Depois do ruim Duna: Casa Atreides, de 2021, Brian Herbert e Kevin J. Anderson voltam a revisitar sua Trilogia Prelúdio literária através da mídia dos quadrinhos em preparação para a sequência cinematográfica com a Casa Harkonnen. Novamente, porém, os autores falham em explorar algo minimamente interessante para a expansão do fantástico universo de Duna, trazendo uma minissérie de 12 edições que basicamente translitera o livro homônimo sem muitas diferenças ou adaptações que o façam ser realmente único ou interessante. Infelizmente, essa é uma sina de prelúdios que envolvam lançamentos cinematográficos, em uma reciclagem safada e marketeira da editora BOOM! Studios.
Como o nome da minissérie indica, estamos diante de uma obra que explora o passado trágico e cruel que envolve os atos do Barão Harkonnen e seus parceiros maléficos, como o terrível Rabban. Assim como no livro, a ideia é retratar as histórias de origem de vários personagens famosos da série literária original, como Leto Atreides, Gurney Halleck, Duncan Idaho, Lady Jessica, entre outros, passando pelo tom de hediondo dos harkonnens. Em linhas gerais, é uma narrativa de curiosidades e backstories rápidos, dando contexto sem muitas modificações para o evento do trabalho de Frank Herbert.
Em determinadas obras, penso que Brian e Kevin encontram diversão na abordagem meio fanfiction, mais descompromissada e bobinha, mas isso não acontece aqui. Fazia tempo que não lia um quadrinho tão desconjuntado e confuso, com interconexões uma em cima da outra, sem espaçamento entre os núcleos da história e uma total falta direcionamento dramático. Em diversas edições, temos literalmente momentos em que cada bloco dura uma página, em transições abruptas e sem fluidez de leitura. O negócio fica tão desordenado que mesmo eu, que conheço o material de origem, fiquei perdido, quem dirá de um leitor de primeira viagem que não conhece esses personagens.
Existem momentos pontuais na obra que são superficialmente interessantes, como a traição de Kailea, a trajetória angustiante de Gurney e as divertidas provações aventureiras de Duncan, mas é tudo muito efêmero frente a um ordenamento narrativo que não introduz nada, tampouco faz construções de tramas e arcos que façam sentido, quem dirá que sejam impactantes. Inclusive, o pouco que apreciei na obra me parece que vem mais do carinho que já tenho por determinadas figuras do que realmente algo criado aqui.
Assim como em Casa Atreides, Brian Herbert e Kevin J. Anderson mostram muito e não contam nada, com o agravante de criarem uma compressão literária extensa em 12 edições desconjuntadas e extremamente confusas de acompanhar, principalmente para aqueles sem contato prévio com o material de Duna. A arte de Michael Shelfer é um dos poucos destaques, com um trabalho multicolorido que se diferencia dependendo do ambiente e do núcleo que estamos acompanhando, sempre com grandes designs sci-fis e muitos detalhes que preenchem a vasta riqueza deste universo. É uma pena que a forma de se contar uma história atrapalha a diagramação do artista, rendido a curtas páginas cheias de informações e falta de continuidade. Há quem reclame dos livros de Brian Herbert e Kevin J. Anderson, mas essa duplinha realmente deveria mesmo é ficar longe dos quadrinhos…
Duna: Casa Harkonnen (Dune: House Harkonnen) – EUA, 2023
Roteiro: Brian Herbert, Kevin J. Anderson (baseado no livro Dune: House Harkonnen, dos mesmos autores)
Arte: Michael Shelfer
Editora: BOOM! Studios
Páginas: 362