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Crítica | Drácula (1931) – Versão de Tod Browning

por Luiz Santiago
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Drácula, a grande criação semi-histórica e tornada mitológica pelo escritor irlandês Bram Stoker, chegou aos cinemas coberto por uma onda de problemas, vide o caso de Nosferatu (1922). Nos anos que se seguiram ao lançamento da obra de F.W. Murnau, a família Stoker procurou administrar mais de perto as intenções de adaptação para qualquer mídia e acabaram permitindo que uma peça de teatro baseada no livro fosse escrita e tivesse sua montagem tanto no Reino Unido quanto nos Estados Unidos. Foi dessa montagem teatral baseada em Drácula que nasceu o famoso clássico de 1931, dirigido e coproduzido por Tod Browning.

Carl Laemmle Jr., o outro produtor do filme, via nas obras de terror uma ótima opção de entretenimento para o público e a possibilidade de fazer “coisas impossíveis” no cinema. O lançamento de Drácula (1931) foi a prova final de que isso era verdade, uma vez que o filme alavancou grandiosamente a receita do Estúdio naquele ano e abriu as portas para uma onda de inventivos, bizarros e “impossíveis” filmes do gênero que se espalharam por toda a década de 30 e 40, tornando a Universal “o estúdio dos filmes de terror” Hollywood.

Inicialmente, a adaptação do Drácula da Broadway para o cinema teria um bojudo orçamento e cenários luxuosos, mas a crise de 1929 impediu que a Universal seguisse esse caminho glamouroso, contentando-se com o mínimo de cenários realistas, grandes espaços vazios, painéis pintados e morcegos presos em varas de pesca em frente à câmera.

Mas apesar de contar com menos recursos do que fora inicialmente previsto, essa versão de Drácula dirigida por de Tod Browning* se tornou um verdeiro modelo para os filmes de terror e principalmente para a mitologia dos filmes de vampiro no cinema – também, em extensão, para a literatura de horror que se seguiu ao seu lançamento.

Mas apesar de sua importância histórica e artística, a fita carrega uma série de problemas técnicos, algumas atuações bem ruins, uma montagem nada dinâmica e uma trama pouco impactante em seu desenvolvimento. Ao mesmo tempo, ela tem a capacidade de mexer com o imaginário do espectador pela força de algumas de suas cenas, pela atmosfera que é criada pela equipe técnica e seu tsunami de símbolos, hoje tão bem assimilados e processados pelo grande público. Assim, quando vemos fumaça, sombras, animais escrotos, caixões, capas e mortes não gráficas, temos um contexto macabro tão limpo e tão “inocente” na tela que um medo sutil e um receio em relação ao sobrenatural, de repente, nos ataca. Por isso é fácil perceber por quê o público dos anos 30 se assustou tanto com Drácula.

A icônica e inesquecível interpretação de Bela Lugosi (que também estava no elenco da peça da Broadway) é um dos principais pontos a ser levado em consideração. Seu sotaque forte, sua presença imponente, os maneirismos de sua atuação e, principalmente, a simplicidade de sua maquiagem – que o fez parecer possível de ser real – o transformou não só em um exemplo de vampiro como também levou o público feminino à loucura, pois o filme, além do medo, expunha de forma sutil a libido do vampiro e sua relação macabro-sexual com as mulheres.

É interessante considerar que inicialmente o papel principal seria de Lon Chaney, mas a morte prematura do ator em 1930 fez o estúdio procurar alguém que tivesse uma presença tão forte quando a do “homem das mil faces” e pudesse dar vida ao maligno vampiro, busca que levou Carl Laemmle Jr. a Bela Lugosi.

Os melhores momentos do filme também podem ser atribuídos ao diretor de fotografia – e não creditado codiretor – Karl Freund (um dos fotógrafos de Fritz Lang em Metropolis), responsável pelos elegantes movimentos de câmera e interessante iluminação do personagem principal. Infelizmente a obra como um todo perde unidade narrativa e a montagem se confunde em seus pequenos episódios separados por fades-out – uma péssima herança da divisão em atos da peça –, dois elementos que irritam imensamente o espectador.

Mas independente de suas falhas, Drácula de Tod Browning é um clássico obrigatório do cinema. Sua importância para o horror no cinema e o poder com o qual fixa em nossas mentes os símbolos do mal bastariam para torná-lo um ícone. Todavia, se ainda forem necessárias outras justificativas, poderíamos dizer que o antológico vampiro de Bela Lugosi e a maravilhosa e medonha atuação de Dwight Frye como Renfield são o bastante para levar qualquer cinéfilo ao mundo onde “essas coisas realmente existem”. Ou seria esse o mundo do próprio cinéfilo?

* É importante destacar que no mesmo ano foi lançada, também pela Universal, uma versão falada em espanhol, filmada em contra-horário nos mesmos cenários da equipe de Browning. A “versão americana” estreou em Nova York em 12/02/1931 e a “versão espanhola” (dirigida por George Melford, com assessoria de Enrique Tovar Ávalos) estreou em Cuba em 11/03/1931 e em Nova York em 24/04/1931.

Drácula (Dracula) – EUA, 1931
Direção: Tod Browning, Karl Freund (não creditado)
Roteiro: Hamilton Deane, John L. Balderston (adaptação da peça); Garrett Fort, Louis Bromfield, Tod Browning, Max Cohen, Dudley Murphy, Louis Stevens (adaptação do livro de Bram Stoker).
Elenco:  Bela Lugosi, Helen Chandler, David Manners, Dwight Frye, Edward Van Sloan, Herbert Bunston, Frances Dade, Joan Standing, Charles K. Gerrard
Duração: 75 min.

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