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Crítica | Drácula: A Última Viagem do Deméter

Uma nova empreitada para o vampiro mais icônico do cinema e da literatura.

por Leonardo Campos
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Romance de extenso legado e impacto cultural, Drácula, publicado pelo escritor irlandês Bram Stoker, em 1897, já rendeu numerosas traduções para o cinema. Algumas são deslumbrantes e conseguem emular bem o ponto de partida literário, entregando aos espectadores obras-primas. Outras ficam no meio termo, não sendo necessariamente espetaculares, mas rendem alguns bons momentos, mesmo sem se tornarem memoráveis. Noutros casos, o desastre é tão grandioso que o nosso maior medo é ter que assisti-las, detonando, assim, qualquer chance de ao menos ter breves instantes de entretenimento. Drácula: A Última Viagem do Deméter ocupa o segundo tipo. Não é abominável como muitas críticas apontaram, mas também não consegue entregar um espetáculo dramático inesquecível, mesmo com todo o potencial do capítulo O Diário do Capitão, parte integrante do romance em questão que serviu de inspiração para o filme.

Conforme depoimentos do diretor André Øvredal, a produção é uma espécie de Alien, O Oitavo Passageiro, em um navio de 1897. A analogia é interessante, mas nem de longe o filme consegue equilibrar a tensão e dar conta das limitações espaciais, da mesma maneira que Ridley Scott fez com a criatura alienígena responsável por estabelecer um arrepiante clima de horror durante uma missão espacial. Com um monstro que toma como base o Conde Orlok, icônico personagem do clássico Nosferatu, polêmica adaptação não autorizada do romance de Stoker, esta produção traz em seu preâmbulo a captação dos tripulantes no porto, antes da partida do navio que leva o nome de uma deusa da mitologia grega. Deméter tinha como missão proteger as colheitas, a agricultura, além de coisas importantes para a humanidade, como a saúde, o casamento e o nascimento.

Aqui, no entanto, não há nada que possa proteger os personagens que embarcam nesta empreitada de horror e morte. Nem elementos da simbologia cristã, como por exemplo, o crucifixo, consegue proteger os personagens com fé da ameaça nefasta de Drácula, criatura que em nenhum momento aparece em sua forma humana, mantendo a sua monstruosidade em cena ao longo dos extensos 118 minutos de narrativa, demasiadamente excessivos para uma história que funcionaria bem melhor e evitaria cair em algumas falhas se mantivesse a contenção e durasse um pouco menos. No romance, este capítulo com excelente atmosfera de horror delineia a travessia de Drácula para Londres, nos caixões que contém terra natal para a sua manutenção e o recinto no qual ele dorme enquanto faz o trajeto. Durante a noite, para quem já viu outras adaptações, o vampiro sai da zona de descanso para ceifar vidas e alimentar a sua sede de sangue, algo que culmina na chegada do navio sem tripulação no porto da cidade.

Com efeitos visuais impactantes, direção de fotografia que favorece o clima de suspense e trilha sonora repleta do habitual uso de jumpscare comum ao cinema contemporâneo, Drácula: A Última Viagem do Deméter radiografa em sua maior parte, a travessia dos personagens e o clima slasher ao passo que um a um, os envolvidos na viagem começar a morrer misteriosamente. Num determinado momento, alguns poucos sobreviventes se unificam para destruição da ameaça que não poupa nem a única criança que estava a bordo. O final, favorável ao vampiro, deixa a entender que haverá uma continuação, mas, se os realizadores do projeto se dedicarem a isso, a jornada será ainda mais genérica que este filme ponto de partida. Melhor manter como está.

Ademais, interessante observar que mesmo mantendo as liberdades de uma adaptação sem preocupações exatas diante do material literário clássico, a narrativa flerta com diversos elementos do livro, dentre eles, a relação de ceticismo do protagonista, um homem da ciência, sem apego aos fatos sobrenaturais que rondam a sua viagem, a transfusão de sangue como recurso para salvar um dos personagens dos males de uma infecção que sabemos ser o ataque do vampiro, mas na dinâmica interna, é ainda algo enfrentado como uma celeuma de saúde, dentre outras referência são universo do romance e também de suas adaptações para o cinema. Engajado, Drácula: A Última Viagem do Deméter carrega nas neblinas e sombras, mas sua condução falha em entregar algo além da pirotecnia típica do cinema de grandes orçamentos. Com um elenco dedicado, formado por nomes como Corey Hawkins, Aisling Franciosi, Liam Cunningham, David Dastmalchian, Chris Walley, temos por aqui uma produção que não pode ser definida como ruim, mas também não é inesquecível. Apenas entretenimento, daqueles que não marcam a gente, como outras leituras de Drácula, até hoje em nossa memória.

Drácula: A Última Viagem do Demeter (The Last Voyage of The Demeter, EUA – 2023)
Direção: André Øvredal
Roteiro: Olkewiczol, Bragi F. Schut (baseado em romance de Bram Stoker)
Elenco: Corey Hawkins, Aisling Franciosi, Liam Cunningham, David Dastmalchian, Chris Walley
Duração: 118 min.

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