes reflexões a respeito da convivência entre diferentes e, em que aspecto esse “diferente” se encaixa. Trata-se de um “diferente” cuja existência não ameaça a existência de mais ninguém ou trata-se de um grupo que, para sobreviver, precisa ferir, matar outras pessoas? Notem que a reflexão imediatamente passa do campo simbólico e fictício para um campo social e político, podendo ser expandida para os mais diversos setores. É por isso que histórias de “comunidades escondidas” na ficção sempre me pareceram maravilhosas de se acompanhar. E Eles Estão Entre Nós, a décima terceira aventura de Dylan Dog, é uma dessas histórias.

A trama começa com uma visita de Dylan e uma amiga ao zoológico. O roteiro de Tiziano Sclavi e Giuseppe Ferrandino faz com que esse encontro seja muito importante para a aventura, mas o leitor ainda não sabe disso. Aparentemente é apenas um momento onde Dylan é comunicado do comportamento estranho do marido dessa sua amiga e promete investigar o caso, mas não o faz da maneira como deveria. É por causa dele, na verdade, que a trama escala mais rapidamente para situações intensas, onde descobrimos um tipo muito diferente de vampiro vivendo em plena sociedade londrina, em outubro de 1987: pessoas com “máscaras-rosto”, algo similar ao que os Slitheen de Doctor Who usavam, mas em vez de ser uma “vestimenta humana” para o corpo inteiro, é apenas uma cobertura para cobrir a desfigurada face desses sugadores de sangue.

A preparação para a entrada dos vampiros acontece de modo metalinguístico, com a citação de Vampires Fly at Dusk!, trama publicada na Creepy #74, com texto de Archie Goodwin e arte de Reed Crandall. Desse ponto em diante o leitor passa a desconfiar de algumas pessoas, passa a desconfiar de algumas falas e tenta encontrar pistas a respeito dos possíveis transformados. O que os autores fazem aqui, porém, é brincar com a percepção do público: quem é o monstro e quem é a vítima nessa história? Gosto muito de como essa percepção é invertida no meio e, principalmente, no fim do volume, visitando aquele elemento crítico que citei no início do texto: afinal de contas, para esses indivíduos viverem em nossa sociedade, é necessário matar? Eles conseguem viver, com essa condição, sem precisar fazer mal a ninguém? Aliás, qual é o limite do “mal”, aqui? Comercializar bolsas de sangue de hospitais entra nessa categoria?

Tem um momento da arte de Claudio Villa que me fez rir tremendamente, e o problema disso é que não se trata de uma cena para dar risada. Por mais boa vontade que a gente tenha com esse tipo diferente de terror, por mais aproximação que a gente faça com o giallo e, conhecendo o gênero, saibamos que a estilização das mortes é mais importante que as probabilidades da morte em si, tem coisas que simplesmente não descem. E aqui me refiro à cena em que Dylan empurra uma vampira com os pés e ela passa certinho pelo fio de uma espada parcialmente fincada na parede. Olha… sinceramente não dá para engolir. A única forma dessa cena ser aceitável é se fosse feita uma afirmação antes, a respeito do “corte mágico e impecável” dessa tal espada. Assim, a gente entenderia que é uma espada diferente, capaz de cortar qualquer coisa sem muito esforço. Mas decepar uma cabeça da forma como foi feita aqui, sem mais nem menos? De jeito nenhum!

O final de Eles Estão Entre Nós é um daqueles típicos finais de algumas histórias de Dylan Dog onde o leitor aprende a lidar com a sociedade habitada ou marcada por um tipo muito específico de mudança sobrenatural. Fico só imaginando a cara de Dylan se um dia descobrisse quem estava por trás daquela carinha bonita da mulher que ele estava pegando — nota: filha da amiga dele que acabou sendo morta em uma luta, no clímax da aventura. Se demorar muito tempo, é capaz de Groucho, com suas piadinhas (aliás, ele está hilário aqui!) acabar descobrindo acidentalmente, não é? Quem sabe?

Dylan Dog – Vol. 13: Eles Estão Entre Nós (Vivono Tra Noi) — Itália, outubro de 1987
Sergio Bonelli Editore

Roteiro: Tiziano Sclavi, Giuseppe Ferrandino
Arte: Gustavo Trigo
Capa: Claudio Villa
No Brasil: Editora Mythos (novembro de 2004)
100 páginas

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais