Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 5X07: Amy’s Choice

Crítica | Doctor Who – 5X07: Amy’s Choice

A escolha entre o fantástico e o mundano.

por Rafael Lima
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O episódio anterior, The Vampires Of Venice, estabeleceu um novo time da TARDIS com a entrada de Rory Williams na tripulação. Já havíamos tido um trio de protagonistas na Nova Série antes, mas Amy’s Choice, aponta que, diferente de seus antecessores, Rory não está ali apenas para tencionar ou evidenciar pontos da relação do Doutor com a sua companheira, criando assim uma nova dinâmica para o elenco central. Na trama, o 11º Doutor visita Amy e Rory na Terra cinco anos após eles deixarem de viajar com ele. Mas enquanto passeiam pela vila onde o casal agora reside, o Doutor passa a desconfiar que há algo errado, não tendo mais certeza de que o que estão vivendo é real. Afinal, o trio está em uma pequena aldeia inglesa ou presos na TARDIS enquanto a nave vai em direção a uma estrela fria? E quem é o misterioso Dream Lord, um inteligente inimigo que parece conhecer o Doutor melhor do que ninguém?

Escrito por Simon Nye em sua única contribuição para a série, Amy’s Choice é um episódio que explora as inseguranças do Doutor e de seus companheiros através de uma trama dividida em camadas de realidade, que desafia tanto o público quanto os personagens a descobrirem o que é real e o que é sonho. A narrativa preza pela estranheza, utilizando as ameaças físicas apresentadas pela história como metáforas dos conflitos e medos psicológicos de seus personagens de uma forma bastante intimista. É um episódio, portanto, muito mais focado em personagens do que em trama, não sendo coincidência que essa seja uma das poucas histórias da temporada a não fazer nenhuma menção ao arco maior envolvendo as rachaduras do tempo, ou ao temido silêncio.

O texto e a direção brincam de maneira eficiente com as camadas de realidade apresentadas pela história, ainda que excetuando a enervante presença do Dream Lord, interpretado de forma sinistra por Toby Jones, nenhuma das ameaças da trama consiga deixar o público muito investido. Apesar disso, é preciso dar os pontos merecidos ao roteiro por algumas sacadas inteligentes em termos de plot, vide a divertida desconfiança do Doutor sobre uma das velhinhas da vila ou a impossibilidade científica da existência de uma Estrela Fria ser usada como uma pista para a resolução do conflito, em uma espirituosa brincadeira com o tensionamento entre fantasia e ficção científica que sempre esteve presente na série.

Mas como dito antes, Amy’s Choice é mais uma história de desenvolvimento de personagem, começando por destacar qual seria a dinâmica deste novo trio da TARDIS. A série tem plena consciência que uma parcela dos fãs inevitavelmente irá ver o Doutor, Amy e Rory como um desequilibrado triângulo amoroso, e não é uma leitura absurda, vide o passado recente da série. Rory poderia facilmente ser o novo Mickey Smith, um rapaz comum que perde a namorada para o fascínio que o Doutor e as possibilidades infinitas de se viajar com ele proporcionam. O episódio assume esse conflito, já que a escolha que serve como título diz respeito justamente a uma escolha de realidade pela Companion, a realidade da TARDIS ou uma existência pacata ao lado de Rory. 

A solução que o roteiro encontra para este conflito é simples. Amy não tem dúvidas sobre os seus sentimentos por Rory, e de fato, o episódio mostra que, diferente de suas antecessoras diretas, Amy pode muito bem apreciar uma vida simples ao lado dele após o seu tempo na TARDIS, mas ela claramente ainda não está pronta para largar as suas aventuras, e mais, quer que Rory participe delas. Não podemos dizer que a série trataria Rory com a mesma importância que Amy, mas diferente de Mickey ou Jack, Rory não está presente para frisar um ponto sobre a relação do Doutor e sua companheira. Dessa forma, ainda que o personagem seja principalmente definido por sua relação com a noiva, ele ganharia um desenvolvimento bem mais fluído e integrado na dinâmica da TARDIS do que os outros Companions masculinos apresentados pela Nova Série até então.

O Doutor por sua vez, também ganha um belo desenvolvimento através de seu confronto com o Dream Lord, que se revela uma manifestação de seu próprio lado sombrio. O vilão expõe de maneira interessante as inseguranças e a autocensura que o protagonista esconde por detrás de sua postura confiante, e o fato de que o Doutor, apesar de sua aparente grande autoestima, carregar certa auto-aversão seria um tema recorrente na era Moffat, que surge aqui ligado a críticas feitas à própria natureza do protagonista (e por consequência da própria série). Tal autocrítica não era nada que os anos anteriores não tenham feito, mas é curioso observar como a acusação do Dream Lord sobre o Doutor sempre pular para o próximo companheiro, raramente olhando para aqueles que deixa para trás, seria trabalhada com os Companions da Era Moffat.

Amy’s Choice é um episódio com uma proposta ousada, ao centrar-se na exploração das inseguranças de seus protagonistas como forma de estabelecer a sua dinâmica. O roteiro de Simon Nye tem sacadas inteligentes sobre a natureza ficcional dos sonhos, além de estabelecer uma série de temas que seriam constantemente trabalhadas no restante da Era Moffat, tanto no que diz respeito aos companheiros quanto no que diz respeito ao Doutor, através de um texto inteligente que reconhece a reação de uma parcela do público de ver este trio como um triangulo amoroso, para então descartá-la. A condução, entretanto, acaba sendo mais burocrática do que deveria, não permitindo ao episódio alçar voos mais altos, apesar de seu alto conceito e intrigante vilão.

Doctor Who- 05X07: Amy’s Choice (Reino Unido, 15 de Maio de 2010)
Direção: Catherine Morshead
Roteiro: Simon Nye
Elenco: Matt Smith, Karen Gillan, Arthur Darvill, Toby Jones, Nick Hobbs, Joan Linder, Audrey Ardington
Duração: 45 Min

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