Dois atores famosos, ação com comédia, buddy cop, entre outras convenções de filmes explosivos que servem como desculpa para parear super estrelas hollywoodianas são os alicerces do previsível Dupla Explosiva. A premissa do filme gira em torno de um guarda-costas (Ryan Reynolds) que precisa proteger o assassino Darius Kincaid (Samuel L. Jackson), para que o mesmo possa depor contra o ex-ditador bielorruso Vladislav Dukhovich (Gary Oldman), já que o hitman é o único com provas concretas dos crimes do déspota. O grande conflito do mote: fazer com que Kincaid chegue vivo ao julgamento para testemunhar.
A ideia de criar um filme buddy entre um guarda-costas protegendo um assassino é, honestamente, bastante interessante. O roteiro de Tom O’Connor baseia o humor de antagonismo dos protagonistas de acordo com suas diferenças de personalidade resultantes das duas linhas de profissão opostas; proteger vs destruir. O personagem de Ryan Reynolds é certinho e metódico, enquanto Kincaid é puro caos e violência. A premissa básica se mantém pouco desenvolvida ao longo da narrativa extremamente previsível, mas conscientemente abraça o carisma e persona dos seus intérpretes principais.
A grande força do filme está na dinâmica de alfinetadas cômicas da dupla. Ryan é sarcástico e autodepreciativo, entendendo muito bem seu papel contido e submisso a um divertidíssimo profano e berrador Samuel L. Jackson, a personificação do “motherfucker“. Infelizmente, o texto de O’Connor não se aproveita da boa química dos atores para além da superficialidade de boas doses de humor e algumas filosofias de boteco sobre amor e vida. Diferentemente de um Máquina Mortífera, ou até Kingsman: Serviço Secreto, outro filme que se diverte dentro dos parâmetros do gênero, ainda que mais puxado para o 007, Dupla Explosiva cria um maçante exercício unidimensional de duas caricaturas rasas que servem apenas para rir.
Felizmente, os atores realmente são divertidos. Ainda que seja bastante incômodo o quão comum é o desenrolar de seus relacionamentos, assim como o fiapo de história não ganhar qualquer camada de dramaturgia – e a obra desesperadamente tenta fazer isso nas deslocadas cenas de violência exacerbada, como o assassinato de inocentes -, o grande problema do filme é gerado pela repetição causada por essa falta de profundidade. É um filme construído em sequências, e não narrativas. Contudo, como todas as sequências são cenas de ação similares, esquetes de rivalidade cômica ou então os dois elementos juntos, a obra não se torna apenas uma experiência previsível, mas extremamente repetitiva e consequentemente cansativa.
É preciso dar mérito para a direção de Patrick Hughes, que se não é necessariamente inovadora, utiliza-se muito bem de espaços e cenários mundiais, além de equilibrar a abordagem cômica nos momentos de lutas e perseguições, mas toda a obra tem esse aspecto de recorrência. As piadas são as mesmas, os planos-sequência são iguais e o filme, que já era um conjunto apático de clichês, se esgota dentro de si mesmo com a duração extensa e a reprodução da mesmice. Dupla Explosiva consegue ser ligeiramente divertido por causa do carisma de seu elenco, mas até essa dinâmica acaba se tornando cansativa dentro da abordagem repetitiva. Alguns risos, umas bocejadas e uma experiência esquecível.
Dupla Explosiva (The Hitman’s Bodyguard) — EUA/ China/ Bulgaria/ Países Baixos, 2017
Direção: Patrick Hughes
Roteiro: Tom O’Connor
Elenco: Ryan Reynolds, Samuel L. Jackson, Gary Oldman, Elodie Yung, Roy Hill, Richard E. Grant, Rod Hallett, Yuri Kolokolnikov, Salma Hayek
Duração: 118 min.