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Crítica | Drácula: Ele Ainda Está Vivo

Uma adaptação com anacronia estranha, mas proposta deliciosamente divertida.

por Leonardo Campos
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Sabe aquele filme que todo mundo julga ruim e que as críticas especializadas, em sua maioria, são péssimas nas avaliações? Pronto. Drácula: Ele Ainda Está Vivo é um destes exemplares, considerado famigerado pela maioria, mas em meu ponto de vista, muito mais interessante e intrigante que produções dentro deste universo, dirigidas por nomes de peso. Assim, caro leitor, logo na abertura desta breve, mas creio que elucidativa reflexão, eu assumo o prazer culposo que foi contemplar um dos filmes mais abominados segundo a opinião alheia enquanto listava as narrativas cinematográficas inspiradas no universo criado pelo escritor irlandês Bram Stoker em Drácula, publicado em 1897. No livro definidor da mitologia vampírica, acompanhamos a jornada de Jonathan Harker ao castelo do icônico vampiro e, lá, aprisionado, precisa retomar para Londres, tendo em vista salvar a cidade do império de horror estabelecido pelo monstro.

Aqui, ao longo dos 86 minutos desta trama lançada em 2022, o diretor Maximilian Elfeldt, cineasta guiado pelo roteiro de Michael Karrati, adere ao que o campo da crítica chama de mockbusters, isto é, o surfe da indústria diante do lançamento de grandes proporções, realizado por estúdios de renome. Neste caso, Drácula: Ele Ainda Está Vivo segue o caminho pavimentado pelas expectativas em torno de Morbius, um fiasco de crítica e bilheteria que flerta com o tópico temático em questão. Logo em sua abertura, todos os clichês são acionados em prol do estabelecimento de um clima aterrorizante. As cordas da condução musical concebida pela dupla formada por Chris Rindehour e Chris Cano são intensas, os trovões estão assegurados para manutenção da atmosfera e o design de produção de Ivan Cirovic capricha nos símbolos em cena, num preâmbulo que nos remete aos padrões narrativos de um slasher tradicional.

Assim, temos logo nesta abertura, a aniquilação de uma vítima incauta, aplacada pelo vampiro enquanto caminhava pelas desertas ruas da cidade numa noite de lua cheia. O sexo, tópico temático também muito comum ao universo em questão, logo é colocado em cena, com gemidos e personagens desempenhando momentos de intenso prazer diante de sensuais lençóis vermelhos, uma cor bastante significativa para o filme, pois as vítimas desejáveis para o monstro são ruivas. Todos acreditam que haja um assassino em sério à solta, mas logo descobrirão que os seus pesadelos são piores que o imaginado. Em seu estranho anacronismo, já que mixa épocas distintas e nos faz contemplar uma simbiose entre abordagens clássicas e contemporâneas, o filme busca estabelecer um tom ousado ao colocar as suas protagonistas como um casal de lésbicas, profanando a estrutura clássica em prol da atualidade.

Assim, aqui temos Amelia Van Helsing (Christine Prouty) e Mina (India Lillie Davies) como o foco do vampiro que chega à região em busca de apoio para questões imobiliárias, quando na verdade as suas intenções vão além de habitação. Sua sanha vampírica fica ainda mais intensa depois de conhecer Mina, a agente imobiliária que acredita na realização de um grande negócio, quando na verdade se torna o alvo de Drácula, haja vista as suas características idêntica ao seu grande amor do passado. Neste processo, o filme foca na caça de Van Helsing ao criminoso por detrás das mortes envolvendo mulheres ruivas, numa narrativa que busca inserir debates como a perspectiva sensacionalista do jornalismo com o clássico mergulhado numa perspectiva policial.

Harker, aqui na posição de auxiliar da investigadora, ocupa o lugar de homem pesquisador, aquele que descobre a incidência no mal da região e batalha vertiginosamente para que todos acreditem que há uma criatura da noite sobrenatural a devastar as habitantes da região, com planos devidamente organizados para tomar a região para si e estabelecer o seu império de sanguinolência. Renfield (Stuart Packer) também dá as caras em Drácula: Ele Ainda Está Vivo, no papel do chefe da delegacia corrompido pelo vampiro. Temos também Dr. Seward (Michael Ironside), um dos coadjuvantes que derramará sangue para salvar o lugar dos impropérios do monstro, interpretado num tom bizarro, sensual, repulsivo, mas com tentativa de ser atraente, por Jake Herbert. Sem uma equilibrada autenticidade histórica, este é um filme que nem de longe é uma obra-prima, mas sinceramente, cumpre melhor a sua função de entretenimento que outras iniciativas fracassadas de ressuscitação do mais famoso vampiro da literatura e do cinema.

Drácula: Ele Ainda Está Vivo (Dracula: The Original Living Vampire, Estados Unidos – 2022)
Direção: Maximilian Elfeldt
Roteiro: Michael Varrati
Elenco: Christine Marsh Prouty, Jake Herbert, Ryan Harry Woodcock, Michael Ironside, India Davies, Stuart Packer, Ana Ilic
Duração: 86 min.

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