Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Sea Devils (Arco #62)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Sea Devils (Arco #62)

por Guilherme Coral
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Equipe: 3º Doutor, Jo
Era: UNIT — Ano 5
Espaço: Costa sul da Grã Bretanha
Tempo: 1972

The Sea Devils marca a primeira aparição dos monstros que garantem o nome do arco – uma variação aquática dos Silurians, que fizeram seu début em Doctor Who and the Silurians, o arco cinquenta e dois da série clássica. Além disso vemos, pela primeira vez na nona temporada, o Mestre, que havia sido, enfim, capturado em The Daemons, após seu longo trajeto de peripécias desde Terror of the Autons. Apesar de contar com seis capítulos o arco em questão oferece uma narrativa dinâmica que peca mais pelos efeitos práticos e especiais empregados pelo roteiro em si. Temos, é claro, uma estrutura similar ao que já vimos anteriormente, mas elementos novos o suficientes para nos manter atentos à história.

A trama tem início com o ataque a um navio, que desaparece na costa da Grã Bretanha, por uma entidade desconhecida. Não muito longe dali e desavisado, o terceiro Doutor e Jo desembarcam em uma ilha com uma mansão, onde o Mestre está confinado desde a última temporada. Trata-se da primeira visita do senhor do tempo ao seu velho e maldoso amigo e, após um longo processo burocrático de segurança ambos se veem cara a cara novamente. O reencontro, que muito nos lembra aquele de Professor Xavier e Magneto em X-Men 2traz um dos pontos altos do arco. A velha inimizade dá espaço para uma espécie distorcida de companheirismo, revelando o respeito que um nutre pelo outro. Pertwee e Delgado possuem uma nítida química e os diálogos que procedem colocam um sorriso no rosto de qualquer whovian.

Não demora muito, porém, para descobrirmos que o vilão está envolvido em esquemas relacionados ao desaparecimento dos navios e que sua prisão é mera fachada, uma ilusão para os olhos do Doutor e da UNIT. A escolha do roteiro em incluir o Mestre no centro da narrativa, como um dos antagonistas é mais do que óbvia e acaba diminuindo o impacto das primeiras cenas entre os dois Time Lords. Felizmente, a forma como a história é conduzida reduz esse defeito do arco, por mais que, em muitos pontos, desejássemos ver mais visitas como essa apresentada, antes que o vilão, enfim, se libertasse.

Similarmente às histórias da temporada anterior o Mestre busca destruir a humanidade através de outra forma alienígena e a estrutura aqui construída parece datada aos espectadores que acompanharam a série até aqui. Mesmo a resolução oferece um twist bastante similar, demonstrando que o personagem interpretado por Roger Delgado claramente não sabe o que faz. Há sim um forte elemento cômico e, já que funcionou anteriormente, por que não empregá-lo agora? Uma dose de novidade, contudo, seria necessária, especialmente considerando que já estamos no nono ano de Doctor Who.

Esse aspecto acaba criando um empecilho na imersão do espectador, algo que somente aumenta com o design dos sea devils, que aos olhos das audiências modernas somente causarão risadas. São criaturas desajeitadas e em nenhum ponto conseguimos acreditar que se trata de uma raça avançada que um dia dominaram a Terra – especialmente considerando seus olhos esbugalhados, claramente inspirados em peixes. Felizmente o roteiro nos traz interessantes vínculos com Doctor Who and the Silurians e uma ótima cena na qual o Doutor tenta de todos os jeitos alcançar uma resolução pacífica para seu problema, nos oferecendo ótimos diálogos e mais uma vez uma convincente interpretação de Jon.

Outro aspecto positivo é forma como Jo é trabalhada pelo texto e, embora ainda permaneça em segundo plano na maior parte do tempo, desempenha um papel de maior destaque na progressão da trama. Além disso, o roteirista Malcolm Hulke não desperdiça a relação entre ela e o senhor do tempo, criando mais situações nas quais a companion é totalmente ignorada, aspecto crucial de sua relação com o Doutor e que garante mais doses de humor para a narrativa.

Não poderia, é claro, não mencionar o personagem George Trenchard, vivido por Clive Morton, e que atua como uma espécie de companion para o Mestre. Ignorante às verdadeiras intenções do vilão, Trenchard é uma prova de como o patriotismo pode ser transformado em pura vilania e, por mais que não consigamos acreditar piamente em sua ignorância ele desempenha um notável papel no desenvolvimento do arco, mas que acaba sendo jogado de lado nos episódios finais.

The Sea Devils, portanto, oscila entre seus pontos baixos e altos, conseguindo prender nossa atenção, mas sem oferecer muitos novos elementos que já não tenhamos visto nos anos anteriores da série. A variação dos silurians é conceitualmente interessante, trazendo uma percepção maior de sua dominação na Terra, mas acaba sendo prejudicada pela retratação desajeitada dos seres. Dito isso, trata-se de um arco divertido, mas dificilmente um ponto memorável dentro da série clássica.

The Sea Devils (Arco #62) — 9ª Temporada
Direção: Michael Briant
Roteiro: Malcolm Hulke
Elenco: Jon Pertwee, Katy Manning, Edwin Richfield, Clive Morton, Royston Tickner, Neil Seiler

Audiência média: 8,1 milhões

6 episódios (exibidos entre 26 de fevereiro e 1 de Abril de 1972)

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