Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 5X04 a 5: The Time Of The Angels e Flesh And Stone

Crítica | Doctor Who – 5X04 a 5: The Time Of The Angels e Flesh And Stone

O 11º Doutor encontra os Anjos e River Song.

por Rafael Lima
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Em seus longos anos, a Nova Série de Doctor Who criou alienígenas que enriqueceram a mitologia do programa, como os Oods, ou os Silêncio. Mas poucos chegaram perto do terreno ocupado por seres clássicos como Daleks, Cybermen, ou mesmo os Sontarans, que não representam só uma época específica do show, mas ele em sua totalidade. Os Weeping Angels, entretanto, podem se orgulhar de estar entre os grandes, sendo a maior contribuição da Nova Série até hoje no que diz respeito a vilões. Blink, se tornou um clássico, ao apresentar ao mundo as estátuas assassinas que matam quando a pessoa desvia o olhar. Se por um lado, parecia óbvio fazer uma sequência de um episódio imensamente popular, por outro, trazer os vilões de volta e expandir a sua mitologia poderia banalizá-los, tirando o que os fez tão ameaçadores. Felizmente, isso não ocorreu, pois The Time Of The Angels e Flesh And Stone é um incrível retorno dos Anjos Chorões, estabelecendo-os de vez como vilões do primeiro time de Doctor Who.

Na trama, o 11º Doutor é recrutado para uma missão por River Song, uma misteriosa mulher com quem ele terá uma história complexa no futuro. Ao lado de Amy, River e o Doutor se juntam a um grupo de bispos militares no Século 51, em uma missão de resgate da nave Byzantium, que caiu após um Weeping Angel que era levado como prisioneiro, escapar. Escrito por Steven Moffat, o arco não apenas traz o retorno dos Weeping Angels, mas também de River Song, personagem introduzida em Silence of The Library e Forest of The Dead, que apesar de morrer naquele arco, prometia desempenhar um importante papel no futuro do Doutor. Se em sua introdução, River já havia se mostrado uma parceira à altura do Time Lord, sua estreia na Era Moffat apresenta uma personagem ainda mais atrevida e provocativa do que em sua aparição original. Ao longo do arco, o roteiro estabelece a relação entre River e o protagonista como uma dinâmica cronologicamente dessincronizada e ácida, enquanto nos dá pequenas pistas do que o futuro revela para o casal.

Mas apesar da presença forte de River, o arco pertence mesmo aos Weeping Angels. Ainda que ao expandir a mitologia dos vilões Moffat acabe sacrificando um pouco de seu mistério, ele os torna mais ameaçadores e sádicos, ao acrescentar detalhes como os anjos roubarem as vozes de suas vítimas para se comunicarem, ou o fato de a simples imagem de um anjo chorão poder tornar-se um anjo chorão. Além disso, a escolha de trazer uma história com toques de terror, mas mais direcionada para a ação (em uma inspiração assumida de Moffat no Aliens de James Cameron) o roteirista cria uma saudável distância de Blink, que pode ser observada pela presença de fuzileiros na trama (um tipo de personagem bem diferente do visto na primeira história dos anjos), mas com o interessante adendo de que essa força militar trabalha para a igreja.

O roteiro de The Time Of The Angels/Flesh And Stone também merece créditos por conseguir desenvolver a contento camadas narrativas que trabalham a trama do arco em si, como a trama central da temporada sobre as rachaduras no tempo e o longo arco do mistério envolvendo River Song. O texto de Moffat é bem sucedido em fazer com que cada uma dessas linhas narrativas se complementem e soem relevantes para os dois episódios, ao mesmo tempo em que criam instigantes sementes para o futuro, como a citação a Pandórica, que teria importante papel na Season Finale ou a discussão do motivo que levou River a ser presa, que só seria revelado na 6ª temporada.

O arco também é bastante ilustrativo no que diz respeito à forma como Steven Moffat trata a trama central da temporada. Durante a 1ª Era Davies, essas tramas centrais eram ilustradas por palavras-chave que pouco interferiam nas histórias daquele ciclo, bastando perceber que o 9º e o 10º Doutores só iam se preocupar com coisas como Bad Wolf e o motivo de planetas sumirem nas Season Finales. Já nessa 5ª temporada, Moffat coloca a trama central da temporada tendo influência direta no andamento deste arco e ganhando a atenção do Doutor desde cedo. De fato, a presença das rachaduras no tempo é vital para diversos pontos da trama, mas sem nunca parecer tirar o foco da história do arco em si.

Essa aventura contra os Weeping Angels também promove um grande desenvolvimento para a dupla protagonista. O arco nos permite ver diversos aspectos da persona do 11º Doutor, seja a confiança ameaçadora que Matt Smith é capaz de transmitir tão bem ao fim de The Time Of The Angels, a raiva contida ao falhar em salvar um jovem fuzileiro, e claro, a sua natureza infantil nos trechos em que percebe que River Song é capaz de pilotar a TARDIS melhor do que ele. Amy Pond, por sua vez, também protagoniza momentos brilhantes ao longo do episódio, que exploram tanto a vulnerabilidade da personagem nos momentos em que vê a sua vida em risco real, quanto a sua faceta mais combativa e atrevida, especialmente durante a cena final.

A cena final, onde Amy tenta transar com o Doutor causou certa polêmica na época da transmissão original, o que até é compreensível, já que a ruiva foi a primeira Companion a abordar o protagonista com intenções puramente sexuais, mas o fato de ela ser uma garota sexualmente ativa é uma característica forte da personagem (o primeiro vislumbre que tivemos de Karen Gillan na série foi um plano de suas pernas em um short). Tendo que, mais do que qualquer companheira da Nova Série, a jornada dramática de Amy é sobre amadurecimento. É natural que o sexo fosse tratado. E o que permite que Amy seja uma personagem tão direta sobre essa questão é que o 11º Doutor seja uma encarnação alheia e quase inocente no que diz respeito a assuntos sexuais, diferente de seus antecessores diretos, que eram mais safos nesse quesito. Essa inocência do 11º Doutor, que custa a entender as insinuações de Amy, e quando percebe fica aterrorizado, é o motivo desse aspecto mais sexy do amadurecimento da Companion poder ser tratado de forma amigável para os mais jovens, mas clara para o público mais velho.

Adam Smith, que já havia feito um ótimo trabalho em The Eleventh Hour, faz um grande retorno no comando desse arco. Embora tenha dirigido pouco para a série (essa seria a sua última contribuição para o programa até o momento, 2021), Smith parece entender como ninguém o estilo que Moffat propõe para as aventuras do 11º Doutor. O diretor conduz o arco como um verdadeiro conto de fadas sinistro, com especial destaque para as sequências situadas dentro de uma caverna em The Time Of The Angels, que funcionam para frisar a escala da ameaça dos anjos e o angustiante momento em que Amy deve cruzar, de olhos fechados, um bosque infestado de Anjos. O realizador é igualmente competente em sequências mais intimistas, fazendo um bom trabalho na mise-en- scène de seus atores, como na já citada cena final no quarto de Amy.

The Time Of The Angels/Flesh And Stone é um excelente arco, que desenvolve com habilidade tanto a sua trama individual quanto o arco central da temporada. Os Weeping Angels fazem o seu grande retorno, tendo a sua mitologia expandida de forma a torná-los ainda mais perigosos, ao mesmo tempo em que o retorno de River Song nos dá mais pistas sobre essa divertida e intrigante personagem, além de plantar uma série de sementes que seriam aproveitadas a curto e médio prazo no programa. Além disso, o arco continua a desenvolver a dupla protagonista, especialmente Amy, que após confessar ao Doutor que está prestes a se casar, continua a sua jornada de amadurecimento.

Doctor Who- 05X04/05X05: The Time Of The Angels/Flesh And Stone (Reino Unido,  24 de Abril de 2010, 1 de Maio de 2010)
Direção: Adam Smith
Roteiro: Steven Moffat
Elenco: Matt Smith, Karen Gillan, Alex Kingston, Iain Glein, David Atkins, Darren Morfitt, Mark Monero, George Russo, Sarah Louise Madison, Louise Bowen, Simon Dutton, Mike Skinner, Mark Springer, Troy Glasgow
Duração: 85 Minutos

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