Número de temporadas: 01
Número de episódios: 1
Período de exibição: 17 de maio de 2017
Há continuação ou reboot?: Não.
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DYLAN é um projeto de origem alemã que propõe adaptar para a televisão o icônico personagem de Tiziano Sclavi e Angelo Stano criado para a Sergio Bonelli Editore em 1986. Concebido por Kevin Kopacka, este episódio piloto traz todos os elementos centrais que conhecemos das aventuras de Dylan Dog, mas que por questões de direitos autorais, precisou de uma porção de modificações, de coisas que vão do nome do protagonista (apelidado de Dylan Dawn) até mudanças que dão mais a cara do criador e fazem valer a sua identidade artística.
O episódio já começa com uma engraçada e marcante cena que quebra a quarta parede numa dimensão bem diferente. Nela, vemos o verdadeiro Dylan Dog e o verdadeiro Groucho conversando sobre essa adaptação feita em alemão e comentando os “absurdos” das mudanças ocorridas. É uma forma inteligente e bem humorada de o criador chamar a atenção do público obtuso para um fato simples, mas que constantemente é motivo de debates inúteis com indivíduos que não entendem o que é uma adaptação em arte, e que esta palavra não tem nada a ver com transliteração. São coisas completamente diferentes. Uma boa adaptação tem uma única obrigação: manter a essência do original. O restante, se fizer sentido para a proposta do artista em sua maneira de passar a obra de uma mídia para outra, pode ser completamente transformado.
Dream of the Living Dead é o primeiro capítulo dessa série, que se preocupa em apresentar Dylan Dog para o público e que depois passa a brincar com os eventos da primeira aventura do personagem nas HQs, O Despertar dos Mortos-Vivos. O roteiro, coescrito pelo criador do show (em parceria com Alexander Bakshaev), vai destacar uma mulher chamada Morgana Stano (Denise Owono), que tem vívidos pesadelos envolvendo o seu esposo Corrado (Alberto Finadri) e por isso vai procurar o Detetive do Pesadelo para entender o que se passa. As cenas iniciais do episódio são muitíssimo atmosféricas, criam um ambiente perfeito de terror e trazem elementos técnicos muito bem cuidados, como direção de fotografia, figurinos, direção de arte, montagem e trilha sonora aplaudíveis, que não caem um único momento de qualidade ao longo de toda a obra.
Mesmo que as primeiras cenas não digam muito e que sejam um tanto confusas, o espectador entende que o roteiro está jogando sementes narrativas, procurando trazer personagens à cena e mostrar um pouco de cada um. Infelizmente essa abordagem diluída não é apenas uma estratégia de apresentação dinâmica e intensa do episódio. Todo o roteiro é escrito pulando entre a dimensão da realidade e a dimensão dos sonhos, cabendo entre essas duas alguma (ou algumas outras, dependendo da interpretação) linha narrativa que pode ser imaginação, delírio ou reais acontecimentos numa realidade que não conseguimos precisar. Esse tipo de alteração de temporalidades e de realidades não é um problema em si. Embora não esteja no primeiro volume de Dylan Dog (que é uma história de zumbis, onde se apresenta um dos vilões icônicos do herói, o terrível Xabaras), será algo muitíssimo marcante das aventuras dele, então entendemos o que os autores quiseram fazer com isso.
Todavia, pesam demais a mão na quantidade de dimensões em cena. É absolutamente desnecessário criar tanta camada em um episódio introdutório, especialmente quando falamos de uma realidade com um protagonista tão carismático e tão rico quanto Dylan Dog. Assim, a história avança de bloco em bloco com sérios problemas de organicidade, terminando de forma pungente, mas confusa. E o que também não ajuda é a maneira como os diálogos para os protagonistas foram escritos, começando pelo pior deles, o chatíssimo Bang (Bang Viet Pham). Quando foi anunciado, logo no início, que Groucho seria interpretado por um asiático, eu já sabia que seria “outro personagem“, mas que (lembram da única regrinha da boa adaptação?) manteria a essência do companheiro de aventuras de Dylan. Infelizmente isso não acontece. Bang tem uma quantidade muito grande e muito caótica de falas, atrapalha uma porção de cenas importantes e mais do que qualquer outro personagem, sofre com a falta de timing do texto, tornando-o chato e inconveniente de um modo negativo — e destaco esse “de modo negativo” porque Groucho é propositalmente escrito para ser “chato e inconveniente“, mas com um equilíbrio entre o humor e a presença do personagem em cena para não deixá-lo insuportável, como acontece com Bang nesse episódio.
Já o Sr. Dawn é interpretado por Ford Everett, que traz algumas coisas interessantes para o personagem, mas parece jovial demais e até romântico demais para carregar o peso que o verdadeiro Dylan deve ser. Este, aliás, é um personagem difícil de se escalar e de um ator construir bem. Dylan é um homem que demanda respeito à primeira vista, mas não é autoritário em relação a isso. É alguém muito simpático, mas não bobo. Demonstra grande companheirismo e sentimentos em relação a algumas pessoas, mas não ultrapassa a linha do melodramático. Ou seja, é um personagem muito exigente na dramaturgia, e o jovem ator Ford Everett não consegue captar todas essas nuances, o que acaba enfraquecendo a presença normalmente impactante do detetive.
Dream of the Living Dead é um episódio que acerta no clima das histórias do Detetive do Pesadelo e que pincela, aqui e ali, coisas reconhecíveis dos quadrinhos. Até algumas mudanças são inicialmente interessantes. O problema é que o roteiro não cria diálogos que sejam notáveis (na verdade, eles se atropelam e não possuem ritmo, especialmente na comédia); que o elenco não esteja segurando o peso das cenas e que haja uma confusão muito grande na construção do enredo, a ponto de o espectador se perguntar onde o episódio quer chegar. Contudo, é uma produção aplaudível em termos técnicos, e merece destaque por ter sido feita com poucos recursos. Um piloto de série com um bom caminho andado e muito para melhorar, servindo ao menos como um flerte parcialmente interessante com esse fascinante Universo dos macabros mistérios de Dylan Dog.
DYLAN – 1X01: Dream of the Living Dead (Alemanha, 17 de maio de 2017)
Desenvolvimento: Kevin Kopacka
Direção: Kevin Kopacka
Roteiro: Kevin Kopacka, Alexander Bakshaev (baseado nos quadrinhos de Tiziano Sclavi)
Elenco: Ford Everett, Denise Ankel, Bang Viet Pham, Harry Baer, Thilo Stracke, Philipp Jablonski, H.K DeWitt, Alberto Finadri
Duração: 35 min.