Home QuadrinhosMinissérie Crítica | Doctor Who: Quadrinhos da “TV Comic” – 1º Doutor (1965)

Crítica | Doctor Who: Quadrinhos da “TV Comic” – 1º Doutor (1965)

por Luiz Santiago
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Os quadrinhos de Doctor Who começaram a ser publicados na revista TV Comic em 1964, estreando com uma história chamada The Klepton Parasites. O leitor pode conferir as críticas para das 7 primeiras comic strips da revista neste link.

O presente grupo de textos traz as reviews para as histórias do ano de 1965, no período que vai de 24 de julho a 31 de dezembro. A primeira parte dessas edições pode ser conferida em Quadrinhos da “TV Comic” – 1º Doutor (1964 – 1965).

Boa leitura a todos!

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Moon Landing

Equipe: 1º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Lua, 20/07/1970

Batatas. Gravadores de voz. Extinguidores de fogo. Pára-quedas. Quadros mágicos. Nessas séries da TV Comic, o 1º Doutor é um verdadeiro MacGyver das galáxias.

Esta história, apesar de ser muito ruim, carrega uma profecia que quase se cumpriu, o que me faz dar-lhe muitos méritos pela coincidência. E também porque eu ri muito durante a leitura, claro.

Segundo os eventos aqui narrados, o homem chegou à Lua no dia 20/07/1970. Lembre-se que estamos falando de uma história em quadrinhos escrita em 1965, em pleno afã da Corrida Espacial e da Guerra Fria. Pois bem. No dia 20/07/1969, exatamente um ano antes do que foi previsto aqui, a Apollo 11 chegou ao nosso satélite – e aqui não vou entrar na discussão se o negócio aconteceu de verdade ou se foi filmado pelo Stanley Kubrick.

O roteiro é bastante didático, trazendo informações sobre a gravidade da Lua em comparação com a da Terra; a não-propagação do som no vácuo etc. O lado bom e bizarro de tudo isso é que a relação do Doutor com os astronautas terráqueos é divertidíssima, simplesmente porque os astronautas parecem ter faltado a todas as aulas do treinamento! E para fechar com chave de ouro, o Doutor dá para seus netos um dispositivo capaz de fazê-los respirar na Lua. Mas em dado momento da história, esses dispositivos simplesmente desaparecem e o Doutor e os netos conseguem respirar e falar normalmente sem eles! É muito divertido! Todo mundo deveria ler essas histórias!

Moon Landing (Reino Unido) – Jul/Ago, 1965
História republicada na Doctor Who Classic Comics #22 (Junho de 1994)
Minissérie em 3 partes
Arte: Neville Main
6 páginas

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Time in Reverse

Equipe: 1º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Terra, local indeterminado, 1965

 _ Você não pode nos levar de volta para a TARDIS, vovô?

_ Infelizmente não! Este barco insiste em ir na direção contrária!

Embora não haja nenhuma indicação de cidade ou país onde essa história se passa, sabemos que é em algum lugar do planeta Terra e, a julgar pela aparência dos soldados e a recepção das Forças Armadas, eu diria que trata-se de algum país do Leste Europeu (comunista, claro), durante a Guerra Fria…

A história aqui foi concebida como algo bastante ambicioso, o que de alguma forma torna a leitura muito interessante e eu não estou sendo irônico. O título da minissérie deixa bem claro do que se trata. O Doutor e seus netos estão presos a uma linha temporal que acontece de trás pra frente (o que explica o diálogo que eu reproduzi no início dessa crítica). Até os últimos quadros da aventura, eu estava realmente feliz que iria finalizar a primeira história excelente da TV Comi, mas eis que vem a “explicação” e tudo é posto a perder.

Todavia, por mais insultante à inteligência que seja a explicação dada no roteiro, não tem como negar que o seu projeto de manipulação do tempo merece aplausos. Por um momento, durante a leitura, tive lembranças de The Space Museum, o arco do 1º Doutor que mais trabalha com elementos estruturais da ficção científica e da própria essência da série. Mas ao contrário desse arco, Time in Reverse só é bom em sua ideia geral.

Time in Reverse (Reino Unido) – Ago, 1965
História republicada na Doctor Who Classic Comics #22 (Junho de 1994)
Minissérie em 3 partes
Arte: Neville Main
6 páginas

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Lizardworld

Equipe: 1º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Planeta não nomeado, tempo indeterminado.

_ Ah, we have arrived somewhere!

Bom… deve ser por essa sabedoria que chamam ele de Doutor, não é mesmo? Vejam a profundidade e o caráter de novidade científica que pautam essa linha dita pelo Time Lord a John e Gillian! Sensacional!

Essa história é bem pior que a do tempo de trás pra frente. Parece que a cada nova aventura o roteirista encontra uma forma inovadora de cometar estupidez e absurdos.

Essa aventura do planeta dos lagartos (ei, olha um bom título de filme aí!) pode acabar enganando muita gente, porque o efeito de fofura dos lagartões – que em alguns momentos parecem Gollums gigantes – é altíssimo. Eles não são vilões, propriamente dito. São, na verdade, bem amigáveis. Me pareceu que só queriam fazer amiguinhos e o Doutor e seus netos eram os únicos (até que se prove o contrário) humanos nesse planeta.

É difícil enumerar todas as coisas bizarras que acontecem aqui, mas acredito que o destaque vai para dois momentos; o primeiro, quando o Doutor faz um lagartão dormir através de hipnose (sim, você leu certo!); e o segundo, a elipse burra e aterradora do último quadro, quando a história acaba no pior Deus ex machina que eu já vi em toda a minha vida (e olha que eu tenho lido muita HQ porcaria ao longo dos anos!).

Pelo menos a participação de Gillian na história se tornou mais ativa, o que é um ponto positivo. E a cara dos lagartos é bonitinha, então a história se torna agradável de ler, mas é uma verdadeira coleção de idiotices e coisas mal escritas. Eu ainda acho que o roteirista dessas histórias era um Dalek, que resolveu publicar essas coisas na TV Comic só para ridicularizar o Doutor.

É importante lembrar que esta foi a última história de Neville Main como desenhista de DW na TV Comic, e também a última história em preto e branco da revista (para entender por que elas aparecem coloridas aqui, leia a apresentação deste texto), pelo menos até The Hunters of Zerox (1966).

Lizardworld (Reino Unido) – Set, 1965
História republicada na Doctor Who Classic Comics #23 (Agosto de 1994)
Minissérie em 4 partes
Arte: Neville Main
8 páginas

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The Ordeals of Demeter

Equipe: 1º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Planeta Demeter, tempo indeterminado

O artista mudou e (provavelmente) o roteirista também, mas as falhas no texto ainda podem ser vistas, se bem que a trama dessa aventura é bem mais centrada e até madura do que as anteriores desse mesmo ano (à exceção da história com o flautista de Hamelin).

Me parece que o padrão aqui era fazer uma série de referências à cultura pop, a começar pela concepção estética do planeta Demeter, onde a TARDIS se materializa. O local e os homens do planeta se parecem bastante com os das aventuras de Flash Gordon. Além disso, alguns desenhos feitos de John o tornam muitíssimo parecido com Howdy Doody, e tem uns 3 ou 4 quadros em que o Doutor está a cara da Olympia Dukakis.

A trama parece bastante interessante à primeira vista. Demeter é um planeta de humanoides que vivem em uma avançada tecnologia mas se organizam e se vestem como se fossem antigos romanos. É divertido ver isso. Desde o início sabemos que eles possuem batalhas constantes contra os robôs do Planeta Bellus, que é simplesmente explodido pelo Doutor nessa história, através de um componente da TARDIS chamado “Tremulator”.

Não me parece algo que o 1º Doutor faria. Está mais para uma atitude do War Doctor ou do 9º Doutor. Mas enfim.

A mudança de desenhista parece ter feito bem aos quadrinhos da TV Comic, pelo menos se compararmos essa história com a terrível aventura no planeta dos lagartos (Lizardworld) comentada logo acima. Mas uma coisa é certa: Bill Mevin tinha sérios problemas com proporções de personagens e objetos nos quadros. Eu já vi muita Arte Bizantina com profundidade de campo e proporção muito melhores que as dele nesses quadrinhos.

The Ordeals of Demeter (Reino Unido) – Out, 1965
História republicada na Doctor Who Classic Comics #7 (Maio de 1993)
Minissérie em 4 partes
Arte: Bill Mevin
8 páginas

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Enter: The Go-Ray / Burn-Out

Equipe: 1º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Planeta Go-Ray, tempo indeterminado

Não é possível dizer quando essa aventura se passa, mas o Doutor, conversando com John, diz que “já faz muitas centenas de anos que alguém com pernas pisou nesse planeta” (os Go-Rays se movem sobre rodas), o que nos faz perguntar: como o Doutor sabia disso? Provavelmente foi ele quem esteve lá por essa ocasião (como também me pareceu que ele já tinha visitado o Planeta Demeter, na história anterior). De qualquer forma, este é apenas um dado a ser notado, mas não nos ajuda a localizar a história em um ponto específico do tempo…

O Doutor e seus netos lutam aqui contra uma raça alienígena muito estranha – como já disse anteriormente, eles caminham sobre rodas. O interessante desse The Go-Ray é que o efeito fofura ataca mais uma vez, porque os nativos do planeta, apesar da cara de batata (babatas de novo na vida do 1º Doutor!) são bonitinhos e não dá para levá-los tão a sério. Eles também parecem (e agem) como aliens estúpidos, o que faz com que não acreditemos em suas ameaças ou planos mirabolantes.

O que mais incomoda no texto é que o Doutor poderia tranquilamente ter entrado na TARDIS, em dado momento, e saído do planeta com seus netos, mas ele prefere ficar e provar um ponto que só faria bem ao ego dele! Tudo bem que o 1º Doutor tinha seus arroubos egoicos, mas isso é demais, até pra ele!

O ponto de ruptura aqui é tão fraco, que é necessário fazer alguns rodeios para conseguir levar a história até o fim da minissérie. E eu que achei que a mudança ocorrida com a aventura do planeta Demeter seria um bem permanente na TV Comic…

Enter: The Go-Ray / Burn-Out (Reino Unido) – Out/Nov, 1965
História republicada na Doctor Who Classic Comics #7 (Maio de 1993)
Minissérie em 4 partes
Arte: Bill Mevin
8 páginas

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Shark Bait / Dr. Who Meets the Frog People

Equipe: 1º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Planeta não nomeado, tempo indeterminado

Certo, vamos fazer um cômputo da aventura: um planeta com sapos falantes (até aí tudo bem), com oceanos de oxigênio – água em cima, ar em baixo -, um tubarão devorador de sapos, um cavalo marinho com rédeas, um polvo gigante que sente cócegas nos tentáculos, areia movediça no solo do oceano de oxigênio, um marinheiro humano (ou humanoide) vivendo no meio dos sapos, e a construção de uma casa de maneira com teto de palha sendo que nunca antes foi mostrado esses materiais no local… Que podemos dizer sobre isso?

Sinceramente, esta é uma das piores HQs já escritas e desenhadas de todos os tempos. Uma candidata forte a ser a pior de DW (quem dera eu pudesse ler tudo para afirmar isso com prazer e certeza absoluta!). Tudo o que se passa aqui parece ter sido feito por alguém bem chapado e desenhado por um Bill Mevin com muito, muito sono.

O impasse da areia movediça que aparece em dois lugares diferentes (em cima e em baixo da água/ar/oceano/sei-lá-o-quê) é talvez a chave de lama para a história, que ainda consegue trazer a inexplicável construção da casa, já que o velho marinheiro tinha feito da TARDIS desaparecida a sua morada. Esse é o tipo de história que deveria ter desaparecido por completo dos arquivos da TV Comic. E todas as revistas vendidas deveriam ter desaparecido também.

Shark Bait / Dr. Who Meets the Frog People (Reino Unido) – Nov/Dez, 1965
História republicada na Doctor Who Classic Comics #10 (Agosto de 1993)
Minissérie em 4 partes
Arte: Bill Mevin
8 páginas

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A Christmas Story

Equipe: 1º Doutor, John e Gillian
Espaço-tempo: Polo Norte de um planeta não nomeado, dezembro de um ano indeterminado (futuro distante).

Até um certo ponto da leitura dessas péssimas histórias publicadas na TV Comic, eu estava me divertindo. Por mais estranhas que fossem as histórias era possível rir das caras e bocas das personagens, das falas estúpidas e das tramas burras. Nada fazia sentido, mas era engraçado. Só que essas duas últimas publicações simplesmente tiraram toda a graça da coisa. O negócio é tão ruim, mas tão ruim, que deixa de ser engraçado e passa a enfurecer o leitor.

A trama aqui se passa no mês de dezembro, um pouco antes do Natal, ao que tudo indica. Não há datação nenhuma na história, mas é quase certeza que ela tenha lugar no futuro, porque o Papai Noel se muda para o Polo Norte de outro planeta porque o NOSSO Polo Norte estava “muito barulhento” e “cheio de aviões e coisas parecidas”. Ora, em nenhum momento da História do nosso Planeta (nem na época dos Silurians) o Polo Norte foi barulhento e cheio de aviões. Então podemos dizer que a aventura se passa em um futuro distante.

O Doutor e seus netos ajudam o Papai Noel a fazer uns modelos de TARDIS (baita marketing para vendas de brinquedos, não?), enquanto o gordão de barba branca ficava olhando. O engraçado é que o Papai Noel vai para um planeta por causa do barulho da Terra, mas acaba encontrando um Demônio Mágico, uma espécie de bruxo (vide foto de destaque para essa história) que interrompe seus planos. O Doutor acaba usando uma “caixa mágica” que tem o poder de aumentar e diminuir objetos, um objeto que me lembrou bastante o “Tissue Compression Eliminator” do Mestre, usado pela primeira vez no arco Terror of the Autons (1970).

A Christmas Story acaba sendo uma mistura de propaganda consumista, mensagem de “Boas Festas” para leitores e muito, muito nonsense. Outro quadrinho de DW que ninguém deveria fazer questão de ler.

A Christmas Story (Reino Unido) – Dez, 1965 / Jan, 1966
História republicada na Doctor Who Classic Comics #15 (Janeiro de 1994)
Minissérie em 4 partes
Arte: Bill Mevin
8 páginas

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