- Há SPOILERS! Leia aqui as outras críticas da Nova Série. E aqui as críticas da Série Clássica. Para livros, áudios, quadrinhos e listas de Doctor Who, clique aqui.
Em Village of the Angels eu indiquei a possibilidade de “retorno de todo mundo ao final” desse ano, e parece que é isso mesmo que teremos no encerramento da montanha-russa que corre para todos os lados chamada 13ª Temporada. Depois de um ótimo capítulo com os dois pés no chão, passamos para um que voa desajeitadamente para todos os lugares, fruto de uma montagem paralela mostrando o núcleo da Doutora após ser capturada e transformada pelos Anjos; Vinder e Bel em suas respectivas aventuras; Prentis/Grand Serpent tomando conta da UNIT em diferentes Eras; e, por fim, o pior bloco de todo o episódio: Yaz, Dan e Eustacius Jericho fazendo uma volta ao mundo.
Só o sumário de todos os caminhos narrativos desse capítulo deixam a gente com dor de cabeça e é mais ou menos por essa estrada que o roteiro de Chris Chibnall insiste em caminhar aqui em Survivors of the Flux. Se o autor “se dá o trabalho” de começar a indicar respostas em relação à Divisão — e são respostas de medianas a ruins, vamos deixar isso bem claro — ele se banha em condescendência ao acrescentar ainda mais perguntas e caminhos misteriosos… logo no penúltimo episódio da temporada! Ou seja, eis aqui, impresso em letras de má narrativa, o certificado de que o Finale de Flux será corrido e muito provavelmente não fará jus à temporada como um todo, empurrando grandiosas coisas para os Especiais de 2022. Como se já não tivéssemos frustrações o bastante com esse ano da série.
As andanças Vernianas de Yaz, Dan e professor Jericho numa missão por diversos lugares do mundo é iniciada em elipse e já aparece para nós como fato dado. Isso não teria problema se o foco do episódio fosse justamente essa caminhada para um objetivo dúbio que se indica parcialmente com alguma resposta no final. Todavia, o enredo explora outras coisas, de modo que ver esse grupo tão bem estabelecido e tendo condições de andar de país para país à procura de algo para salvar a humanidade termina sendo uma ação forçada do autor para dar alguma coisa para esses personagens fazerem. Se fosse para fazer uma temporada de tantas buscas, então que a Doutora estivesse sozinha esse ano, porque a aplicação de atividades para os companheiros aqui se alteram de qualidade muito mais que a instável temporada. Não é nem questão de buscar elementos realistas para explicar os recursos utilizados por eles para tais viagens. A questão é mesmo resolver eventos importantes em elipse e achar que o espectador deve ficar bem com isso porque “pelo menos os companions estão sendo utilizados em algo prático“. Como se isso bastasse.
A ação de Prentis/Grand Serpent diante da UNIT é o mistério da vez, e eu não pude estar mais indiferente em relação a tudo o que esse personagem está fazendo na Terra. Nem a aparição de Kate, no presente, nem as indicações que vimos da Série Clássica, no passado, ajudaram a levantar esse bloco. Um vilão que apareceu ligado a Vinder, de repente se torna representante de algo que irá completar o ataque à Terra. O plot de coelho na cartola provavelmente virá dizendo que ele é um agente da Divisão, porque Chibnall realmente não parece mais preocupado em desenvolver e explicar suas escolhas de criação de problemas, ele apenas indica os tais pontos problemáticos e tenta justificar isso ligando, de última hora, todos os enredos menores a alguma coisa grande, princípio de construção que eu já explorei com citação teórica, inclusive, na crítica de Once, Upon Time.
E eis que a tal personagem Awsok é uma regeneração de Tecteun, a exploradora gallifreyana que encontrou a Criança Atemporal que se transformaria na Doutora. Tudo bem que a gente já viu problemáticas morais grandes em relação à personagem lá em The Timeless Children, mas daí até o pulo gigantesco que temos para ela nesses eventos do Fluxo, me pareceu outra coisa empurrada em demasia. De todo modo, é uma forçação fácil de encaixar dramaticamente no episódio, o que faz desse bloco da Doutora o único textualmente bom. O relógio com as memórias guardadas e as migalhas de explicação sobre a Divisão dão um pouco de chão para o espectador. Infelizmente, o mesmo não acontece com a “EXPLICAÇÃO PARA A ORIGEM DO FLUXO”. Eu confesso para vocês que meu queixo caiu de incredulidade quando Tecteun explicou o “motivo” para a Divisão ter jogado o vírus do Fluxo no nosso Universo. Tudo porque eles queriam dar uma lição na Doutora, acabar com o Universo que ela tanto quis salvar e com todas as pessoas que ela conseguiu inspirar… Haja paciência para aguentar uma justificativa dessas.
A volta da temática da Criança Atemporal poderia dar para esse episódio uma cara mais plácida, unificando temas que foram abordados em outras temporadas e deixando bem preparado o terreno para o final desse último ano de Chris Chibnall no comando da série. Esta era a expectativa, pelo menos. A realidade foi mais um tsunami de mistérios, algumas migalhas de respostas, outras migalhas de indicação para possíveis respostas no Finale e muito desvio narrativo para apresentação de personagens que até agora tinham tido apenas função de cameo ou mesmo função nenhuma! Em toda a trajetória da série, eu nunca vi um plot central de temporada tão bagunçado logo antes de ser encerrado. O que esperar do final de Flux? Mais condescendência dizendo que “a temporada é uma ponte para os Especiais“? Pseudo-respostas cobertas por um manto épico? Mais dúvidas ou coisas importantes construídas em elipse? A sorte está lançada. A rifa Chris Chibnall de planejamento ruim de enredo de uma temporada está aberta. Façam suas apostas!
Doctor Who: Flux – 13X05: Survivors of the Flux (Reino Unido, 28 de novembro de 2021)
Direção: Azhur Saleem
Roteiro: Chris Chibnall
Elenco: Jodie Whittaker, Mandip Gill, John Bishop, Jacob Anderson, Jemma Redgrave, Silas Carson, Craige Els, Barbara Flynn, Thaddea Graham, Jonny Mathers, Kevin McNally, Steve Oram, Craig Parkinson, Rochenda Sandall, Sam Spruell
Duração: 50 min.