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Crítica | Dupla Jornada

Vampiros contorcionistas.

por Ritter Fan
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J.J. Perry é um coordenador de dublês que foi alçado ao posto de diretor em Dupla Jornada, um filme que é uma sucessão interminável de combates variados entre humanos e vampiros em San Fernando Valley, na Califórnia, que faz extenso uso de uma equipe competente de dublês se contorcendo (ele contratou mesmo contorcionistas profissionais), pulando, caindo, explodindo, levando tiros, dirigindo e tudo mais que se pode imaginar em uma obra cuja proposta é ser única e exclusivamente isso mesmo. Claro, tem um fiapo de história por trás que pode ser resumido a algo como caçador de vampiros precisa de dinheiro para impedir que sua ex-esposa e filha se mudem para Miami e acaba enfrentando uma vampira chefe que deseja fazer o que vilões caricatos fazem: dominar o mundo. Pronto.

Jamie Foxx, que ultimamente tem usado a “estratégia Nicolas Cage” para escolher novos projetos, é Bud Jablonski, o caçador de vampiro em questão que, para conseguir a quantia que precisa, tem que retornar ao sindicato de sua classe com a ajuda de Big John (Snoop Dogg), o que acaba fazendo com que ele seja obrigado a levar junto com ele Seth (Dave Franco), que nada mais é do que um almofadinha que faz trabalho burocrático, para ser o “espião” do líder sindical que quer detectar toda e qualquer infração de Bud. Começa, então, aquela relação padrão entre veterano que sabe tudo e desobedece todas as regras com o novato que segue o manual e não sabe sequer manejar uma arma. Do lado vilanesco, a final boss é Audrey San Fernando (Karla Souza), que não poderia ser mais genérica em sua ambição de colocar os vampiros no topo da cadeia alimentar e em sua missão de vingança contra Bud.

Mas, como disse logo no começo, o que realmente importa em Dupla Jornada é a pancadaria. O resto é o resto, inclusive as fracas atuações. E, nesse departamento, diria que o filme consegue ser acima da média, ainda que isso não o salve de, no geral, não passar de apenas mediano. Há um cuidado muito grande por parte do diretor e da equipe de coreografia em fazer de tudo para manter as lutas variadas e divertidas, algo que já fica evidente quando Bud precisa enfrentar uma particularmente resistente vampira idosa em uma casa típica da região. O que vemos é intenso, violento, acrobático e com um trabalho prático de cabelo e maquiagem que consegue dar o tom para a adversária do caçador, mas tudo isso sem perder a pegada cômica relaxada que perpassa todo o longa. E, com o clima devidamente estabelecido por esse começo movimentado, o que segue é mais do mesmo, só que de maneiras diferentes e continuamente divertidas, com muito uso de efeitos práticos, o que sem dúvida é um bônus, especialmente quando Bud e Seth fazem dupla com irmãos caçadores vividos por Steve Howey e Scott Adkins ou quando Big John reaparece ao final com a simpática e delicada arma que lhe valeu sua reputação.

Sempre estou preparado para relevar muita coisa em filmes feitos para serem idiotas como este aqui, mas uma coisa tem acontecido com bastante frequência e que vem cada vez me irritando mais: a incapacidade da direção saber quando parar. É sério que Perry quer me convencer que eram mesmo necessários 113 minutos para contar uma história tão banal como a escrita por Tyler Tice e Shay Hatten? Aliás, “contar uma história” é bondade minha, pois não há muita coisa que caia nessa categoria. Os personagens são, todos eles, unidimensionais, sem um pingo de profundidade, sem nenhuma tentativa de fazê-los sair de seus arquétipos básicos. Ah, mas isso não interessa em um filme desse tipo, alguns dirão… Bem, pode não interessar para determinadas pessoas, mas é justamente por isso que Dupla Jornada acaba sendo o que é, uma besteirada que se apoia exclusivamente em lutas originais e divertidas, mas que não oferece absolutamente mais nada para o espectador. Se o básico satisfizer, ótimo. Mas o básico continuará sendo apenas o básico e ele piora ainda mais se ele precisa de quase duas horas para fazer o que precisa fazer…

Dupla Jornada é um filme que eu queria ter gostado muito, especialmente depois da primeira e ótima luta vampiresca, mas que, no final das contas, não soube oferecer mais do que isso multiplicado por 20 ou algo assim. Continua sendo um passatempo simpático, claro, mas, a partir do ponto em que o tempo começa a não passar e olhamos para o relógio, o longa acaba se sabotando e caindo em todas as armadilhas básicas do gênero.

Dupla Jornada (Day Shift – EUA, 12 de agosto de 2022)
Direção: J.J. Perry
Roteiro: Tyler Tice, Shay Hatten (baseado em história de Tyler Tice)
Elenco: Jamie Foxx, Dave Franco, Snoop Dogg, Natasha Liu Bordizzo, Meagan Good, Karla Souza, Steve Howey, Scott Adkins, Oliver Masucci, Eric Lange, Peter Stormare, Zion Broadnax
Duração: 113 min.

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