Equipe: 2º Doutor, Ben, Polly, Jamie
Espaço-tempo: Atlântida, 20/03/1970
Dirigido por Julia Smith (The Smugglers), esse arco da 4ª Temporada Clássica de Doctor Who é um dos menos estimados pelos fãs e um dos mais injustamente subestimados.
Uma coisa, porém, é justo concordar: a história aqui apresenta uma carga de nonsense às vezes impossível digerir. No entanto, há uma série de elementos a serem considerados, algo que faz as derrapadas do roteiro serem sensivelmente minimizadas caso olhemos esse outro lado, a começar pela direção de arte e figurinos que fazem da Atlântida — cenário do arco — um lugar digno de um autêntico Filme B, e digo isso da maneira mais positiva possível.
Após a chegada de Jamie McCrimmon ao grupo no arco anterior (The Highlanders), um clima de amizade se estabeleceu entre os companions e o Doutor. No pequeno intervalo entre a saída da Escócia e a materialização da TARDIS numa ilha vulcânica acima da Atlântida perdida, aquela mágica que torna inesquecível o elenco de uma série aconteceu. Apesar das falhas no roteiro em relação ao povo ou aos eventos ocorridos em Atlântida, é impossível não rir com a postura do Doutor e apreciar a interação entre os protagonistas, aqui inseridos em uma ameaça potente, tendo como motor de ação o primeiro vilão propriamente “cientista maluco” de Doctor Who.
A recriação da parte religiosa na Civilização Perdida, inclusive a questão do sacrifício humano e a oposição entre ciência e religião, nos lembra um pouco o impasse que o 1º Doutor enfrentou junto aos Astecas, mas, diferente deste arco da Primeira Temporada Clássica, The Underwater Menace possui uma abertura maior para a tecnologia e introduz o Professor Zaroff, o mesmo que citei no parágrafo acima como “o primeiro vilão propriamente ‘cientista maluco’ de Doctor Who.”
O plano de Zaroff (que me lembra o Zarkov, de Flash Gordon) é elevar a Atlântida novamente à superfície utilizando um método tão maluco quanto a intenção parece. É nesse ponto que o enredo começa a enlouquecer. A explicação para tal intento vem pela parte do Doutor, mas é apenas citado em um momento de confronto e volta a aparecer já completamente inserido na história, no episódio 4. Zaroff, por sua vez, debanda para um lado completamente inaceitável no final do arco, o que nos faz esquecer a boa apresentação e razoável desenvolvimento do personagem. Entretanto, a coisa fica ainda pior.
De alguma forma Geoffrey Orme, o roteirista, achou interessante colocar os Fish People em “greve de produção de alimento”, o que já é estranho porque eles poderiam ter feito isso muito antes e nadarem para longe de onde estavam. Só que o maior problema ainda está por vir. Se a produção de musgo estragou e não havia estoque, por que diabos a população de Atlântida deveria passar fome, se havia um oceano inteiro em torno deles? Os atlantes não conhecem o verbo “pescar”?
Olhando por esse lado fica fácil entender por que há tanta antipatia em relação ao arco. Mas não podemos nos esquecer da excelente produção do templo, a assustadora trilha sonora e trabalho com uso de voz/eco através da máscara de Amdo, a deusa atlante; e o ambiente aquático em torno da cidade submersa. Uma espécie de tanque com água cheio de efeitos interessantes pode ser notado toda vez que os Fish People aparecem. Infelizmente não houve um padrão para a construção dos figurinos dessas criaturas, o que acaba gerando bizarrices como Fish People com escamas e nadadeiras e Fish People com coisas que aprecem asas e uma máscara de respiração subaquática (!?).
The Underwater Menace tem uma produção técnica que vale muito a pena e um argumento bastante interessante, especialmente se o espectador entender o tom de “filme b” arraigado à sua realização. Mas mesmo nessas ocasiões existem coisas que jamais poderiam acontecer. Há limite para tudo e, nos 4 episódios que compõem este arco, essa linha do limite aceitável foi ultrapassada diversas vezes. O arco ainda se segura de maneira regular para positiva, mas não sem causar estranheza e desconforto ao espectador.
The Underwater Menace (Arco #32) – 4ª Temporada
Roteiro: Geoffrey Orme
Direção: Julia Smith
Elenco principal: Patrick Troughton, Anneke Wills, Joseph Furst, Michael Craze, Frazer Hines, Catherine Howe, Tom Watson, Peter Stephens
Audiência média: 7,47 milhões
4 Episódios (exibidos entre 14 de janeiro e 04 de fevereiro de 1967).