Home TVTemporadas Crítica | Doctor Who – 7X05: The Angels Take Manhattan

Crítica | Doctor Who – 7X05: The Angels Take Manhattan

Despedida dos Pond emociona, mas expõe que a série já não sabia o que fazer com o casal de companions.

por Rafael Lima
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Tendo dividido a 7ª temporada da Nova Série em duas metades que foram ao ar em anos diferentes, fazia sentido que Steven Moffat construísse a Mid-Season em torno de um grande evento, no caso, a despedida dos Pond. Em termos gerais, também era uma mudança significativa para o programa, afinal, Amy e Rory se tornaram os companheiros mais longevos da Nova Série até aquele momento. O Showrunner claramente reconhece a importância dos personagens para o seu legado no Show, ao trazer muitas de suas criações favoritas para esta despedida, como River Song e os Weeping Angels, além de construir a trama em torno dos paradoxos temporais que o tornaram famoso em Doctor Who.  Mas apesar de possuir grandes momentos, The Angels Take Manhattan não encontra uma identidade própria, por não conseguir concatenar as várias ideias que traz para consideração. Na trama, escrita por Moffat, enquanto o time da TARDIS passeava pelo Central Park, em Nova York, Rory é atacado por um Weeping Angel e enviado de volta para o ano de 1938. O 11º Doutor e Amy imediatamente partem ao resgate do companheiro, e ao chegarem à Big Apple, precisam se unir a uma velha aliada para impedir uma invasão em grande escala dos anjos à maior cidade do planeta. Desta vez, porém, a vitória terá um enorme custo pessoal para o Time Lord.

The Angels Take Manhattan é um episódio ambicioso por tentar abraçar muitos estilos e tons dramáticos. Em certo ponto, ele tenta se colocar como um pastiche de histórias Noir, com uma abertura que homenageia diretamente o gênero, e até usa River Song como o arquétipo da detetive particular irônica. Em outros pontos, o episódio flerta com o horror gótico que originou os Weeping Angels e, no meio disso tudo, ainda tenta ser uma ode tanto ao amor entre Amy e Rory quanto à amizade entre a Companion e o Doutor. Infelizmente, o roteiro não consegue articular todas essas ideias, ou dar o tempo que muitas delas precisavam para funcionar. Um exemplo é a estranha revelação de que a Estátua da Liberdade é, na verdade, um Weeping Angel, um conceito absurdo que poderia ser divertido, mas que soa jogado e até deslocado no contexto do episódio.

A desorganização de estilos e propostas não são os únicos problemas aqui. A essa altura, o show parecia querer se despedir de Amy e Rory há algum tempo. Tanto The God Complex quanto The Wedding Of River Song funcionaram como histórias de despedida para os Pond, mas a série insistiu em mantê-los. Toda a fase inicial da 7ª temporada foi gasta tentando encontrar novos conflitos para o casal, com diferentes graus de sucesso, mas a verdade é que os Pond pareciam ter chegado ao limite de seu desenvolvimento, e The Angels Take Manhattan reforça essa sensação. Afinal, o grande conflito do episódio de colocar Amy tendo que escolher entre dar um salto de fé para ficar ao lado de Rory ou permanecer em segurança ao lado do Doutor é uma reminiscência de histórias como Amy’s Choice, o que demonstra que Moffat e sua equipe pareciam já ter dito tudo o que queriam dizer sobre esses companheiros, de modo que a sua despedida não traz nenhum tipo de recompensa emocional ou impacto dramático que já não houvesse sido feito ou ao menos ensaiado com eles.

Por outro lado, é bom em frisar o quanto a relação de Amy e do Doutor evoluiu desde que eles se conheceram, e o quanto a jovem amadureceu. Como a figura do amigo imaginário, o papel do Doutor sempre foi expandir os horizontes de Amy ao fazê-la viver aventuras incríveis. Em uma das primeiras cenas do episódio, a Companion pede que o Doutor conte uma história para ela, ainda que critique o fato de ele não gostar de finais. O protagonista sempre foi o responsável por contar histórias para a sua companheira cada vez que a levava para visitar um novo lugar, mas ao fim do episódio, Amy não mais ouve histórias, ela conta as próprias histórias, e ainda é capaz de dar um final para elas. É uma maneira inteligente de mostrar a influência que o Time Lord teve sobre a moça, e como ela usou essa influência dentro de seus próprios termos para crescer.

Mas a grande força de The Angels Take Manhattan está mesmo nas performances de Matt Smith e Karen Gillan, que brilham em todas as cenas de que participam, desde as mais sutis até as mais intensas. Poucas vezes vimos o Doutor tão desesperado em perder uma Companion quanto vemos aqui, ao ponto desse desespero expor o lado egoísta do Time Lord, quando ele tenta manter Amy ao seu lado, mesmo sabendo que o desejo dela é ficar com Rory, e Smith consegue mostrar essa miríade de sentimentos de forma tocante, especialmente na cena da despedida. Gillan, por sua vez, em suas cenas finais, transmite toda a determinação de Amy em ficar ao lado de Rory, mas sem descartar a imensa tristeza que ela sente em se separar para sempre de seu melhor amigo. De fato, todas as fraquezas do episódio parecem ser compensadas pela força que Smith e Gillan dão para a interação de seus personagens, especialmente nas cenas do parque e do cemitério.

O diretor Nick Hurran retorna mais uma vez para a série, e faz um ótimo trabalho transitando entre os diversos tons que o roteiro exige, desde a absurda sequência de abertura que termina com a revelação da monstruosa Estatua da Liberdade, até a excelente construção de suspense na cena em que Rory é perseguido por anjos bebês em um porão escuro. Mas, como dito antes, este é um episódio construído sobre a atuação de seu elenco, e a direção de Hurran valoriza isso com uma decupagem que destaca as emoções de seus personagens, sabendo exatamente quando usar os planos fechados sem cair no didatismo.

Apesar de todos os problemas apontados, não dá pra dizer que The Angels Take Manhattan não funcione como uma despedida adequada para Amy e Rory, pois o roteiro de Steven Moffat, ainda que recicle diversos dramas já usados para explorar o casal e sua relação com o Doutor, consegue jogar de maneira cativante com os principais pontos fortes do trio. Não posso deixar de pensar que personagens tão importantes para essa fase da série quanto os Pond, mereciam um episódio mais consistente em sua despedida, mas a performance do elenco principal, especialmente as de Smith e Gillan conseguem deixar a história com uma impressão positiva, mesmo com as suas falhas.

Doctor Who- 7×05: The Angels Take Manhattan (Reino Unido. 29 de Setembro de 2012)
Direção: Nick Hurran
Roteiro: Steven Moffat
Elenco: Matt Smith, Karen Gillan, Arthur Darvill, Alex Kingston, Michael McShane, Roberto Davide, Bentley Kalu, Ozzie Yue, Burnell Tucker, Zac Fox, Caitlin Blackwood, Doug Hanson, Sarah Louise Madison, Clem So
Duração: 44 Minutos

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