Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 6X10: The Girl Who Waited

Crítica | Doctor Who – 6X10: The Girl Who Waited

A responsabilidade do Doutor com os seus Companions é testada em episódio dramático que reforça o laço dos Pond.

por Rafael Lima
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A Nova Série de Doctor Who encara os Companions de forma paradoxal, ao frisar que eles são indispensáveis para manter a humanidade do Doutor, mas chamar ainda mais a atenção que a Série Clássica para o fato de que a vida na TARDIS pode ser muito perigosa, expondo certa irresponsabilidade do Time Lord em continuar convidando pessoas normais para viagens que podem matá-las. Essa irresponsabilidade, e até egoísmo do protagonista, é um dos temas de The Girl Who Waited. Na trama, o 11º Doutor leva Amy e Rory para passar alguns dias em um resort no planeta Apalapucia. Ao chegarem lá, porém, um engano faz com que Amy se separe dos companheiros, indo parar em um fluxo de tempo diferente. Logo, o Doutor percebe que o planeta está em quarentena devido a uma praga letal para raças com dois corações, o que obriga o Doutor a se isolar na TARDIS enquanto Rory parte para resgatar a esposa, sendo guiado por rádio pelo Time Lord. Mas quando Rory encontra Amy, décadas se passaram para ela, colocando os viajantes diante de um doloroso dilema moral.

Escrito por Tom McRae, The Girl Who Waited dialoga em vários níveis com o arco dramático que a série desenvolveu para Amy, ao recriar o abandono que marcou o início da relação dela com o Doutor em um contexto mais terrível. A trama não parte de um evento grandioso, e sim de um acidente quase banal, o que aponta que o que força Amy a viver décadas sozinha em um resort isolado, caçada por robôs assassinos é o descuido do Doutor sobre onde e quando aterrissa. Quando Rory e o Doutor chegam ao fluxo do tempo em que Amy se perdeu, encontram uma mulher amarga, sem esperança de ser salva, e que passou a ter como única meta sobreviver. Entretanto, ela batiza a única companhia que tem (um robô com os braços com seringas amputados) com o nome do marido, simbolizando que enquanto o Doutor se tornou sinônimo de abandono para a companion, a memória de Rory tornou-se um alento. Até a forma como o roteiro põe Rory indo pessoalmente salvar Amy, enquanto o 11º vê tudo à distância da TARDIS, representa como o enfermeiro e o Time Lord estão sendo vistos por Amy, e como ambos abordam o problema do resgate.

É justo dizer que Rory é o membro mais humano deste time da TARDIS, e por isso, o rapaz sempre foi o mais empático do trio, e é capaz de ver a esposa na guerreira amarga que ela se tornou, recusando-se a deixá-la mesmo quando surge a possibilidade de resgatar uma versão de Amy que não passou por anos de isolamento, gerando um conflito que rende um dos melhores trabalhos de Arthur Darvill na série. Quanto a Amy Pond, por mais que eu tenha problemas com a maquiagem de envelhecimento de Karen Gillan, a atriz faz um ótimo trabalho ao viver essa Amy endurecida pelo exílio, mas que ainda retém um pouco de sua vaidade e de seu lado mais suave. O que torna a Old Amy trágica, é que o episódio não a trata como uma variante da verdadeira, e sim como a Amy real, mesmo quando a versão da moça que não passou por décadas de provações retorna. E é aí que mora a tragédia e o dilema da trama. Inicialmente, só uma Amy pode deixar o resort, e por mais que queiramos o resgate da Amy regular, não há como não sentir a injustiça pela Amy envelhecida, que após anos lutando para sobreviver, é ameaçada de ser sacrificada pelas pessoas em quem mais confiou.

O que nos leva à abordagem que a história faz do 11º Doutor. Nessa história, embora tenha alguns momentos divertidos nos minutos iniciais da trama, o Doutor se mantém frio e focado no problema em questão, não parando para ouvir as críticas muito justas que a Amy envelhecida faz a ele, em um trabalho sutil de Matt Smith em transmitir essa frieza, já que diferente de Rory, o protagonista nunca parece ver aquela Amy como a verdadeira, e sim como um erro a ser corrigido. O que torna a posição do Doutor na trama ainda mais espantosa, é que diferente de Rory, o Time Lord não tem nenhuma dúvida sobre qual Amy deve ser salva, e mente e manipula para atingir esse objetivo. Nesse sentido, mesmo quando o protagonista coloca nas mãos de Rory a escolha de salvar ou não a vida da Amy envelhecida após trancá-la para fora da TARDIS, parece um movimento manipulador, pois ele sabe que já quebrou o espírito da Old Amy ao abandoná-la mais uma vez. 

Em sua estreia na série, o diretor Nick Hurran faz um trabalho excepcional em estabelecer a atmosfera claustrofóbica da história, ao mesmo tempo em que cria passagens de grande impacto e dinamismo em momentos teoricamente simples, vide a passagem em que as duas versões de Amy e Rory precisam passar por um grupo de robôs para chegar até a TARDIS, ou o breve e intenso momento em que o Doutor e a Amy envelhecida se encaram através da porta da nave. O trabalho de direção de arte do episódio também merece elogios, com destaque para a construção do ambiente estéril do resort, que com a predominância do branco intensifica a sensação de isolamento do local, e para os figurinos, com a armadura improvisada da Companion sendo uma ótima representação de tudo que ela passou nos trinta e oito anos em que esteve naquele Resort.

The Girl Who Waited é uma história que tensiona de forma bastante impactante a dinâmica do trio da TARDIS, reforçando os laços existentes entre o casal Pond, enquanto expõe o quão frio, manipulador, e até cruel o 11º Doutor pode ser, uma vez que estabelece os seus objetivos. O que temos aqui é um episódio muito bem dirigido e com um visual simples, mas eficaz, e que encontra a sua maior força em seu dilema moral, e nos dramas e tragédias que eles acarretam, em uma aventura que prepara a mudança de status dos Pond em Doctor Who (mesmo que temporária).

Doctor Who – 6X10: The Girl Who Waited – Reino Unido (10 de Setembro de 2011)
Direção: Nick Hurran
Roteiro: Tom MacRae
Elenco: Matt Smith, Karen Gillan, Arthur Darvill, Josie Tayor, Imelda Staunton
Duração: 47 Minutos

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