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Crítica | Doctor Who: Ano 2150 – A Invasão da Terra

Daleks da fumaça.

por Luiz Santiago
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A trilogia de filmes baseada em histórias com Daleks que a Amicus Productions planejou realizar nos anos 1960, encerrou-se na segunda fase, com o baixo desempenho de bilheteria de Ano 2150 – A Invasão da Terra, que já se seguia ao não tão marcante e igualmente ruim Dr. Who e a Guerra dos Daleks, lançado um ano antes. Ambos os filmes trouxeram Peter Cushing no papel do Doutor, mas diferente do primeiro longa, este de 1966 enfrentou um número muito grande de problemas de produção, inclusive um período de doença do protagonista, o que forçou a reescrita de várias partes do roteiro a fim de contar com a ausência do ator, que originalmente tinha mais tempo de tela. Somado a isso, os vários acidentes com dublês e operadores de Daleks tornou o processo mais lento, encarecendo o custo. Sem o retorno financeiro esperado, a Amicus Productions abandonou a ideia de criar uma adaptação do ótimo arco The Chase (1965). E a contar pela baixa qualidade dos dois longas que realizou para Doctor Who, só podemos dizer: ainda bem!

O diretor Gordon Flemyng (que também assinou Guerra dos Daleks) cria aqui um trabalho que tenta trazer um pouquinho mais de seriedade à saga, algo que o enredo realmente exige, até porque, estamos falando de uma invasão ao planeta Terra, não é mesmo? E para ser sincero, em algumas poucas cenas, assim que a nave dos Daleks aparece, temos a impressão de que algo muito ruim, muito sério e muito poderoso está acontecendo. É o tipo de representação clássica de pessoas chocadas e derrotadas por uma força externa que não conseguem combater. Os rostos sombrios, a câmera em lenta panorâmica por um grupo de indivíduos e a exposição noticiosa de que os invasores estão por perto… ou as notícias de rádio dos próprios invasores exigindo que os humanos da resistência se entreguem; tudo isso faz parte dos pontos mais solenes da fita. São momentos poderosos e visualmente marcantes. Pena que duram apenas alguns segundos.

O restante do filme é um mar de ação desenfreada, acompanhada por uma trilha sonora circense, que faz o filme transitar entre momentos de ficção científica marcada por atos de grande violência cometida por Daleks que soltam fumacinha, e gente correndo de um lado para o outro como se estivessem protagonizando uma “vídeo-cassetada“. É um caminho vergonhoso e que tem o poder de deixar qualquer espectador enraivecido, pois fica clara a intenção dos produtores em florear a mortandade humana, a fim de deixar o filme acessível para todas as idades. A presença de uma Susan criança, que, apesar de machucar o tornozelo aos 10 minutos de filme (pois é), é espertinha o bastante para movimentar as cenas de “caça ao Doutor/vovô“, também denota a intenção de ampliar a classificação indicativa. Ao cabo, a obra tem um elenco central com algumas boas performances  — eu gosto da criação de Peter Cushing para o Doutor, mas não consigo chegar a um resultado definitivo de julgamento porque o roteiro e a direção não ajudam o artista a entregar algo consistente –, boa finalização das cores na direção de fotografia, bons cenários e figurinos. Visualmente, considerando os recursos disponíveis, o filme não faz feio.

Para quem espera, aqui, uma obra interessante que explore a contento a presença dos Daleks na Terra e o efeito de sua invasão sobre os humanos, mais a dinâmica social que essa invasão engendra, não vai encontrar muita coisa. Há um forte clima de exploração épica, típica da Série Clássica de Doctor Who, e eventualmente, temos cenas bem conduzidas ou personagens que representam alfinetadas críticas, como o homem que tirava vantagem de tudo e acabou fazendo um acordo maldito com os Daleks. Mas todo o peso e ameaça dos saleiros de Skaro se perde numa trama dispersa em três núcleos, que traz mais momentos de humor do que deveria e polui o ouvido do espectador com uma trilha sonora que simplesmente não desliga. Para os whovians de hoje, assistir ao filme traz pelo menos uma ligação emotiva inesperada, que se dá pela presença do ator Bernard Cribbins, aos 38 anos, no papel de um policial que se torna companheiro ocasional do Doutor. Só por isso, eu diria, o filme vale a pena ser visto.

Doctor Who: Ano 2150 – A Invasão da Terra (Daleks’ Invasion Earth 2150 A.D.) — Reino Unido, 1966
Direção: Gordon Flemyng
Roteiro: Terry Nation, Milton Subotsky, David Whitaker, Sydney Newman
Elenco: Peter Cushing, Bernard Cribbins, Ray Brooks, Andrew Keir, Roberta Tovey, Jill Curzon, Roger Avon, Geoffrey Cheshire, Keith Marsh, Philip Madoc, Steve Peters, Eddie Powell, Godfrey Quigley, Peter Reynolds
Duração: 84 min.

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