Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Revelation of the Daleks (Arco #142)

Crítica | Doctor Who – Série Clássica: Revelation of the Daleks (Arco #142)

por Luiz Santiago
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Revelation of the Daleks plano critico doctor who

estrelas 2,5

Equipe: 6º Doutor, Peri
Espaço: Tranquil Repose, Planeta Necros
Tempo: 4615 (?)

Assistir Revelation of the Daleks sabendo o que aconteceria com Doctor Who desde pouco tempo antes de o arco entrar no ar é como comprovar que nada é tão ruim que não possa ficar ainda pior. Desde o início da 22ª Temporada, os produtores da BBC, responsáveis pela divisão do orçamento e controle de programação (destaque absoluto para os odiosos Jonathan Powell e Michael Grade) passaram a perseguir a série, começando por cortar ao máximo o dinheiro para a temporada e terminando por manobrar a grade de exibição, inicialmente com a intenção de cancelar a série durante o que deveria ser o hiato, mas esses planos foram frustrados por campanhas midiáticas, protestos fervorosos de fãs e engajamento de diversas pessoas ligadas ao entretenimento e que amavam a série. Em 15 de maio de 1985, pouco mais de uma semana antes de o primeiro episódio de Revelation of the Daleks ir ao ar, foi lançada a campanha Doctor In Distress que reunia estrelas de Doctor Who e personalidades da TV britânica cantando para salvar o show (algo bem anos 80). É algo realmente bonito — e engraçado… e emocionante — de se ver e foi um bem vindo tapa na cara de Powell e Grade que, mesmo não cancelando a série, tornaram a sua existência muito difícil, estabelecendo, para começar, um hiato de 1 ano e 6 meses!

É preciso convir, no entanto, que a qualidade dos roteiros de Doctor Who nesta época estava bastantes aquém do que já tinha apresentado, e isso se faz ver com bastante força nesse arco-finale da 22ª Temporada. O autor do texto, Eric Saward, escreveu a trama em seu período de férias, antes da renovação do contrato como Editor de Roteiros, pois sendo empregado neste cargo, a BBC proibia que houvesse “acúmulo de tarefas”, ou seja, Editores de Roteiro não poderiam submeter roteiros próprios para serem produzidos. A brecha encontrada pelo autor veio no período em que descansava em uma ilha grega, de onde tirou inúmeras inspirações para a sua história, a começar pela Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta, seguida por nomes pessoais, adjetivos, como o próprio nome do planeta “Necros”, que em grego significa “Cadáver”, e arquitetura interna do “Repouso Tranquilo”, com estátuas e colunas que lembram diferentes momentos da civilização grega. Importante não atribuir à parte externa do lugar uma aproximação grega, porque na verdade há um misto de futurismo e Egito Antigo ali, visual muitíssimo bem composto e pensado, por sinal.

A história começa com o Doutor e Peri chegado ao gelado planeta Necros. O Time Lord recebeu o chamado para o velório do amigo Arthur Stengos, um dos maiores agrônomos da Galáxia. O que mais chama a atenção em um primeiro momento é a belíssima adição de um casaco (em Peri) e uma capa (no Doutor) azuis, detalhe do figurino que em contraste com a neve nos deu uma das melhores imagens de figurino + ambiente desta temporada. Infelizmente, Peri está insossa nessa história, com mais medo do que de costume, pedindo o tempo inteiro para voltar para a TARDIS e tendo apenas alguns pontos de ação louváveis ao longo dos dois episódios.

A trama se desenrola, portanto, em três vias. A primeira, com o Doutor e Peri; a segunda, com os preparativos do corpo da mulher do Presidente (bloco que carrega o plot satírico/humorístico do arco, tendo sido inspirado no livro The Loved One: An Anglo-American Tragedy, 1948, de Evelyn Waugh) e a terceira em dois lugares distintos do prédio principal do “Repouso Tranquilo”, no laboratório de Davros e na sala do DJ, esta última, a pior parte de toda a história, especialmente no primeiro episódio. Alexei Sayle, humorista escalado para o papel do DJ (papel que deveria ter sido de Roger Daltrey, do The Who — e isso seria uma piada interna valiosa, não?) era um grande fã da série e tinha escrito um artigo há pouco tempo falando que ele deveria ser o próximo Doutor. Infelizmente, o papel que lhe deram para interpretar aqui não foi dos melhores. Até a justificativa para a existência do DJ é estúpida, eu realmente não consigo acreditar que Eric Saward e mesmo JNT tenham colocado isso na versão final. Mesmo melhorando no segundo episódio, fica impossível gostar de verdade do personagem.

Aqui vemos mais uma vez Davros lutando para (re)dominar suas criaturas, tendo diante de si um impasse de comportamento, também aliado a experimentos científicos questionáveis. Notamos que ele sobreviveu ao vírus Movellan contraído em Resurrection of the Daleks e aqui tem um destino final mais ou menos na mesma linha, se bem que conseguimos vê-lo ser resgatado — parte da trama que é estendida e finalmente explicada no áudio The Davros Mission, a sequência desta história e onde vemos a mão destruída do skariano ser substituída por uma prótese metálica. Vale aqui também uma nota para os belíssimos Daleks transparentes, que foram uma ideia inicial de Terry Nation desde The Daleks, mas que na época a BBC não tinha dinheiro e nem a produção tinha tempo para fazer vilões tão bem trabalhados.

Em toda essa jogada de poder, corpos “roubados”, experimentos condenáveis, uma nova geração de Daleks [exterminada por Orcini, cavaleiro da Grand Order of Oberon, ao final do arco) e um drama sócio-político que tem uma explicação absurdamente macabra — as pessoas estavam comendo proteína da carne dos mortos enviados para o “Repouso Tranquilo”!!! — Revelation of the Daleks é o tipo de história medíocre com algumas coisas boas em seu enredo. Para mim, o primeiro episódio é o pior e o papel do DJ ali tem um grande peso nisso. No segundo, pesa o desenvolvimento dos personagens secundários, que na crítica feita pelo roteiro até podem ganhar algum valor, mas em termos de construção dramática não estão bem inseridos na história. E pela primeira vez devo concordar com alguns de meus colegas e leitores sobre a relação entre Peri e o Doutor: aqui, a dupla simplesmente não funciona. Chega a incomodar a interação entre os dois, na verdade.

No final, o Doutor originalmente dizia que levaria Peri para Blackpool (uma das áreas de Lancashire, Inglaterra), mas devido ao cancelamento do arco The Nightmare Fair, que deveria ser a abertura da 23ª Temporada (totalmente remodelada, depois do corte), a produção editou a palavra “Blackpool”, deixando apenas um frame congelado do Doutor, uma péssima forma de finalizar uma temporada, mesmo que sejamos bonzinhos e levemos em consideração a surpresa do que poderia ser aquele lugar não dito. Após a finalização do arco, os espectadores já estavam sabendo que passariam 18 meses sem um único episódio de Doctor Who e a onda de más notícias continuou, com o anúncio da Produção Executiva de que o show teria ainda mais cortes no orçamento, que a temporada não seria estendida, apesar do encurtamento dos episódios (mantiveram-se encomendados 14 capítulos de 24 minutos) e em breve viria à tona a ideia de um tema único que ligasse todo o vigésimo terceiro serial, a exemplo da saga da Chave do Tempo, na 16ª Temporada. Uma era de muitas brigas de bastidores e contagem lenta para o cancelamento da série definitivamente começava.

Revelation of the Daleks (Arco #142) — 22ª Temporada
Direção: Graeme Harper
Roteiro: Eric Saward
Elenco: Colin Baker, Nicola Bryant, Terry Molloy, Eleanor Bron, Hugh Walters, Clive Swift, Jenny Tomasin, Trevor Cooper, Colin Spaull, Alexei Sayle, William Gaunt, John Ogwen, Stephen Flynn, Bridget Lynch-Blosse, Alec Linstead, Penelope Lee
Audiência média: 7,55 milhões
2 episódios (exibidos entre 23 e 30 de março de 1985)

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