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Crítica | Doctor Who: Eu Sou Um Dalek, de Gareth Roberts

Uma história Dalek na estreia do selo Doctor Who Quick Reads.

por Rafael Lima
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Equipe: 10º Doutor, Rose
Espaço: Inglaterra
Tempo: 2006

A Noveleta Eu Sou Um Dalek marcou o lançamento do Selo Doctor Who: Quick Reads, da BBC Books, que como o próprio nome diz, visa apresentar leituras mais rápidas e diretas para os fãs mais jovens de Doctor Who do que aquelas trazidas no selo New Series Adventures. Para escrever este primeiro livro da série, foi chamado Gareth Roberts, que tendo em vista o público-alvo da nova linha, escolheu os vilões mais populares da série, os Daleks, para serem os antagonistas. Na trama, situada entre os episódios New Earth e Tooth And Claw, o Décimo Doutor e Rose Tyler tentam visitar a Lua, mas em vez disso, a TARDIS os acaba levando para uma pequena vila litorânea britânica onde está ocorrendo uma escavação arqueológica. Enquanto isso, Kate Yates, uma jovem endividada e sem perspectiva, acaba sendo atropelada ao atravessar a rua, despertando algo terrível que estava adormecido dentro dela, ao mesmo tempo em que os arqueólogos liberam um mal que o Doutor e Rose conhecem muito bem.

Eu Sou Um Dalek é uma noveleta bastante direta em sua narrativa, desenvolvendo a maior parte dos dramas e conflitos de seus personagens na dinâmica da ação, o que proporciona à obra um ritmo acelerado. Gareth Roberts consegue de fato transmitir ao leitor a sensação de estar assistindo a um episódio da era Davies, não só por transpor o 10º Doutor e Rose para as páginas com precisão, reproduzindo a dinâmica que David Tennant e Billie Piper traziam para a televisão, mas pela própria forma como constrói a atmosfera e as situações, em muito lembrando os primeiros anos da Nova Série. Entretanto, ao adotar essa abordagem, Roberts poderia facilmente cair na armadilha que outros autores geralmente caem, que é transformar a sua história em um roteiro, esquecendo-se das vantagens que a linguagem puramente literária traz. Felizmente, o autor não cai nessa cilada e entende que existem personagens que podem ser desenvolvidos na ação, como o Doutor e Rose — especialmente por já os conhecermos da TV — e aqueles precisam de um desenvolvimento um pouco mais íntimo. É o caso de Kate, que acaba fornecendo o principal ponto de vista humano da trama, mesmo que passe a maior parte da narrativa possuída por um Dalek. 

Mas antes dessa possessão, Roberts dedica um bom tempo a nos apresentar a jovem como alguém que viu os seus sonhos e ambições de ter uma vida na cidade grande, longe das limitações de seu pequeno vilarejo, arruinadas após ser enganada pelo ex-namorado, que fugiu deixando-a completamente endividada, forçando-a voltar para a casa dos pais. Assim, sentindo-se sozinha e fracassada, quando o Fator Dalek se manifesta dentro dela, percebe-se que a ideia de hegemonia e desvalorização do indivíduo proposta pelos vilões torna-se sedutora para uma jovem que está com a autoestima em frangalhos.

A noveleta utiliza-se muito bem da mitologia do programa em torno dos Daleks para construir a sua narrativa, valendo-se tanto de elementos da Série Clássica, como o fator Dalek visto em The Evil of The Daleks; como da Nova Série, com o trauma da Guerra do Tempo fazendo-se presente. Roberts é claramente influenciado pelo episódio Dalek, ao colocar o 10º Doutor enfrentando um único Dalek confuso com o desfecho da Time War, e usa daquele episódio a representação do Dalek como uma figura que pode ser letal mesmo sem os seus recursos usuais. Nesse sentido, vale a pena observar como o escritor lida com as passagens de ação, mostrando o nível de caos e destruição que um único Dalek é capaz de provocar, conseguindo isso através de uma prosa fluida e imagética, que estabelece de forma eficiente uma aura ameaçadora em torno do vilão.

Embora a narrativa se desenrole de forma ligeira, e esteja recheada de ação e sentimento de urgência, todos os arcos dramáticos são muito bem construídos especialmente pelo autor optar por trabalhar com relativamente poucos personagens. Essa revela-se uma escolha acertada, pois Roberts pode construir bem as dinâmicas dos personagens que tem,  vide a luta de Rose para resgatar a humanidade de Kate e livrá-la da influência Dalek, ou a relação de confiança que o 10º Doutor estabelece com o chefe da escavação arqueológica.

Com Eu Sou Um Dalek Gareth Roberts entrega uma noveleta dinâmica e divertida, que brilha justamente pela simplicidade com que entrega conflitos bastante humanos como ambições frustradas, solidão e baixa autoestima, tudo perfeitamente articulado com as características de uma boa história do Doutor contra um Dalek. Está muito longe de ser o melhor livro de Doctor Who, ou qualquer coisa que se assemelhe, mas entrega o básico da série de forma muito honesta e competente, e as vezes essa honestidade e despretensão é justamente o que queremos de uma leitura rápida. 

Doctor Who: Eu Sou Um Dalek (I Am A Dalek), Reino Unido. 18 de Maio de 2006.
Autor: Gareth Roberts
Publicação: BBC Books
Doctor Who: Quick Reads 01
98 Páginas

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