Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 7X01: Asylum of The Daleks

Crítica | Doctor Who – 7X01: Asylum of The Daleks

Uma première com dificuldade em ajustar suas propostas de mudança.

por Rafael Lima
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Steven Moffat, por mais de uma vez, apontou a 7ª Temporada da Série como o seu ano mais fraco à frente do show. Embora o 7º ano da série ainda seja uma ótima temporada, eu consigo entender o que incomodou Moffat nesse ciclo, especialmente em sua primeira metade. A temporada trouxe várias propostas de mudanças para a dinâmica da série, tanto no que diz respeito ao status do protagonista, quanto ao seu relacionamento com os seus companions, mas ao longo deste ciclo se percebe que muitas dessas propostas ainda precisavam de ajustes para realmente começarem a funcionar, enquanto outras seriam simplesmente abandonadas. Asylum Of The Daleks traz justamente alguns desses problemas conceituais apontados. Na trama, o 11º Doutor é capturado pelos Daleks, junto com Amy e Rory, que passam por uma crise no casamento. Mas dessa vez, o povo de Skaro não quer matar o Doutor; ele quer a ajuda dele para destruir um planeta-asilo habitado por Daleks perigosamente insanos, que ameaçam escapar. Forçado a se infiltrar em um planeta lotado de Daleks temidos pelos próprios Daleks, o Time Lord acaba recebendo a ajuda de uma misteriosa garota, que está escondida em algum lugar daquele mundo, esperando ser resgatada enquanto assa suflês.

Escrito por Moffat, Asylum Of The Daleks parte de um conceito interessante, que é apresentar Daleks tão perigosos, que assustam o próprio império Dalek. A ideia de que esses Daleks insanos são sobreviventes de batalhas anteriores com o Doutor é um ótimo acréscimo para o conceito visto na temporada passada, ao reforçar que o Time Lord se tornou uma figura tão proeminente no universo, que acaba por ampliar as ameaças que enfrenta. Além disso, no episódio de estreia da temporada do quinquagenário, é apropriado que as referências aos traumas dos Daleks ponham a Time War como só mais uma de uma lista enorme de derrotas que essa espécie sofreu nas mãos do protagonista, com menções a eventos da Nova Série e da Série Clássica.

Neste episódio, podemos perceber a visão conflitante que o Showrunner tem em relação aos antagonistas. A trama mostra o quanto esses seres são cruéis, vide o destino de Oswin Oswald, mas, ao mesmo tempo, reforça o ponto de que nenhum vilão da série sofreu tantas derrotas nas mãos do Doutor do que os Daleks, portanto, eles não são um desafio assim tão grande para ele. Essa abordagem para os vilões nessa fase da série parece inclusive ser consistente como o Doutor de Matt Smith se porta diante deles, que eu diria ser a única encarnação da Nova Série a tratar esses monstros mais como um incômodo do que uma grande ameaça. E não há necessariamente um problema com essa escolha, desde que ela não conflite com outros dramas, que infelizmente é o que ocorre nessa história. 

Há também uma reconfiguração na maneira como os Companheiros passam a ser vistos pela série. O fato de reencontrarmos Amy e Rory prestes a se divorciar é um choque, já que da última vez que os vimos foi como um feliz casal na ceia de Natal. Esse hiato ilustra a mudança na visão da série para os companheiros, pois agora eles deixam de pausar as suas vidas para viajar na TARDIS, e passam a equilibrar suas aventuras na TARDIS com o cotidiano de uma vida normal, o que seria aplicado com as Companions restantes da Era Moffat. Mas aqui, após anos construindo a força da relação dos Pond, soa forçado que, de repente, eles estejam se separando, para então o relacionamento ser reparado antes do fim do episódio, mesmo com a justificativa do hiato. Claro, é interessante que a raiz da crise dos Pond seja o trauma sofrido por Amy nas mãos de Kovarian, que a deixou estéril. Mas Moffat não consegue lidar com essa carga em um único episódio, fazendo com que o problema e a sua resolução soem apressados e pouco merecidos.

Isso não quer dizer que o roteiro não tenha os seus méritos. O texto é eficiente na forma como constrói a relação entre o 11º Doutor e Oswin, entregando diálogos rápidos e espirituosos, que dão a base perfeita para as atuações enérgicas de Matt Smith e Jenna Coleman, esta última fazendo a sua estreia na série. Gosto também da forma inteligente como o roteiro conduz o mistério em torno do paradeiro e do destino de Oswin, trazendo uma reviravolta chocante, porém não absurda, já que pistas para esse twist foram cuidadosamente espalhadas pelo episódio. Por fim, por mais críticas que se façam a visão de Moffat para os Daleks na Era Smith, Asylum of The Daleks mostra que ele entende muito bem os personagens e o seu papel na série. O final do episódio, que vê Oswin apagando completamente o Doutor da memória dos Daleks é bastante ilustrativo nesse sentido. Afinal, se o episódio volta a apontar os problemas que o status lendário do Doutor pode trazer ao universo, e o fim da temporada anterior viu o Time Lord decidido a voltar a ser um viajante de baixo perfil, como era na maior parte da Série Clássica, apagar a existência do protagonista da memória de seus maiores inimigos, torna-se um movimento não só inteligente, mas ousado. Por diversas vezes, a série apontou que os Daleks são um elemento muito importante para definir quem é o Doutor, assim, se o Senhor Do Tempo quer se redefinir, essa redefinição sempre irá passar pelos Daleks. É só uma pena que as consequências desse episódio iriam ser simplesmente ignoradas pela série, juntamente com todo o plot da busca por baixo perfil do Doutor.

O comando deste episódio ficou a cargo de Nick Hurran, que consegue conceder um ar grandioso e verdadeiramente cinematográfico para a história, empregando um ritmo acelerado apropriado para uma trama com tanto terreno para cobrir. O que temos nesse episódio é uma decupagem que, ao mesmo tempo que sabe valorizar os momentos de grande impacto visual, como a fuga do Doutor do asilo do título, também entende que os momentos mais íntimos entre os personagens no meio de explosões e disparos Daleks também são de extrema importância. De fato, é uma condução tão interessante, que até consegue disfarçar um pouco as maiores fragilidades do roteiro de Moffat.

Asylum of The Daleks é uma premiere ambiciosa para a 7ª temporada de Doctor Who, e que tem a sua importância ao dar início ao arco da Garota Impossível, que seria o foco da segunda metade temporada. É um episódio que propõe uma série de mudanças no status da série, mas que acaba se perdendo ao não conseguir dar total credibilidade para os dramas de sua história. A trama possui momentos muito divertidos, e passagens genuinamente dramáticas, mas não consegue fazer com que esses dois tons trabalhem de forma coesa dentro de sua narrativa. Apesar de sua ação muito bem dirigida, percebe-se uma certa confusão nos objetivos do roteiro, e na forma ainda insegura com que lida com as mudanças que propõe, o que seria algo recorrente nos episódios iniciais desta temporada.

Doctor Who – 7X01: Asylum of The Daleks (Reino Unido, 1º de Setembro de 2012)
Direção: Nick Hurran
Roteiro: Steven Moffat
Elenco: Matt Smith, Karen Gillan, Arthur Darvill, Jenna Coleman, Anamaria Marinca, Naomi Ryan, David Gyasi, Nicholas Briggs, Zac Fox, Clem So
Duração: 49 min.

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