Em termos de estrutura, The Steampunk Conundrum, segunda parte da minissérie The Road to the Thirteenth Doctor, repete a mesma fórmula utilizada em The Ghost Ship, ou seja, apresenta-se uma saga isolada do Doutor em questão (aqui, o 11º, ao lado de Alice Obiefune) e uma pequena narrativa do passado, onde ocorre o cameo misterioso da 13ª Doutora. No quadrinho anterior, essa tentativa de contato da recém-regenerada Time Lady aconteceu para o 10º Doutor por ocasião de The Girl in the Fireplace. Aqui, para o Doutor interpretado por Matt Smith, acontece durante os eventos de The Power of Three.
Na história principal, vemos o Doutor e Alice (com um vestido na melhor “moda Dalek” possível) chegarem a São Francisco, no ano de 1896. Considerando que a aventura já tem “Steampunk” no título, é inútil fazer alusões maiores a esse respeito, mas é muito curioso que o roteiro de James Peaty elenque esse conceito da forma mais ordinária possível. É claro que a simplicidade inicial é atrativa e faz bem à história, ao mesmo tempo que convence o leitor. Todos sabemos que não é preciso um mega-evento para que uma aventura (mesmo uma chamada The Steampunk Conundrum) engate. Ocorre que essa simplicidade inicial é parcialmente traída pelo autor, que de repente desiste de manter as coisas o mais “quietas” possíveis e abre as portas para o exagero de uma invasão já avançada. Ok, não é nada diferente de algumas premissas da série, isso é fato. Mas estamos em uma mídia diferente. Com uma proposta diferente. Em uma trama-ponte para um outro evento. Claramente a situação exigia uma outra abordagem.
A arte de Pasquale Qualano funciona bem mais, a meu ver, que a de Iolanda Zanfardino na edição anterior. Mais ligada à atmosfera central da história, com uma finalização de traços bem finos e uso de sombras para reafirmar algumas expressões, o artista conseguiu representar muito bem a dicotomia entre os “invasores silenciosos” e os Estados Unidos da época. O ruim deste ponto é que o roteiro não faz uso do cenário em favor do Doutor e de sua companheira, e isso, em detrimento de um diálogo meio bobo com o grande invasor, vertente do texto que se encaminha para uma finalização rápida demais e especialmente anticlimática, considerando todo o falatório típico do 11º, sempre que queria provar algum ponto. A diferença é que nos arcos da TV, o Doutor de Matt Smith acaba desembocando em encerramentos que condiziam com sua verborragia diante do problema. Se não épico, era conceitualmente satisfatório. Aqui, mal conseguimos ficar acima da média.
Claro que em um balanço onde consideramos a história como um todo, entendemos que se trata de um enredo [para todos os efeitos] bom. Alice não tem o destaque que merece, mas está bem posicionada ao logo de todos os acontecimentos. Já a caraterização do 11º Doutor é realmente muito boa, o que merece todos os méritos possíveis porque, convenhamos, esta é uma das personalidades mais cheia de nuances entre os Doutores da Nova Série, o que não é muito fácil se colocar no papel, mas James Peaty capturou bem a essência desse Senhor do Tempo aqui.
Desta vez, conseguimos ver o braço quase todo da 13ª Doutora chegar à realidade, mas o contato com a sua 11ª versão não se completa, infelizmente. Talvez — e esse é um grande e esperançoso talvez — ela realmente apareça de corpo todo na edição final dessa minissérie, que trará o 12º Doutor. Por enquanto, a nossa curiosidade só aumenta. Queremos conhecê-la logo!
Doctor Who: The Road To The Thirteenth Doctor #2: The Steampunk Conundrum
Publicação original: Titan Comics (EUA, Reino Unido, 08 de agosto de 2018)
Roteiro: James Peaty, Jody Houser
Arte: Pasquale Qualano, Rachael Stott
Cores: Enrica Eren Angiolini, Dijjo Lima
Capas: Robert Hack, Christopher Jones, Pasquale Qualano, Dijjo Lima
Letras: Jimmy Betancourt, Richard Starkings
Editoria: Andrew James, Jessica Burton
32 páginas