O primeiro encontro do Doutor Estranho contra Dormammu aconteceu bem cedo na carreira editorial do herói, no mini-arco de duas edições em Strange Tales #126 e #127, publicadas, respectivamente, em novembro e dezembro de 1964. O arqui-inimigo do primeiro grande herói místico da Marvel teria grande participação em edições futuras, inclusive no longo arco Uma Terra Sem Nome, Um Tempo Sem Fim que introduziria a entidade Eternidade e ele ganha sua interessante introdução nesses dois números clássicos da revista que trouxe o Doutor Estranho ao mundo.
Na história, o Ancião chama Estranho para Kamar-Taj para avisá-lo que Dormammu mandara um emissário avisar que em breve sairá da Dimensão das Trevas para dominar a dimensão onde a Terra se encontra. Dizendo-se fraco demais para lidar com a ameaça, o Ancião, então, manda Estranho para enfrentar Dormammu em seus próprios domínios.
O interessante é que o nome Dormammu já fora mencionado diversas vezes em edições ainda anteriores e, aqui, sob a batuta de Stan Lee e Steve Ditko, especialmente deste último, ele finalmente ganha forma como um humanoide com roupa roxa, luvas e botas vermelhas e um rosto flamejante, que ganharia variações ao longo das décadas, mas sempre mantendo o espírito da icônica criação original. Aliás, Ditko mais uma vez aproveita para desenhar outras dimensões com seus traços lisérgicos, sem uma estrutura óbvia de “chão e céu”, com faixas coloridas, além de esferas flutuantes de diversas cores, algo que se tornaria padrão por muitos números e desenhistas dali para frente.
No primeiro número, apesar de Estranho ser imediatamente enviado para a Dimensão das Trevas pelo Ancião, o embate com Dormammu não acontece. Ao contrário, Estranho precisa primeiro derrotar diversos emissários do demônio místico que não se mostram como grandes ameaças e são apressadamente descartados pelo roteiro. No entanto, Cléa, com seu famoso cabelo branco e penteado em forma de chifres, aparece pela primeira vez como alguém que admira a coragem do humano que vê enfrentar os mais diversos inimigos. É o começo da grande história de amor entre ela e Estranho, ainda que ela só interaja com ele muito brevemente.
É apenas no segundo número que o embate entre os dois acontece, encerrando-se quando os Acéfalos, perigosos seres que vivem na Dimensão das Trevas e que são mantidos à distância pelo poder de Dormammu, acabam atacando o local diante do enfraquecimento do soberano durante a pancadaria mística. Com isso, somente o poder combinado dele e do Doutor Estranho conseguem deter os monstros, deixando Dormammu em débito com o futuro Mago Supremo e fazendo o famoso acordo de que não atacaria a Terra, algo religiosamente obedecido por diversos roteiristas ao longo de um grande número de aparições futuras do vilão.
Como um todo, o pequeno arco não tem conteúdo suficiente para justificar as duas edições, mas o visual de Ditko somado à forma original como a luta é finalmente encerrada, o que leva o Ancião a presentear Estranho com o Manto da Levitação (ele até agora usara uma capa azul apenas, com nenhum poder especial), torna essa história uma das mais importantes da primeira fase do Doutor Estranho na Marvel. Além disso, há que se lembrar que estamos falando de uma era mais simples na Marvel, com estruturas narrativas menos ambiciosas e que esta é uma história escrita por Stan Lee que, como já disse em outras críticas, pode ser um grande “imaginador”, mas sempre esteve longe de ser um grande roteirista.
Mesmo com um duelo anti-climático, a história merece ser lida pela introdução de Dormammu, Cléa e também do Manto da Levitação, além do famoso acordo encetado pelo herói com seu futuro arqui-inimigo. Uma boa e descompromissada leitura de grande valor histórico.
Doutor Estranho: Duelo com Dormammu (Strange Tales #126 – 127, EUA – 1964)
Roteiro: Stan Lee
Arte: Steve Ditko
Letras: Artie Simek
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: novembro e dezembro de 1964 (histórias secundárias em Strange Tales)
Páginas: 20