Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 7X02: Dinosaurs On A Spaceship

Crítica | Doctor Who – 7X02: Dinosaurs On A Spaceship

Dinossauros, dramas familiares e uma rainha egípcia num episódio com a confusão de propostas dessa temporada.

por Rafael Lima
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Como apontei na resenha de Asylum of The Daleks, a metade inicial da 7ª temporada da Nova Série de Doctor Who viu o show passar por uma crise de identidade. O Showrunner Steven Moffat e sua equipe propuseram uma série de mudanças em dinâmicas da série estabelecidas desde a estreia do revival em 2005, mas levaria um certo tempo para o programa realmente definir que mudanças seriam essas e como lidar com elas. Dinosaurs On A Spaceship, o segundo episódio da temporada, acabou por ser o maior exemplo dessa confusão de identidade que estava acometendo Doctor Who naquele momento. Na trama, O 11º Doutor recebe um pedido de ajuda da Agência Espacial Indiana para investigar uma nave espacial que se aproxima da Terra em 2367. Acompanhado da Rainha Egípcia Nefertiti, com quem havia acabado de viver uma aventura, o Doutor recruta a ajuda de John Rydell, um caçador britânico com que já havia trabalhado no passado, além de Amy e Rory, para investigar a nave, mas acaba acidentalmente trazendo a bordo, o pai de Rory, que visitava o filho e a nora. Logo, o estranho grupo descobre que a nave é uma antiga embarcação de preservação Siluriana contendo dinossauros, e que foi tomada por um criminoso que pretende vender as criaturas no mercado clandestino.

Escrito pelo futuro Showrunner Chris Chibnall, Dinosaurs On A Spaceship é o episódio mais Chibnall que o roteirista escreveu antes de assumir o Show. Embora as marcas de Chibnall antes de seu mandato como produtor sejam menos evidentes do que as de Moffat na 1ª Era Davies, elas ainda existem. Temos aqui elementos que se tornaram comuns na Era Chibnall, como a trama de caráter ambientalista, ao trazer o Doutor lutando contra o tráfico de animais, a tendência por começar a ação do episódio em media res (“no meio das coisas“), e o gosto por lotar as suas histórias com Companions de ocasião. Mas mais do que mostrar o que se tornaria comum na era Chibnall, o episódio reafirma as mudanças que a série passava. O Doutor volta a tirar os Pond de seu cotidiano para levá-los para uma aventura ao invés de eles já estarem na TARDIS. De fato, ao ver Nefertiti, Amy questiona se foi substituída. Uma pergunta justa, pois desde a Série Clássica, os Companions deixavam vidas normais para viajar, padrão que se manteve na 1ª Era Davies, ainda que com o reconhecimento dessa vida na presença das famílias. A Era Moffat mudou essa dinâmica de forma gradual, ao fazer Amy incluir o marido Rory em suas viagens, alguém que representava a sua vida cotidiana.

A partir dessa temporada, a divisão entre o cotidiano dos Companions e suas aventuras se torna mais tênue. Se no último episódio, vimos os Pond lidando com uma crise matrimonial, aqui Rory deve explicar ao pai que mentiu por anos sobre as viagens que fazia com a esposa. Ainda que trazer a família de um companheiro para uma prestação de contas seja um truque da Era Davies, a execução tem objetivos diferentes aqui, pois a ideia é afirmar que os Pond são especiais não por viajarem na TARDIS, mas porque mesmo levando vidas normais, o Time Lord ainda volta para eles. Mas a introdução de Brian Williams nesse ponto do arco dos Companions é contraintuitiva. A série deixa claro que o tempo dos Pond na TARDIS está acabando, ao mostrá-los completamente senhores de si na situação da nave, o que é um sinal de que os Companions estão prontos para seguir o próprio caminho. Como no episódio anterior, o conflito do casal se origina por algo fora de tela, no caso, o incômodo de Rory de esconder coisas do pai. O problema disso é que assim como nunca havíamos ouvido falar que o casal estava em crise, nunca ouvimos falar de Brian antes, e os Pond não ficariam muito tempo na série para trabalhar esse conflito de forma significativa.

A forma como o episódio trata o atual status do Doutor é outro ponto que mostra a falta de coesão para as propostas da série nesse início de temporada. O Time Lord é convocado para ajudar a resolver a crise da nave, mas quando ele confronta o vilão Solomon, o texto reforça que o Doutor voltou a se tornar um anônimo no universo, um plot sugerido no fim da temporada anterior, mas que seria ignorado depois deste episódio. Da mesma forma, vemos o Doutor deixando Solomon para morrer em uma explosão após incapacitá-lo, mas é estranho que a série pareça completamente bem com essa atitude, para então, o episódio seguinte ser construído sobre a disposição do Doutor em matar ou não os seus inimigos. Esses problemas são amplificados porque o roteiro não consegue dividir a atenção entre os tópicos que aborda. A presença de Nefertiti e John Rydell é um conceito interessante, ao criar uma relação tensa, porém divertida, entre a monarca da mais poderosa civilização africana da história e o arquétipo do colonizador europeu. Da mesma forma, a mensagem ambiental do episódio tem os seus momentos, como a tocante passagem onde um adorável dinossauro é morto por robôs. Mas esses e outros assuntos vão sendo jogados meio de qualquer jeito pelo texto, de modo que o episódio parece apenas estar riscando tópicos de uma lista ao invés de realmente explorar os temas e conflitos de sua narrativa.

A direção do episódio ficou a cargo de Saul Metzstein, em seu primeiro trabalho para a série, que faz um trabalho relativamente burocrático, mas que lida muito bem com os diversos efeitos especiais que a história exige, com os dinossauros do título sendo muito bem-feitos para o orçamento que a série dispunha na época. O elenco convidado se destaca especialmente neste episódio, começando com David Bradley (futuro 1º Doutor, e que interpretaria William Hartnell no ano seguinte), que aqui vive Solomon de forma acertadamente odiosa, criando um vilão repelente, mas não exagerado. A química entre Rupert Graves e Riann Steele como John Rydell e a Rainha Nefertite é outro acerto do elenco convidado, sendo uma pena que o episódio não explore mais a dinâmica desses personagens. Por fim, Mark Williams surge como a escolha perfeita para viver Brian, entregando uma interpretação compassiva que realmente nos convence de que ele e Arthur Darvill são mesmo pai e filho, pela semelhança existente entre os dois personagens.

Dinosaurs On A Spaceship é um episódio divertido, mas bastante esquecível, sendo o roteiro mais fraco de Chris Chibnall para Doctor Who antes de seu tempo como Showrunner. Percebe-se aqui os sinais de várias mudanças que o programa estava estabelecendo, como a ligação mais forte que os companheiros passariam a ter com as suas vidas cotidianas, o que se refletiria nas Companions restantes da Era Moffat. Por outro lado, a forma de se fazer isso ainda não parece bem azeitada, vide as contradições que levariam ao abandono do plot do Doutor buscando o baixo perfil. O mesmo pode ser dito sobre a chegada de Brian Williams surgindo como um ponto que soa atrasado a essa altura do desenvolvimento dos personagens, não parecendo coincidência que companheiras como Clara Oswald e Bill Potts teriam muito mais foco no cotidiano de suas vidas do que em suas origens ou núcleos familiares. Em resumo, é um episódio lotado de propostas e ideias, mas que parece confuso para onde deve ir, o que é um eco da própria série nesta metade inicial da sétima temporada.

Doctor Who- 7X02: Dinosaurs On A Spaceship (Reino Unido, 08 De Setembro de 2012)
Direção: Saul Metzstein
Roteiro: Chris Chibnall
Elenco: Matt Smith, Karen Gillan, Arthur Darvill, Rupert Graves, Mark Williams, David Bradley, Riann Steele, Sunetra Sarker, Richard Hope, Rudi Dharmalingam, David Mitchell, Robert Webb
Duração: 45 Minutos

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