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Crítica | Dunkirk (Trilha Sonora Original)

por Guilherme Coral
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estrelas 5,0

Separar qualquer filme de Christopher Nolan de sua trilha sonora original significaria destituir da obra um de seus elementos principais. A música em seus filmes desempenha um papel vital à narrativa e, não por acaso, o realizador, em geral, elabora o roteiro já em contato com o compositor responsável pela trilha do longa-metragem, com a imagem e som caminhando de mãos dadas para formar uma mistura homogênea, dois pilares os quais sustentam a obra de maneira equivalente. Dunkirk não é exceção, mas o que vemos, ou melhor, ouvimos aqui é algo ainda mais essencial para estabelecer a narrativa do longa, trata-se não de uma trilha meramente atmosférica, mas que se configura como um dos mais marcantes personagens da obra.

Ainda na etapa de elaboração do roteiro, Nolan enviou uma gravação de seu relógio de bolso para Hans Zimmer, a fim de que esse sintetizasse a percussão do objeto nas melodias. Desde já podemos enxergar como a música em Dunkirk dialoga perfeitamente com o seu enredo. Estamos falando de um filme que se divide em três arcos em tempos distintos – o som do ponteiro, portanto já se justifica por esse aspecto. O motivo por trás disso, contudo, vai além: cada um desses três focos se estabelece como uma corrida contra o tempo. Os soldados em Dunquerque precisam evacuar antes que sejam dizimados pelas forças inimigas; o capitão do barco civil precisa chegar à tempo na praia; o piloto deve fazer o máximo que pode antes de seu combustível acabar.

Não por acaso, portanto, Zimmer inicia o seu álbum com a percussão do relógio em The Mole, faixa inicial, esta, a qual capta o aspecto fantasmagórico de Dunquerque logo no princípio do longa-metragem, transmitindo um ar de desolação, até esse ser substituído pela tensão das cordas, compostas principalmente por violoncelos e contrabaixos, utilizando a Escala de Shepard para nos angustiar, incomodar com a ilusão de tons crescentes e decrescentes, quando, de fato, esses se mantém na mesma faixa sonora. Tal recurso pode ser escutado claramente em Supermarine, certamente uma das faixas mais impactantes da obra, demonstrando a bela fusão entre música e efeitos sonoros, algo que tão bem define o álbum como um todo. Vale lembrar que essa não é a primeira vez que tal escala aparece em um filme de Nolan, já tendo sido utilizada na trilha de O Grande Truque.

Além de passar a sensação de desconforto, Zimmer faz uso dessa técnica para criar diálogos entre a diegese e a não-diegese de suas músicas, algo que pode ser escutado em The Tide, que espelha o som e ritmo de ondas na ilusão de tons crescentes e decrescentes. Sentimo-nos, efetivamente como se esperássemos a maré subir, com as ondas lentamente indo e vindo, nos imergindo completamente na narrativa da obra, ao ponto que nos situamos ao lado dos soldados dentro do navio encalhado. Essa é uma das músicas que nos faz perceber o quanto conseguimos reviver todo o filme somente escutando sua trilha, demonstrando todo o poder da composição.

Outro elemento importante a ser notado na trilha é a utilização do som do motor de barcos, entregue a Zimmer pelo designer de som, Richard King. Inclusive, o motor fora utilizado como medida para o ritmo das músicas. Em inúmeras faixas podemos escutar o som dos motores com bastante clareza, o que estabelece em nosso subconsciente a expectativa de vermos tais barcos chegando nas praias de Dunquerque. Chega a ser assustador observar todos esses elementos trabalhando em harmonia nas músicas Home, composta por Benjamin Wallfisch, que quebra a tensão da percussão e cordas em tons graves com a variação de Nimrod, de Edward Elgar, representando perfeitamente a esperança tão esperada pelos soldados em Dunquerque e The Oil, que claramente marca o clímax da obra com a angustiante fusão de praticamente todos os temas anteriores.

Assim como Christopher Nolan nos entregou sua obra-prima com Dunkirk, Hans Zimmer nos presenteia com a sua própria na forma da trilha do filme. Trata-se de um trabalho essencial para que o longa-metragem se torne pleno, se configurando como a perfeita fusão de música e efeitos sonoros, todos não apenas ajudando a compor a atmosfera da obra, mas dialogando com o roteiro de tal forma que a música nos ajuda a contar essa história de sobrevivência.

Dunkirk (Trilha Sonora Original)
Compositor:
Hans Zimmer, com faixas adicionais de Lorne Balfe e Benjamin Wallfisch
País: Estados Unidos
Lançamento: 21 de julho de 2017
Gravadora: WaterTower Music
Estilo: Trilha sonora

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