Filmes ruins podem ser experiências de aprendizagem. Também funcionam como situações traumatizantes. Quando realizados porque quem já possui longa tradição no segmento, temos uma jornada ainda mais agonizante. Drácula 3D é um tudo isso, pois nos ensina que mesmo aqueles diretores que um dia já entregaram produções renomadas, numa determinada ocasião, podem perder qualquer indício de vigor e deslizar vertiginosamente. Este é o caso do cineasta italiano Dario Argento, responsável não apenas pela direção, mas pelo roteiro desta abominação cinematográfica, escrita em parceria com Enrique Cerezo, Stefano Piani e Antoni Tintori. Os leitores que acompanham as minhas reflexões sabem que mesmo diante de uma narrativa cinematográfica equivocada, busco sempre analisar os seus pontos positivos e, mesmo que não haja, acredito na elegância da reflexão que respeita todo um processo criativo coletivo, afinal, errar é humano, mesmo quando nós, espectadores, somos as cobaias destes experimentos.
Houve, no entanto, muita dificuldade em escrever qualquer coisa sobre Drácula 3D sem expressar o mínimo de desgosto, raiva, sentimentos que mesclam com intensidade quando pensamos que um bom diretor, diante de uma boa história, deveria fazer emergir uma nova concepção para o personagem demasiadamente representado no cinema. Infelizmente, não é o que ocorre com esta versão em terceira dimensão do clássico conde vampiro, trazido das trevas para em 1897 e constantemente colocado no epicentro da efervescente indústria cinematográfica, costumeiramente recicladora de tramas batidas, nalgumas vezes relidas com pontos de vista assertivos, noutras com desenvolvimento vergonhoso, pior que iniciativas amadoras de péssimo gosto. Com longos 110 minutos de duração, esta versão do romance escrito pelo irlandês Bram Stoker é desafiadora: de tão ruim, clamamos por seu final. Topa continuar? Vamos nessa.
Lançado em 2012, Drácula 3D nos situa numa trama com toques debochados logo em seu preâmbulo. Fosse, talvez, uma paródia, talvez funcionasse melhor, mas não é. Dario Argento conduz a narrativa demonstrando que aparentemente quer ser levado a sério. Acompanhamos Jonathan Harker (Unax Ugalde), personagem encaminhado para realizar um atendimento específico solicitado pelo conde Drácula (Thomas Kretschmann). O serviço em questão é a organização de sua vasta biblioteca. Entre idas e vindas, o vampiro se encanta pelo charme de Mina (Marta Gastini), não apenas por vislumbrar a sua foto, mas também pela proximidade da jovem, em viagem após desconfiar que seu amado se pode estar em apuros. Com mistérios flutuantes entre um ponto e outro da história, temos o Dr. Abraham Van Helsing (Rutger Hauer), intimado a desvendar o que está por detrás do rastro de sangue envolvendo o vampiro que tem apoio de alguns moradores da região, fator que facilita as suas ações maléficas.
Assim, com direção de fotografia de Luciano Tovoli, setor que nos apresenta pouquíssimos enquadramentos inspirados, em sua maioria, planos estáticos monótonos, e design de produção de Claudio Consentino, eficiente no desenvolvimento de uma boa cenografia e direção de arte, Drácula 3D brinca com a sua condição musical, com as habituais tonalidades sonoras esquizofrênicas, típicas do estilo de Argento, com inserção de uma série de ícones comuns ao universo dos vampiros, tais como luas intensas, aranhas, ratos, lobos, estacas de madeira e sanguinolência, todos utilizados com falta de criatividade. O pior momento, por sua vez, fica por conta de um louva-deus gigantesco, sem nenhum cabimento e necessidade e, para piorar, concebido com efeitos bizarros. Ademais, as falas são tediosas e as atuações anêmicas.
Um Drácula sem presença. E, um antagonista sem força, sabemos, é puro fiasco.
Drácula 3D (Drácula 3d, Itália/França/Espanha – 2012)
Direção: Dario Argento
Roteiro: Dario Argento, Enrique Cerezo, Stefano Piani, Antonio Tentori,
Elenco: Thomas Kretschmann, Marta Gastini, Asia Argento, Unax Ugalde, Miriam Giovanelli, Rutger Hauer, Maria Cristina Heller, Augusto Zucchi, Franco Ravera, Francesco Rossini, Giovanni Franzoni, Giuseppe Lo Console
Duração: 110 min.