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Crítica | Dr. Death: 1ª Temporada

Série baseada na história real de um "médico monstro".

por Leonardo Campos
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Sombria e com perspectiva assustadora, a minissérie Dr. Death revela, ao longo de seus ótimos 08 episódios, a face cruel e psicótica de um ser humano que tinha prazer em mutilar os seus pacientes, nalguns casos, entregando-os diretamente para a morte. Criada por Patrick McManus, realizador inspirado num podcast famoso sobre o assunto, a produção de 2021 não é exatamente um drama médico convencional, mas possui conexões que nos permite coloca-lo dentro deste feixe de produções onde dramas e tensões circundam corredores hospitalares e salas de cirurgia, com abordagem externa da vida pessoal de seus personagens, aqui, a trajetória de Christopher Dunstch (Joshua Jackson), um ser humano desprezível não apenas em suas atividades profissionais, mas tóxico e abusivo com amigos, esposa e familiares, alguém de índole tenebrosa, figura capaz de aniquilar qualquer um, inclusive tirando vidas, quando o assunto é a sua imagem de deus da medicina, entidade acima de qualquer suspeita, o provedor de esperanças para pacientes que chegam desesperados, em busca da cura por alguma celeuma de saúde.

Quem cuida dos seus erros e tenta amenizar a tragédia da situação é a dupla formada por Robert Henderson (Alec Baldwin) e Randall Kirby (Christian Slater), homens engajados na cassação da licença médica do Dr. Death, apelido dado para o monstruoso personagem, inspirado numa história assustadoramente real. Interpretado com firmeza por Jackson, o antagonista do programa é a definição cabal de alguém sem alma, um individuo psicótico desprovido de qualquer arrependimento pela dor que causa não apenas aos pacientes, mas aos que estão no entorno, desde os pacientes aos enfermeiros e auxiliares que são tomados pela culpa e desespero ao ver as suas ações ocorrendo cotidianamente, sem uma assertiva ação da justiça que dê um basta no rastro criminoso do médico insano. Aqui, temos a reversão do que geralmente esperamos de uma série médica, pois quem deveria ser um herói salvador de vidas na verdade é um algoz pronto para destroçar existências na mesa de suas cirurgias sempre sangrentas e arbitrárias.

Contada sob o ponto de vista dos médicos, Dr. Death não opta por uma perspectiva linear, mantendo-se entre passado e presente para nos permitir compreender melhor a formação do caráter do personagem que nomeia o programa. Arrogante, narcisista, prepotente, desequilibrado: estas são algumas possíveis definições para o neurocirurgião que tentou uma carreira no esporte, mas não teve o êxito esperado. Em seu passado, agressões, assassinatos, drogas, bebidas e outros problemas demarcam a sua trajetória errante até o ápice no campo da medicina. Sem adotar um ritmo agitado, focada em pormenores, a minissérie aborda a caminhada do médico, alguém que de acordo com o demonstrado, não tinha outro futuro a não ser se transformar num delinquente de luxo, isto é, um criminoso que age disfarçado do manto de herói do hospital, aparentemente bem-sucedido com seu apartamento e carro luxuoso, com uma retórica afiada, superfície que esconde a criatura tenebrosa por debaixo desta camada que é pura enganação e crueldade. Com um bisturi em mãos, Dr. Death sentia-se invencível. Um horror.

Com episódios dirigidos por Jennifer Morrison, So Yong Kim e Maggie Kiley, equipe de realizadoras guiadas pelos textos de Sara Pearson e Maxwell Michael Towson, a produção mergulha em sua história para nos mostrar as ações do presente, as conexões da memória e o destino de Christopher Dunstch, um homem com perfil profissional invejável, capacitado com mestrado e doutorado, condenado à prisão perpétua por seus casos, uma história absurda de negligência médica e falta de responsabilidade sistêmica. Ao longo de sua jornada com episódios entre 45 e 60 minutos, o programa consegue estabelecer uma assertiva atmosfera sombria não apenas por seus diálogos e desempenhos dramáticos, mas pela adequada direção de fotografia de Zack Galler, especialmente nas cenas do passado, com um tom amarelado envelhecido, além da perspectiva turva, conectada com o ambiente e as ações do médico monstro. O design de produção de Kat Westgaard também colabora com tais trechos, ao criar espaços que representam, fisicamente, a composição social e psicológica dos personagens acompanhados pela condução musical de Nick Chuba, também sombria e pontual para o programa.

Dr. Death: 1ª Temporada (idem, Estados Unidos/2021).
Criação: Patrick McManus
Direção: Jennifer Morrison, So Yong Kim e Maggie Kiley
Roteiro: Sara Pearson, Maxwell Michael Towson
Elenco: Joshua Jackson, Alec Baldwin, Christian Slater, Grace Gummer, Laila Robins, Molly Griggs, Fredric Lehne, Dominic Burgess, AnnaSophia Robb
Duração: 45 min (cada episódio – 08 episódios no total)

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