Após o estabelecimento do ciclo de personagens clássicos monstruosos da Universal, temos o império da Hammer como outro circuito importante para a figura do vampiro na indústria cinematográfica do século XX, em especial, a representação das criaturas da noite por meio do legado e impacto cultural deixado de Drácula, a obra-prima do escrito irlandês Bram Stoker. Sob a direção de Terence Fisher, cineasta guiado pelo roteiro assinado por Jimmy Sangster e Anthony Hinds, os produtores do estúdio decidiram lançar Drácula: O Príncipe das Trevas, em 1966. Com uma proposta contratual fora do comum, o ator Christopher Lee topou participar da empreitada, mas por resistência aos trechos consideráveis em seu ponto de vista, questionáveis nos aspectos dramáticos, ele atuou sem falar uma palavra sequer, mudo do começo ao fim, presente apenas com suas expressões de monstro sanguinário e sedutor. É uma experiência curiosa, com momentos de intensidade, mas sem o mesmo encontrado em O Vampiro da Noite.
Os elementos estéticos, por sua vez, conseguem manter o mesmo padrão de qualidade para a época, bem como para seus orçamentos limitados. Este ponto, aliás, nunca foi um problema demasiadamente complicado para os realizadores da Hammer, nem mesmo nas continuações deste universo, cada vez mais absurdas, repetidas e sem energia. Com design de produção assinado por Bernard Robinson, os locais por onde os personagens atravessam continuam com a eficiente atmosfera gótica, dos cenários aos adereços da direção de arte. São espaços contemplados por uma direção de fotografia que também trabalha adequadamente, setor assumido por Michael Reed, assertivo na captação de imagens em constantes planos abertos, contemplativos dos ambientes naturais, detalhista nos pormenores dos locais fechados, além de empregar boa iluminação e apresentar ângulos satisfatórios para o clima em questão, lúgubre.
Com a condução sonora de James Bernard, responsável por uma quantidade considerável de texturas percussivas do universo envolvendo Drácula, o filme começa na região dos Montes Cárpatos, lugar onde o corpo de uma jovem é carregado para ser parte de um ritual funerário. A ideia não é apenas enterrar o cadáver, mas transpassar uma estaca no coração, tendo em vista aniquilar a possibilidade de retorno da figura para o mundo dos vivos, amaldiçoada pela presença do vampirismo tenebroso que assombra aquele pequeno e frio território geográfico. O evento deixa de acontecer como o planejado porque um padre chega e interrompe o processo, alegando que não havia mais a necessidade de realizar algo do tipo, afinal, Drácula (Lee) já tinha sido erradicado há uma década. Do lado de cá, nós já sabemos que não é bem assim.
Os mortos, neste tipo de narrativa, nunca morrem, apenas mudam de forma. A narrativa segue para a viagem de dois casais. O padre Shandor (Andrew Kier) chega e é taxativo: não se aproximem do castelo de Karlsbad. Mas, como já é de se esperar, Charles (Frank Matthews), Diana (Susan Farmer), Alan (Charles Tingwell) e Helen (Barbara Shelley) seguem pelo que já havia sido planejado, mesmo com outro conselho, dado desta vez pelo cocheiro que os deixa no meio do caminho. Uma carruagem vazia os encontra e os encaminham para o local em questão. Lá, o empregado Klover (Philip Lathom) os recepciona e oferta um jantar. Numa situação já esperada, um deles acaba ressuscitando Drácula ao se acidentar numa cripta e espalhar o sangue, elemento substancial para o vampiro. O que vem adiante é a luta pela sobrevivência de todos, com a chegada de Van Helsing (Peter Cushing) e a aniquilação temporária do vampiro.
Assim, a lenda é exterminada temporariamente, até o lançamento de Drácula: O Perfil do Diabo.
Drácula: O Príncipe das Trevas (Dracula: Prince of Darkness, Reino Unido – 1966)
Direção: Terence Fisher
Roteiro: Jimmy Sangster, Anthony Hinds
Elenco: Christopher Lee, Barbara Shelley, Andrew Keir, Francis Matthews, Suzan Farmer, Charles ‘Bud’ Tingwell, Thorley Walters, Philip Latham, Walter Brown, George Woodbridge, Jack Lambert, Philip Ray
Duração: 93 min.