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Crítica | Dog – A Aventura de Uma Vida

Dois soldados em uma viagem.

por Luiz Santiago
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Em 2017, Channing Tatum foi um dos produtores executivos de um documentário da HBO chamado Cão de Guerra: O Melhor Amigo do Soldado. Sua relação pessoal com cães e seu olhar para o exercício militar desses animais acabaram levando-o a dirigir, juntamente com seu amigo Reid Carolin (que também é autor do roteiro, ao lado de Brett Rodriguez) este inesperadamente bem-sucedido Dog – A Aventura de Uma Vida, que impressionou nas bilheterias americanas e despertou um interesse mais rápido de distribuidoras internacionais para que o adquirissem. Em geral, filmes que retratam a amizade entre humanos e animais (ou mesmo só entre animais) tendem a chamar bastante a atenção do público, e essa carga emotiva acaba sendo ainda mais forte quando o animal é um cachorro e quando a temática é bastante densa e dolorosa, como o trauma de guerra neste filme.

O roteiro está imerso em uma armadilha complicada desde o início, que é o elemento gerador das muitas disparidades que o próprio texto terá no decorrer da obra. O objetivo do texto é mostrar uma viagem que a pastora belga Lulu fará até Nogales, onde seu antigo parceiro de campo será enterrado. O trauma da guerra aliado à ausência de seu tutor mudou definitivamente a cadela, e ela se tornou extremamente agressiva, motivo pelo qual deverá ser levada para ser sacrificada logo após o enterro do antigo companheiro de trabalho. O roteiro desenvolve o trauma do animal ao lado do trauma de Jackson Briggs (Tatum), que se recusa a ficar em casa e quer voltar para a ativa o mais breve possível. Dois personagens quebrados por um conflito armado precisam, agora, atravessar parte do país para uma solenidade que também tem a ver com o horror da guerra. Não é um momento fácil para nenhum dos dois.

Notem como a premissa é interessante mas parece não se ajustar muito bem em nenhuma das duas camadas que supostamente deveria. De um lado, a comédia aliada à história de conexão entre homem e cão desperta o interesse porque já existe um longo histórico para isso no cinema, e com uma motivação triste, mas infelizmente muito real em cena, poderia haver um grande desenvolvimento da dupla, tanto nas questões psicológicas e comportamentais, quanto no processo de terapia que essa companhia irá gerar para eles. O problema é que o lado militar do enredo disputa com muita ânsia o lugar de destaque na narrativa, e isso vai pouco a pouco quebrando o lado cômico e sentimental. Mesmo este lado voltando a entrar em cena a cada “grande evento de viagem” (com destaque para uma forte dose de emoção especialmente separada para o final), não é o bastante para deixar o filme bem amarrado quanto à sua atmosfera geral ou seu grande intento.

É do lado militar, inclusive, que vem alguns dos momentos de mal gosto da obra (a perseguição ao indivíduo com vestimenta típica dos países do Oriente Médio é uma delas, ainda mais por ser finalizada de maneira vergonhosa) e as maiores quebras narrativas. O laço criado entre Briggs e Lulu acaba tendo apenas alguns momentos verdadeiramente interessantes nas paradas do carro na estrada, e o melhor de todos eles é o da noite chuvosa. Esta sequência, aliás, é uma das que mais recebe cuidado da direção, que utiliza bem todos os clichês do gênero para mostrar esse ponto de ruptura entre Lulu e seu guia temporário, abrindo um claro espaço para mudança. A essa altura, a gente já entende que existe uma relação formada entre os dois, mas nem todos os termos ainda entraram em cena. Ainda faltava algo para acontecer, a despedida final.

O encerramento do filme é muito bonito e a trilha sonora reserva algumas de suas melhores peças para a reta final da fita, propositalmente cavando emoção no público e conseguindo isso facilmente. Embora essa mudança final não seja abrupta, tenho a impressão de que falta algo nesse ponto, mesmo que isso acabe sendo disfarçado pela carga emocional do texto neste ponto da trama. Dog – A Aventura de Uma Vida é um filme simples sobre a companhia de dois soldados de guerra, um homem e um animal, traumatizados e necessitados de amor. Não é um filme que guia bem os seus dois aspectos narrativos (sendo o aspecto exclusivamente militar o lado problemático da obra), mas é uma experiência que, como diria minha colega Boscov, “durante aquela meia horinha cria ali pra você um lugar tão aconchegante” que acaba valendo a experiência.

Dog – A Aventura de Uma Vida (Dog) — EUA, 2022
Direção: Reid Carolin, Channing Tatum
Roteiro: Reid Carolin, Brett Rodriguez
Elenco: Channing Tatum, Ryder McLaughlin, Aavi Haas, Luke Forbes, Donovan Hunter, Peter Ostrander, Trey Panella, Patrick Perlaky, Devin White, John Dixon, Trent McDonald, Luke Jones, Skyler Joy, Cole Walliser, Tory Freeth, Patricia Isaac, Emmy Raver-Lampman, Nicole LaLiberte, Timothy Eulich, Kevin Nash, Jane Adams
Duração: 101 min.

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