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Crítica | Dreadstar #1 a 12

por Luiz Santiago
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A edição Omnibus Vol.1 de Dreadstar, contendo as edições de #1 a 12 (originalmente publicadas nos Estados Unidos entre novembro de 1982 e julho de 1984) chegou às prateleiras americanas há dois meses (07/2012), numa bela publicação realizada pela Dynamite.

Raramente uma história consegue ser tão bem ilustrada e escrita pela mesma pessoa como é Dreadstar, especialmente histórias de caráter épico, com uma gama enorme de acontecimentos para serem trabalhados e campos de ação e personagens para serem explorados. Todavia, Jim Starlin conseguiu dar corpo, identidade, força e abertura para muitas histórias futuras e realizar com excelência o início de sua saga sequencial nessas 12 primeiras edições de Dreadstar.

A história começa com um volume intitulado The Quest. Nele, temos a apresentação básica das primeiras personagens principais (Oedi, Vanth Dreadstar, Syzygy Darklock, Willow e o macaquinho Rainbow); as questões em torno da Galáxia Empírica e a guerra secular entre a Monarquia, representada pelo Rei Gregzor e a Instrumentalidade, representada pelo Lorde Papal.

O que inicialmente me chamou a atenção no roteiro foi a abertura para diversas áreas do conhecimento humano e a crítica realizada pelo autor às muitas instituições do nosso mundo atual. Sendo uma obra do início da década de 1980, Dreadstar nos traz uma enorme quantidade de indiretas e jogos de poder que víamos existir no momento em que foi escrito, onde o mundo via terminar o recrudescimento de Leonid Brejnev na URSS; olhava com espanto o socialista François Mitterrand assumir o governo da França; percebia a manipulação do próprio sistema capitalista realizado pela Primeira Ministra britânica Margaret Thatcher; além de presenciar dois atores assumirem o posto máximo de duas grandes instituições mundiais: Karol Wojtyla (João Paulo II), o pontificado da igreja católica e Ronald Reagan, a presidência dos Estados Unidos.

Além dessas relações históricas imediatas, Jim Starlin aborda com muita clareza os conflitos familiares e pessoais de seus heróis, inclusive dos vilões. O mais tocante de todos se dá no último tomo da edição, onde temos a emocionante história do Lorde Papal. Em nenhum tomo o autor deixa um lado da moeda sem ser citado ou posto como manipulador da história que está sendo contada. Bandidos e mocinhos possuem espaço nos quadros, e aos poucos, passamos a ter melhor conhecimento de cada um deles, suas motivações e passado e suas intenções para o futuro.

Ao passo que essas histórias pessoais e em conjunto vão sendo desenvolvidas, novas personagens são adicionadas à trama. Algumas, é claro, são imediatas, e têm o objetivo de dar continuidade ou agilizar a narração. Mas a maior parte delas são de importância orgânica para a trama, como é o caso de Skeevo, Tuetun, Z, e Dr. Delphi, só para citar alguns.

Com eventos cada vez mais devastadores, Jim Starlin não poupa o leitor de momentos realmente cruéis (como o da morte de Z, por exemplo) e jamais inocenta Dreadstar de seus atos, colocando qualquer ação, independente de qual lado ela venha, como necessária para se ganham uma batalha ou uma guerra. O ponto de crítica do autor vai sempre para a maior esfera, onde realmente está o problema. Ao invés de querer apagar o fogo soprando a fumaça, Starlin acusa a guerra ao apontar os seus horrores. Se os soldados cometem atrocidades, deve-se perceber que a motivação primordial é uma causa maior, logo, essa “causa maior” é a grande culpada pelo ato em si. Esse juízo pode incomodar alguns leitores, mas, apesar de ser bastante impessoal (como a personagem Syzygy Darklock), é o que realmente toca no centro da ferida.

Outra questão que fica bastante evidente é a constante mobilidade da história e movimentação das personagens que o autor trabalha. Tanto na arte quanto no texto há sempre um grande número de coisas acontecendo, seja no tempo presente, seja em flashbacks. O melhor é que essa quantidade de coisas não confundem o leitor, apenas chamam mais atenção para a leitura e dão à história uma constante aparência de aventura.

A arte de Jim Starlin é um atrativo à parte. Seu traço bastante firme e sua soberba arte-final completam a viagem do leitor para a Galáxia Empírica ou qualquer outra galáxia existente na história. A forte ligação com magia ou ultratecnologia dá aos desenhos uma aparência exótica, realmente muito bonita e com excelentes cores (assinada por Glynis Wein nos 7 primeiros tomos e por Daina Grazuinas ou Christie Scheele nos tomos seguintes). As explosões, passagens mentais e localizações em diversos pontos do Universo recebem total atenção do artista, bem como seus desenhos anatômicos. Cada espécie ou criatura recebe caracterizações especiais durante todos os quadros em que aparece. Até robôs e personagens coadjuvantes são cuidadosamente desenhados, não aparecendo como borrões escondidos, como encontramos facilmente hoje em dia.

Dreadstar – Omnibus Vol.1 é certamente uma das minhas melhores leituras deste ano, e essa saga de Jim Starlin já entrou para a minha lista de melhores quadrinhos já lidos. Para quem ainda não conhece, indico fervorosamente a saga. Tenho certeza absoluta de que os leitores não irão se decepcionar.

Dreadstar – Omnibus Vol.1 (Edições #1 a 12) — EUA, 2012
Editora:
Dynamite (Marvel Comics – selo Epic Comics)
Publicação original: novembro de 1982 e julho de 1984
Roteiro: Jim Starlin
Arte: Jim Starlin
376 páginas

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