Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Talons of Weng-Chiang (Arco #91)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Talons of Weng-Chiang (Arco #91)

por Luiz Santiago
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Equipe: 4º Doutor, Leela, Jago e Litefoot
Espaço: Londres
Tempo: 1889

  • A pré-sequência e a sequência dos eventos deste arco podem ser conferidos no episódio #161 da Big Finish MensalThe Butcher of Brisbane (2012).

The Talons of Weng-Chiang é o arco final da 14ª Temporada clássica de Doctor Who e um dos mais populares e adorados seriais da era do 4º Doutor, embora não seja assim tão perfeito quanto o seu hype costuma estabelecer. Isso não quer dizer, no entanto, que ele não mereça toda a atenção que tem. Muito pelo contrário. A história é rica e possui uma bem feita recriação da Inglaterra vitoriana, dos cenários, espaços de diversão e neblina em Londres até os figurinos e estranhas relações entre ciência, loucura e terror.

Sendo o único arco do 4º Doutor em que ele não está com o seu conhecido cachecol, The Talons of Weng-Chiang causa de imediato uma impressão de choque no espectador. O Doutor leva Leela para conhecer o passado de seus ancestrais, mas acaba se deparando com um ambiente onde mortes, desaparecimentos e inexplicáveis acontecimentos estavam em voga na cidade. O roteiro de Chris Boucher não perde tempo em fazer relações de vilões e locais semelhantes aos da literatura e cinema, referências essas que passam por clássicos como O Fantasma da Ópera, O Gabinete do Doutor Caligari, Sherlock Holmes e A Máscara de Fu Manchu. Há também uma lembrança do Doutor à sua visita anterior à China, em Marco Polo, e um tratamento bem diferente dado a Leela, que deveria ter tido aqui a sua despedida da série.

Vestindo roupas que a tornava uma cópia de Eliza Dootlittle, de Minha Bela Dama, a atriz Louise Jameson teve o seu contrato renovado para a 15ª Temporada apenas por uma mudança de produção. Sendo este o arco que marca a despedida de Philip Hinchcliffe e a chegada de Graham Williams ao cargo de produtor, a decisão (e promessa feita por Hinchcliffe a Tom Baker de que Leela iria embora) foi revogada. Baker achava a personagem de Leela violenta demais para a série e não simpatizava muito com ela. Além disso, desde The Deadly Assassin o ator vinha pedindo a oportunidade para trabalhar sozinho, sem companion, e as coisas teriam seguido por esse caminho (além de uma possível mudança de figurino para algo mais Sherlock, como vemos aqui em Weng-Chiang) caso a mudança de produção não tivesse revogado alguns acordos prévios e mantido tudo”mais ou menos como estava”.

Apesar de não estar muito certa de que havia feito a coisa certa, Louise Jameson aceitou assinar para mais uma temporada, desde que não precisasse usar lentes de contato para mudar a cor dos seus olhos (originalmente azuis). Com efeito, no arco de abertura da temporada seguinte, Horror of Fang Rock, Terrance Dicks criou uma boa saída para esse problema.

O maior destaque desse arco é com certeza a captura interessantíssima que Chris Boucher faz do espírito vitoriano. Ratos gigantes, um deus chinês, mágica, teatro obscuro e indivíduos bem macabros compõem esse ambiente. A própria produção do arco tem um papel de grande importância nessa contextualização, especialmente na fotografia bem mais escura e na direção de arte que explorou tons marrons, dourados, cinzas e preto até onde pode. Diferente dos outros arcos da temporada, como The Masque of Mandragora ou The Face of Evil, não há um peso maior dado a um certo setor técnico. E mesmo que possamos dizer que o papel da trilha sonora aqui é “menor” comparado aos outros, esse argumento perde força à medida que entendemos a trilha como uma co-narradora da história, desde os números musicais no Palace Theatre, que pertencia a Henry Gordon Jago, até os momentos de tensão, quando o Doutor e seus companions derrotam Magnus Greel e Mr Sin.

Não tem como não comparar Magnus Greel (vulgo Weng-Chiang, o deus chinês da abundância) com o Mestre, especialmente por suas características físicas — lembremos que a aparição do Mestre em The Deadly Assassin justifica essa comparação –, o fato de ter um gabinete parecido com a TARDIS do Mestre no já referido arco do assassino e por citações como “regeneração” e gritos de dominação típicos do Time Lord renegado que conhecemos em Terror of the Autons. E mesmo com todos os sinais à vista, o vilão não é o Mestre, embora o arco foi criado para que fosse. Acontece que o produtor Philip Hinchcliffe vetou essa escolha porque não queria que o Mestre aparecesse novamente como um “vilão escondido”, o que foi uma bobagem sem tamanho, mas que não chegou a estragar o arco, porque Magnus Greel é um vilão complexo e realmente muito interessante.

As semelhanças com o modus operandi de Jack, o Estripador, as referências a Pigmaleão e A Importância de Ser Prudente fazem de The Talons of Weng-Chiang um amálgama de uma época cuja essência foi perfeitamente capturada pelo diretor David Maloney, tanto na forma como ele guiou os atores, como na forma utilizada para representar as ações de cada facção em cena. Particularmente não gosto dos ratos gigantes porque eles ficam soltos na história e o início do arco é mais lento do que deveria, mas isso não tira o divertimento. E como se não bastasse, a aventura apresenta-nos a excelente e cativante dupla Jago e Litefoot, que ganhariam grande destaque no Universo Expandido da série anos depois. Isso sim é que é uma forma poderosa de se terminar uma temporada!

Em tempo: a partir de 2005, com a “nova onda whovian” que se espalhou pelo mundo após o retorno da série, The Talons of Weng-Chiang foi redescoberto e acabou gerando algumas polêmicas para os novos espectadores, que reclamam da forma [preconceituosa e estereotipada] como os chineses são retratados aqui. Particularmente vejo essa retratação como parte do espírito da época em que a ação acontece, assim como o trato do professor Litefoot em relação a Leela. Não vejo preconceito algum aqui. E vocês?

The Talons of Weng-Chiang (Arco #91) — 14ª Temporada – Season Finale
Direção: David Maloney
Roteiro: Robert Holmes
Elenco: Tom Baker, Louise Jameson, Christopher Benjamin, Trevor Baxter, Michael Spice, John Bennett, Deep Roy, David McKail, Alan Butler, Chris Gannon, Conrad Asquith

Audiência média: 10,35 milhões

6 episódios (exibidos entre 26 de fevereiro e 2 de abril de 1977)

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