Home Audiodramas Crítica | Crônicas dos Companions – 4ª Temporada (Parte 2)

Crítica | Crônicas dos Companions – 4ª Temporada (Parte 2)

por Luiz Santiago
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The Emperor of Eternity

4X08

estrelas 2

Equipe: 2º Doutor, Jamie, Victoria
Espaço: China
Tempo: 210 a.C

O Doutor Jamie e Victoria chegam em uma região próxima ao Rio Amarelo, após terem feito uma manobra quase milagrosa para se desviarem de um meteoro, que acabou caindo na região. Baseado em uma história real sobre o meteoro e o assassinato de uma vila inteira por conta de uma profecia, e colocando em cena o Exército de Terracota (ou Guerreiros de Xian ou ainda Exército do imperador Qin), a aventura tem todos os ingredientes iniciais para dar certo. Mesmo que comece de forma muito abrupta e sem a boa relação — pendendo para o humor — do Doutor com Jamie e Victoria, há, visivelmente muita coisa para explorar. Mas Nigel Robinson nega isso, de todas as formas, ao espectador.

A exposição do horror diante das centenas de pessoas mortas faz o início da história ir para um caminho denso, para o qual o espectador se prepara, esperando ainda mais horrores ou uma trajetória cada vez mais difícil para os viajantes da TARDIS. Mas é nesse ponto que temos um dos grande impasses narrativos, porque não há coerência entre aquilo para o qual o texto nos prepara e o que será desenvolvido depois, especialmente em relação ao Doutor. Claro que existem alguns assassinatos, uns bem cruéis, por sinal, mas certas delicadezas e o desnecessário jogo de gato e rato do Imperador para conseguir a imortalidade são quase risíveis.

O pior de tudo, porém, é o final. Há muito eu não presenciava um final de uma aventura da Big Finish tão terrivelmente ruim. Imaginem que durante todo o tempo os personagens principais foram desenvolvidos como guerreiros nada misericordiosos, criados para conquistar, tendo vivido a maior parte de suas vidas com o desejo de matar, de impedir que outras pessoas fossem contra o que eles ordenassem. Então, ao conhecer alguns estrangeiros (destaca-se aqui a personagem de Victoria, que é quem faz a cabeça do Imperador mudar), esses indivíduos acabam adotando um modo de vida compassivo, respeitoso, que se importa com o outro. Definitivamente a parte final dessa aventura consegue estragar a maior parte do que veio antes. Poucas vezes um roteiro da Big Finish me deixou tão decepcionado.

The Emperor of Eternity (Reino Unido, Março de 2010)
Direção: Lisa Bowerman
Roteiro: Nigel Robinson
Elenco: Deborah Watling, Frazer Hines

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Shadow of the Past

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estrelas 4,5

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Equipe: 3º Doutor, Liz
Espaço: QG da UNIT
Tempo: UNIT – Ano 2 (passado) / c. 2010 (presente)

Essa história se passa depois do arco Doctor Who and the Silurians e do áudio Old Soldiers, estabelecendo algumas coisas sobre a UNIT ainda na primeira fase da estadia do Doutor na Terra e seu trabalho junto à organização. Mais uma vez são mostrados motivos graves e de descontentamento para a saída de Liz no futuro; Yates também é citado, já como Capitão, confusão que o leitor pode sanar facilmente lendo a crítica para o livro O Olho do Gigante; e Benton aparece no final, como substituto de um dos soldados mortos na batalha contra o Mim, uma raça de esponjas azuis, feita de tecido nervoso.

Como acontece na maioria das Crônicas dos Companions, dois tempos se entrelaçam. O primeiro, no presente, se passa durante os anos 2010, com Liz e um soldado da UNIT, no cofre secreto onde a espécie que combateram nos anos 70 estava guardada. Pela constituição bastante peculiar do vilão, capaz de se metamorfosear em qualquer pessoa, havia grande medo em abrir o local. O espectador não entende por que Liz quer contar a história para o soldado que está ali para protegê-la, mas a ação é aceitável, talvez para fazer com que ele se sinta à vontade em estar com ela. O desenvolvimento da trama, com o Doutor tentando de tudo para conseguir escapar e sua birra com o Brigadeiro pelos eventos recentes com os Silurians, é interessante e nos prende o tempo todo, tendo apenas um pequeno momento de estranheza quando o Mim se manifesta pela primeira vez.

O desfecho é realmente surpreendente. Não esperamos que a reta final da história tenha ganhado um rumo tão… complexo e ao mesmo tempo profundo. A reflexão ético-moral aqui é imediata e forte, nos fazendo pensar, inclusive, em reabilitação e integração de “pessoas más” na sociedade. Até que ponto é possível mudar de alguém com índole questionável para alguém compassivo, socialmente compatível (em termos de humanidade)? Esta é a pergunta que Simon Guerrier nos faz, nas entrelinhas. E é com certeza algo difícil de se responder.

Shadow of the Past (Reino Unido, Abril de 2010)
Direção: Lisa Bowerman
Roteiro: Simon Guerrier
Elenco: Caroline John, Lex Shrapnel

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The Time Vampire

4X10

estrelas 4,5

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Equipe: 4º Doutor, Leela, K9 / 3º Doutor
Espaço: Planeta Westtropi III, cidade de Omnipetoria
Tempo: 7432 / 7932 / Indeterminado

Aqui termina a Trilogia da Morte de Leela, que teve antes os episódios The CatalystEmpathy Games. Este é um episódio bastante importante e com uma excelente criação de um paradoxo. O roteiro de Nigel Fairs não deixa o drama de lado mas faz um ótimo trabalho dentro da ficção científica, explorando os momentos finais do martírio de Leela como prisioneira dos Z’Nai, e sua morte. Nesse ponto, é importante lembrar que pelo tempo que passou em Gallifrey, Leela tinha um metabolismo diferente (isso lhe foi concedido pelos Time Lords), inclusive com diferente característica de envelhecimento, por isso ela persiste tanto enquanto prisioneira e depois de ter propositalmente infectado e matado toda a raça dos Z’Nai, como vimos na abertura dessa trilogia.

O espectador precisa ficar bastante atento para a passagem dos cenários e dos diferentes tempos em que o drama principal acontece. Sem a devida atenção, os eventos poderão parecer soltos e contraditórios, atrapalhando a experiência. Por se tratar de uma história paradoxal, também é preciso ter em mente que a ordem dos eventos não será linear e que o conceito de intervenção dos Senhores do Tempo aqui é diferente, pois o 3º Doutor e seu companion, na época, Joshua Douglas (aqui em sua última aventura ao lado do Doutor) recebem ordem do próprio Conselho de Gallifrey para intervir.

K9 tem uma gloriosa participação nesse drama e protagoniza um dos momentos de mais apreensão, enquanto ouvimos tudo acontecer. Meu único impasse em relação a essa saga é como ela termina. O nome da aventura e o vilão Time Vampire (um dos vilões da história) são bastante propícios para designar o que acontece. Leela morre, é verdade. Mas ela não morre de verdade! Sua alma reencarna em uma bebê humana chamada Emily. Sinceramente, isso me incomodou MUITO. A aceitação da morte de Leela deveria ser o princípio da aventura. Ela de fato deveria morrer aqui. Eu gosto quando a morte é respeitada na ficção e dela se tira um significado. Aqui, Leela torna-se, de alguma forma, uma vampira, tendo sua alma no corpo de Emily, que achará que “Leela” é a sua amiga imaginária e que o “Doutor” é um mágico. Nas histórias futuras eu posso mudar de ideia quanto essa fusão Leela-Emily. Mas aqui, não.

The Time Vampire (Reino Unido, Maio de 2010)
Direção: Nigel Fairs
Roteiro: Nigel Fairs
Elenco: Louise Jameson, John Leeson

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Night’s Black Agents

4X11

estrelas 3

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Equipe: 6º Doutor, “Jamie”
Espaço: Escócia, Terra da Ficção
Tempo: 1780 / Indeterminado

Confuso na apresentação do companion — porque esse Jamie aqui é o da Terra da Ficção — Night’s Black Agents perde um número bem grande de oportunidades de ouro para colocar o 6º Doutor viajando com o verdadeiro Jamie. E, talvez a maior perda de todas, a não inclusão do 2º Doutor nem em um cameo. Existe uma breve citação a The Highlanders, mas nada além disso. Por outro lado, essa separação maior da aventura em relação ao Universo corrente de Doctor Who (convenhamos: The Companion Chronicles deveria ser uma série apenas dos companheiros oficiais e reais, não é mesmo?) acaba sendo inesperadamente muito objetiva. E isso é um ponto em favor do roteiro de Marty Ross.

Nessa história, “Jamie” está bem mais velho do que aquele que conhecemos na TV. Me lembrou um pouco The Glorious Revolution, mas ali estávamos falando do personagem verdadeiro. Ao lado do sexto Doutor — cuja participação é demasiadamente pequena –, “Jamie” se vê diante de uma antiga lenda escocesa, a do Kelpie, um espírito aquático (normalmente em forma de cavalo pequeno, preto ou “verde como o vidro”. Nota: ele também pode assumir a forma humana, mas sempre haverá algo para denunciá-lo, como algas presas no cabelo, por exemplo) do folclore celta, que habita em profundos lagos, córregos e rios escoceses. Capturados pelo Reverendo Merodach, que na verdade é um demônio, os dois viajantes do tempo verão que existe muito mais coisas do que apenas intrigas mistas de terror nesse lado da Terra da Ficção.

É uma pena que não tenhamos uma maior exploração dos habitantes desse Universo fictício e que o Doutor e “Jamie” não explorem outros cenários dessa parte da Escócia. Há uma boa ambientação para o cenário e a trilha sonora do episódio é ótima, geram um certo medo irracional no espectador, mas ao final, a despeito da objetividade e finalização bem pensada para a história, fica a sensação de que haviam muito mais coisas para aparecer na história.

Night’s Black Agents (Reino Unido, Junho de 2010)
Direção: Lisa Bowerman
Roteiro: Marty Ross
Elenco: Frazer Hines, Hugh Ross

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Solitaire

4X12

estrelas 5,0

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Equipe: 8º Doutor, Charley
Espaço: The Celestial Toyroom
Tempo: Indeterminado

Olá! Você quer jogar um jogo? A premissa de terror que esse tipo de pergunta sugere faz desse episódio um verdadeiro exemplo de Jogos Mortais, só que sem as mortes violentas. Ao invés disso, o roteiro de John Dorney aposta na inteligência de um jogo misturando ficção científica e em um cenário claustrofóbico. O Celestial Toymaker se encontra aqui com Charley, que está com amnésia e não faz ideia, ao menos no começo, de que está presa na Celestial Toyroom, sendo que única saída do lugar é vencer a criatura mais viciada em jogos no Universo (bom, talvez empatado com sua irmã, a Rainha do Tempo).

O cenário claustrofóbico e a excelente interação entre Charley e o Toymaker nos deixa totalmente tranquilos quanto a ausência do Doutor a maior parte do tempo. No início do episódio, ele aparece como um ventríloquo, o que prova que o Toymaker o havia vencido. Mas à medida que a história avança, a gente percebe que nem tudo está exatamente ligado ao “vencer e perder” aqui. Claro que o vilão coloca isso como mote da sua própria existência e leva essa dinâmica muito a sério, mas ele está escondendo algumas coisas. E melhor ainda: há outras, muito importantes, por sinal, que ele ainda não se deu conta.

India Fisher realiza um trabalho soberbo de interpretação e segura a história muito bem, ao lado de David Bailie, que interpreta o Toymaker. O jogo que eles enfrentam juntos, com várias etapas, níveis cada vez maiores de dificuldade e intenso trabalho de dedução e indução entram no texto e trazem a resposta que precisávamos apenas no final. A maneira como a companion e o Doutor terminam seu último diálogo nos dá a impressão de que o Senhor do Tempo ainda passaria um tempinho sob a forma de um boneco de madeira, o que é hilário só de pensar: o Doutor ventríloquo e Charley, pelo menos em uma viagem pelo Universo, enfrentando quem quer que seja. Por favor, Big Finish, produza algo desse tipo!

Solitaire (Reino Unido, Junho de 2010)
Direção: Nicholas Briggs
Roteiro: John Dorney
Elenco: India Fisher, David Bailie

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