Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Survival (Arco #155)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Survival (Arco #155)

por Luiz Santiago
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Survival doctor who plano critico

Equipe: 7º Doutor, Ace
Espaço: Perivale / Cheetah World
Tempo: 1989

E então chegamos ao último arco da 26ª Temporada de Doctor Who, o arco final da Série Clássica. Embora não tenha sido o último a ser produzido, Survival, que foi exibido entre novembro e dezembro de 1989, cai bem como uma versão final das aventuras do Doutor e sua companheira Ace, mesmo que não houvesse ali qualquer indicação para o público de que o programa jamais voltaria à TV em formato serial, com aquela mesma equipe. Em agosto de 1990, o escritório de Doctor Who na BBC, aberto desde 1963, foi definitivamente fechado. À parte o insano Especial Dimensions in Time (1993) e Doctor Who – O Senhor do Tempo (1996) não teríamos nada mais ou menos formal da série em audiovisual até o revival em 2005, com o episódio Rose (e estou excluindo a chacota moffatiana de Curse of Fatal Death por motivos óbvios).

A pedido de Ace, o Doutor a leva para Perivale. Com saudade de seus amigos, a companion deseja passar um tempo na cidade, conversar e matar a saudade. O que ela não esperava era a ação do Mestre que, preso no Mundo Cheetah, usava os Kitlings para levar pessoas da Terra e servirem de caça ao Povo Cheetah. E claro, Ace acaba se envolvendo nesses eventos de forma bastante intensa, assim como o Doutor, que empreende uma de suas grandes batalhas contra o Mestre.

A temática da “sobrevivência do mais forte” tem um peso filosófico primário interessantíssimo aqui, especialmente porque traz o Mestre dando uma aula de sobrevivência e, no processo, utilizando os humanos como cobaias simples para entreter os Cheetah. O texto da roteirista Rona Munro (que anos depois voltaria à série, escrevendo o excelente The Eaters of Light) ecoa os elementos de evolução aplicados à adequação social, notadamente militar, e faz com que tanto na realidade terráquea quanto no Mundo Cheetah essa ideia ganhe espaço e faça os personagens buscarem, em maior ou menor grau, os meios possíveis para sobreviver. Se tivesse tido mais espaço, talvez tivéssemos aqui muito mais sugestões de O Senhor das Moscas do que o roteiro deixa transparecer à primeira vista.

O primeiro episódio é quase totalmente livre de grandes problemas de andamento. O suspense é estabelecido sem pressa e de maneira eficiente, capturando o público pela presença de felinos — animais em geral, quando envolvidos em um enredo que sugere algo maligno, sempre nos chamam a atenção — e por um discurso um tanto suspeito, além do incômodo encontro de Ace com uma amiga que vive praticamente no mundo da Lua e dá um relatório nada animador sobre “a gangue” com quem Ace costumava a andar. Todos desaparecidos. E isso chama a atenção da jovem, mas parece não preocupar o Doutor, que aparentemente está entretido demais, buscando respostas para um grande mistério: “quando um gato não é um gato?“. Depois de histórias manipulativas como Ghost Light e The Curse of Fenric o público nem se espanta mais com o Doutor escondendo aquilo que sabe. Ao contrário. O mistério da parte dele já ganha ares de surpresas interessantes. Imaginem como Andrew Cartmel não planejaria essa personalidade em uma 27ª Temporada!

Quando a trama passa para o Mundo Cheetah, o pequeno didatismo do roteiro desaparece. Gosto de todas as cenas no planeta, ao menos no aspecto de roteiro. A direção de Alan Wareing, por outro lado, repete os mesmos cacoetes de The Greatest Show in the Galaxy e desperdiça a maioria das cenas de ação, da presença dos Cheetah e sua interação com os humanos até sequências um pouco maiores com bastante coisa acontecendo ao mesmo tempo, ou seja, os ganchos instigantes do episódio. O diretor parece ter uma predileção questionável por grandes panorâmicas e grandes planos gerais, mas sempre se esquece que um lugar inóspito e com personagens mal localizados (os ângulos maiores que os de plano médio aqui são todos muito ruins) nunca parecem bonito em cena, dando a impressão de bagunça visual, de má produção. Mas à parte esta característica, temos uma passagem interessante entre dois planetas em distintos estágios de sobrevivência e luta, que é o tema do arco. De todo o trajeto, o único momento que me pareceu inteiramente sem sentido foi a sequência da moto entre o Doutor e Midge, com a subsequente explosão.

Nossa visão de “despedida” vem apenas pela gravação de um diálogo escrito por Cartmel e dublado por Sylvester McCoy, enquanto caminhava com Ace para fora do quadro. Após uma luta contra o Mestre (Anthony Ainley mal aproveitado, mas sempre interessante como ator, em cena) e a visita ao mundo de um dos vilões mais visualmente interessantes de Doctor Who (eu simplesmente adoro os Cheetah — um excelente trabalho da equipe de figurinos, maquiagem e desenho de produção de personagens), o Doutor e Ace partem para novas aventuras, sendo a primeira delas no livro Cidadela dos Sonhos (2002), de Dave Stone. Chegava ao fim o primeiro grande ciclo de Doctor Who. Ninguém sabia, mas ainda havia muita coisa boa esperando pela série no futuro… Por enquanto, era um fim.

There are worlds out there where the sky is burning, where the sea’s asleep and the rivers dream, people made of smoke and cities made of song. Somewhere there’s danger, somewhere there’s injustice, and somewhere else the tea’s getting cold! Come on, Ace — we’ve got work to do!

The Doctor

Survival (Arco #155) — 26ª Temporada
Direção: Alan Wareing
Roteiro: Rona Munro
Elenco: Sylvester McCoy, Sophie Aldred, Anthony Ainley, Julian Holloway, Lisa Bowerman, William Barton, Sakuntala Ramanee, Norman Pace, Gareth Hale, David John, Sean Oliver, Kate Eaton, Adele Silva, Kathleen Bidmead, Michelle Martin
Audiência média: 4,93 milhões
3 episódios (exibidos entre 22 de novembro e 6 de dezembro de 1989)

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