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Crítica | Doctor Who: Doctormania

Velhos inimigos e futuros velhos amigos na primeira mensal do Nono Doutor.

por Rafael Lima
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Em 2015, a Titan Comics trouxe o Nono Doutor de volta às HQs após quase dez anos de ausência com a minissérie Armas De Destruição do Passado, que teve ótima recepção. Sendo assim, a editora não perdeu tempo, lançando já no ano seguinte uma série mensal estrelada pelo Time Lord de Christopher Eccleston, que tem os seus primeiros arcos reunidos no encadernado Doctormania, lançado pela Titan em 2017, com todas as histórias escritas por Cavan Scott. A seguir, as resenhas das histórias do encadernado. 

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Hacked

Equipe: 9º Doutor, Rose, Jack
Espaço: Olho de Orion
Tempo: Desconhecido

Esta One-Shot foi publicada pela Titan em 2016, servindo como um aperitivo para a vindoura série mensal. Na trama, o 9º Doutor leva Rose e Jack para conhecer o Olho de Orion (visto em The Five Doctors), mas ao chegarem lá, descobrem que o planeta está sendo geohackeaddo, tendo a sua superfície modificada por um grafiteiro interplanetário capaz de modificar a matéria. 

O roteiro de Cavan Scott é direto ao trazer o Doutor e seus companheiros enfrentando um grafiteiro em escala global, que acha que a sua arte é mais importante que os danos que a sua alteração dos ambientes dos planetas podem causar. É uma história rápida, sem muitos atrativos, apesar da forma divertida como o Doutor vence o vilão. O que acaba chamando mais a atenção é a arte de Mariano Laclaustra, que reproduz de forma convincente os traços do elenco da 1ª Temporada da Nova Série, além de trazer ilustrações de cenários muito bonitas. A história funciona, mas é bem esquecível.

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Doctormania

Equipe: 9º Doutor, Rose, Jack
Espaço: Planeta Gharusa Prime, Planeta Clix
Tempo: 3764

Doctormania traz inicialmente a proposta metalinguística de colocar o Doutor lidando com o sucesso da série. Na trama, a TARDIS capta uma mensagem enviada pelo Capitão Jack, convocando a si mesmo para ir ao planeta Gharusa Prime. Como Jack não se lembra de ter enviado o vídeo, o time da TARDIS vai investigar a fonte da transmissão em Gharusa Prime, mas ao chegarem lá, descobrem que o Doutor é o grande ídolo da população, devido ao programa Doctor Who?, que conta as suas aventuras. Na primeira parte, o arco mergulha em uma brincadeira metalinguística, mostrando a exasperação do Doutor diante da comoção que a série que retrata a sua vida provoca. Através de uma fã adolescente de Doctor Who?, o texto de Cavan traz comentários e referências divertidas à história da série, ao fandom, e às críticas feitas ao show. O desfecho da primeira parte também apela para a nostalgia, ao revelar a presença dos Slitheen na trama, vilões que se tornaram sinônimos da era do 9º Doutor.

 Já no restante do arco, a Doctormania é abandonada, para focar em uma trama sobre o governo da raça dos Slitheen, que se revela pior que a própria família de criminosos. É uma história divertida, mas que não tem o brilho da primeira edição, além de soar como propaganda enganosa, pois o tema do título está só na Parte Um. A arte da brasileira Adriana Melo é funcional, embora nem sempre os desenhos acompanhem o dinamismo do roteiro. O arco é um capítulo interessante da rivalidade entre os Slitheen e o 9º Doutor, mas esperava mais Doctormania nessa história.

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The Transformed

Equipe: 9º Doutor, Rose, Jack, Mickey (pequena participação de Martha Jones)
Espaço: São Francisco (Estados Unidos)
Tempo: 2016

Em The Transformed, ao atender um pedido de socorro em São Francisco, o 9º Doutor descobre que o chamado veio de Mickey Smith, o ex-namorado de Rose, embora esse seja um Mickey mais velho do que o que o Doutor conhece. Enquanto mantém Rose longe do rapaz para evitar problemas com o tempo, o Time Lord concorda em ajudá-lo a resgatar a esposa, que se transformou em uma criatura monstruosa. Ao mesmo tempo, Rose e Jack conhecem um grupo de jovens com poderes sobre humanos, que agem como heróis locais.

Reunir o 9º Doutor com um Mickey pós 10º Doutor é curioso, pois o gallifreyano, embora tenha vindo a respeitar o rapaz, continua não nutrindo simpatia por ele. Mickey, por sua vez, embora saiba que o 9º Doutor e o 10º Doutor (de quem foi companheiro) sejam a mesma pessoa, não consegue encarar as duas encarnações como o mesmo ser, vendo o Doutor de Eccleston como o homem que arruinou a vida que ele conhecia, e o Doutor de David Tennant como alguém que o ajudou a confiar em si mesmo, e o fez conhecer a sua amada esposa.

O texto trabalha bem a antipatia que o Doutor e o (futuro) ex-companion tem um com outro, até porque esse nem era o Doutor que Mickey procurava quando enviou o chamado. O arco é a história de Mickey selando a paz definitiva com o 9th, ao mesmo tempo em que planta a semente para a mudança de postura do Time Lord em relação ao rapaz em seu futuro pessoal. Mas enquanto a história de Mickey e do Doutor é bastante cativante, a trama de Rose e Jack envolvidos com um grupo de adolescentes com poderes à la Superman já não é tão engajante assim.

 Os dois núcleos até se costuram bem na segunda parte do arco, mas os personagens desse núcleo adolescente são tão sem brilho, que nos deixa apenas desejando que os trechos com o Doutor e Mickey voltem logo. Falando um pouco da arte de Cris Bolson (mais um brasileiro), que ilustra esse arco, ela traz um traço limpo que não só reproduz as emoções dos personagens de forma muito bem feita, como também parece brincar com as referências super heroicas da narrativa, com quadros altivos do pôr do sol e pompas voando geralmente ligada a figura de personagens como o Superman, o que é um toque interessante do desenhista. No geral, The Transformed vale pela divertida dinâmica entre o 9º Doutor, e o Mickey mais durão pós 10º Doutor, além da boa arte de Bolson, mas faltou alguns coadjuvantes mais interessantes no núcleo dos jovens, que ganham espaço demais em detrimento dos Companions.

No saldo final, Doctormania é um bom encadernado, que apresenta três histórias muito divertidas, ainda que falte a essas narrativas um atrativo maior, o que também vale para a arte, embora eu ache que as ilustrações se saem melhor (especialmente os desenhos de Laclaustra e Bolson). Tanto a One-Shot quanto os dois arcos possuem certo aspecto nostálgico resgatando cenários e personagens do passado do programa. Não há problema nenhum nesse recurso, e ele até é esperado; afinal, trata-se da mensal de um personagem que já encerrou o seu ciclo principal na televisão sendo trazido de volta aos quadrinhos. Mas sinto aqui uma oportunidade perdida de trabalhar mais um time da TARDIS que teve pouquíssimo tempo para ser explorado na TV, com somente The Transformed fazendo algo nesse sentido. Ainda assim, a coletânea vale a pena, e com certeza eu voltarei a essa série mensal para conferir mais aventuras desconhecidas do 9º Doutor, com a esperança de que esses arcos iniciais tenham sido apenas uma introdução.

Doctor Who: Doctormania (Reino Unido, 10 de Janeiro de 2017)
Publicação Original: Free Comic book day 2016, Doctor Who: The Ninth Doctor 01-05
Editora: Titan Comics
Roteiro: Cavan Scott
Arte: Mariano Lacaustra, Adriana Melo, Cris Bolson
128 Páginas

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