Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Mark of the Rani (Arco #139)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: The Mark of the Rani (Arco #139)

por Luiz Santiago
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estrelas 3,5

Equipe: 6º Doutor, Peri
Espaço: Londres
Tempo: c.1813

Para um arco com um número tão grande de problemas durante sua produção, The Mark of the Rani até que se saiu muito bem. Nicola Bryant deu mal jeito no pescoço enquanto dormia, o que tornou as filmagens bastante desconfortáveis para ela; Colin Baker deslocou um dedo na cena em que estava preso a um carrinho e era perseguido pelos luditas (historicamente, os trabalhadores que se opunham às máquinas com medo de que elas tomassem o seu trabalho, o que gerou bastante destruição de propriedades tecnológicas — o movimento é muitas vezes ligado ao pensamento anarco-primitivista) e a produção não conseguiu filmar todas as cenas do roteiro original, precisando fazer realocações devido ao esgotamento do orçamento e do tempo.

Escrito pelo veterano casal Pip e Jane Baker, o arco tem todos os méritos possíveis e imagináveis só por apresentar a gloriosa Rani, uma das melhores antagonistas de toda a série, com imediata aceitação do público e da crítica e, infelizmente, pouco utilizada na série posteriormente (ela apareceria apenas mais uma vez, na era do 7º Doutor em Time and the Rani). A atriz Kate O’Mara fez um trabalho cativante e inesquecível como a Time Lady renegada Rani (que significa “rainha” ou “mestra” em hindi) e sua parceria cheia de tropeços ao lado do Mestre incrementou ainda mais o lado dos vilões nessa aventura, com aquela sensação que temos em longas narrativas, onde um novo vilão suplanta o antigo, mas sem lhe tirar o espaço.

Estamos na Inglaterra do início do século XIX, e a Segunda Revolução Industrial vai se preparando aos poucos, nas maiores cidades do país, até estourar por volta da década de 1860. Neste cenário de mudanças sociais, Rani vem mais uma vez à Terra a fim de empreender alguns experimentos. Fica claro para o público que ela já esteve no planeta em outros momentos, como a Guerra de Troia, a Idade Média e a Guerra de Independência dos EUA, o que genuinamente impressiona o Doutor, por nunca ter percebido isso.

Amiga de Academia do Doutor e do Mestre, Rani foi exilada de Gallifrey, segundo o Mestre, porque seu camundongo gigante comeu o gato do Lord Presidente e arrancou um pedaço do próprio Time Lord. Desse episódio, já é possível ver a linha de experimentos que a personagem levava desde cedo. Rani é uma cientista brilhante, uma fanática por experimentos científicos e por exercer o poder de maneira estratégica sobre todos, consistindo em uma mistura bastante competente de Hera Venenosa + Marie Curie + Margaret Thatcher. Aqui é estabelecido que ela dominava o planeta Miasimia Gorian e que precisava de fluído cerebral humano para dar um jeito em seus experimentos com suspensão do sono naquele lugar.

Exímia inventora e química, Rani terá ideias assustadoramente bizarras aqui, como por exemplo, transformar as pessoas em árvores. Alguns espectadores colocam esse elemento como algo negativo, mas o tropeço da história, a meu ver, está  em 3 outros acontecimentos, a saber:

  1. extensão demasiada da luta dos luditas,
  2. destaque constante para as pequenas vitórias do Mestre sobre Rani
  3. a realmente lamentável sequência final, quando eles vão para os confins do Universo em alta velocidade e o T-Rex que Rani mantinha em sua TARDIS (aliás, que design de nave incrível!) tem seu crescimento acelerado.

Não fosse pelo lamentável exagero da deriva espacial do Mestre e Rani, certamente nossa percepção do arco seria muito melhor, pois a concentração de maiores absurdos do arco está aí. Outro ponto a se considerar é que Peri bem que poderia ter roupas mais confortáveis nesse ambiente, mas eu tenho gostado bastante dessa variação maluca de figurinos para ela. Sem contar que sua parceria com o Doutor vai ficando progressivamente mais interessante, mais ativa da parte dela, mesmo com a ação dominativa e meio grossa do Doutor até certo ponto.

Digo isso porque ele jamais mantém uma versão agressiva com Peri até o final e acaba dependendo dela, tendo que admitir pelo menos uma vez a cada aventura, mesmo que ele não goste disso. Volto ao ponto que comentei em Attack of the Cybermen e Vengeance on Varos: a relação entre os dois parece mais o dia a dia de dois amigos que “brigam” o tempo inteiro, principalmente porque o ego de um é muito grande e o outro não está disposto a aceitar e obedecer tudo. Se fosse diferente, não haveria briga nenhuma. Mas Peri não aceita as coisas de maneira fácil. Ela não é insuportavelmente chata como Tegan, querendo falar pelos cotovelos mesmo quando não tinha nada para acrescentar ou quando não devia… mas ela se faz ouvir. Sua relação com o Doutor constantemente me traz nuances da dupla Petrucchio e Catarina de A Megera Domada.

Brincando com a História da Inglaterra, Pip e Jane Baker escrevem aqui uma caçada interessante, especialmente pela criação de Rani e pela leitura mais que arguta que ela faz da relação de amor e ódio entre o Doutor e o Mestre, que dessa vez começa disfarçado de espantalho. Mais uma saga de renegados de Gallifrey com personalidades e intenções completamente diferentes. Uma prova de que certas semelhanças culturais e compartilhamento de algumas ações não fazem as pessoas serem igualmente boas ou más. Há uma linha tênue aí que normalmente é deixada de lado por muitas pessoas, acarretando inúmeros problemas de julgamento de caráter. O 6º Doutor que o diga.

The Mark of the Rani (Arco #139) — 22ª Temporada
Direção: Sarah Hellings
Roteiro: Pip Baker, Jane Baker
Elenco: Colin Baker, Nicola Bryant, Anthony Ainley, Kate O’Mara, Terence Alexander, Gawn Grainger, Gary Cady, Peter Childs, Richard Steele, William Ilkley, Hus Levent, Kevin White, Martyn Whitby, Sarah James, Cordelia Ditton
Audiência média: 6,80 milhões
2 episódios (exibidos entre 2 e 9 de fevereiro de 1985)

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