Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 5X03: Victory Of The Daleks

Crítica | Doctor Who – 5X03: Victory Of The Daleks

Redefinindo os Daleks com muita cor.

por Rafael Lima
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Steven Moffat traria uma abordagem bem diferente para os Daleks, os mais famosos vilões de Doctor Who. Diferente da Era Davies, Moffat reconheceu os Daleks como os monstros que mais vezes enfrentaram o Doutor e os que mais vezes foram derrotados por ele, abraçando o potencial para o ridículo que esses personagens possuem. A era do 11º Doutor tem pouco interesse nos Daleks, mas sabe da importância deles, e em uma temporada dedicada a redefinir os rumos da série, era preciso também redefinir os Daleks, especialmente pelo papel que eles tiveram em estabelecer a identidade do show até aquele ponto, e é a isso que Victory Of The Daleks se dedica. A premissa da história de Mark Gatiss, que vê o Doutor encontrando Daleks servis aos humanos, é uma reminiscência de The Power of The Daleks, que marcou a estreia do 2º Doutor, substituindo a colônia espacial daquela trama pela Londres da 2ª Guerra Mundial.

Se The Power of The Daleks frisava que o novo Doutor, apesar das mudanças (era a primeira troca de protagonismo), ainda era o Doutor, ao fazer os vilões reconhecerem o Time Lord, Victory Of The Daleks faz o oposto, ao fazer o Doutor validar a primeira grande mudança dos Daleks (na Nova Série, ao menos). Gatiss frisa a relação antagônica entre os Daleks e o Doutor, ao defender que se em muitos aspectos, o Doutor é definido por sua rivalidade com esses vilões, o oposto também é verdade,  já que eles só são capazes de se lembrar de quem são e executar o seu plano quando o Time Lord atesta o antagonismo. Em seu irado discurso aos seus inimigos, o 11º Doutor enumera as vezes em que derrotou os Daleks na Nova Série sem citar a Guerra do Tempo,  em uma abordagem coerente com a nova fase que então se iniciava pois se já havia um esforço de afastar o Doutor dos traumas da Time War, os vilões também não poderiam mais ser definidos por esse conflito. 

O episódio traz os Daleks coloridos para a TV (um conceito dos filmes estrelados por Peter Cushing), em uma escolha que combina com a ideia de renovar os Daleks, ainda que seja espalhafatosa demais até para os padrões da série. Mas é no título que está a grande mudança, pois nos anos anteriores, eles eram seres que lutavam contra a própria extinção; uma abordagem que deu aos vilões motivações mais profundas, mas que se desgastou. Esse Status é alterado, com os Daleks saindo de um embate com o Doutor sem serem extintos ou quase extintos, como acontecia até então. Por um lado, é de fato uma vitória para os vilões, pois um número considerável deles deixa a Terra tendo tudo o que precisam para reconstruir o seu império. Mas por outro ângulo, há algo um pouco caído no fato de a vitória dos Daleks ser simplesmente saírem vivos e fugirem. O programa é consciente da dubiedade dessa tal vitória. 

Temos a primeira aparição de uma figura histórica na Era Moffat através da participação de Winston Churchill, que já tem uma longa amizade com o Doutor, ao ponto de estar ciente das diferentes regenerações do Time Lord. Entretanto, diferente das figuras históricas que haviam aparecido na Nova Série até então, a presença do mais famoso primeiro-ministro britânico é usada mais para configurar o cenário da história do que propriamente explorar Churchill como personagem. De fato, enquanto a série até aquele momento parecia tentar descontruir a visão cultural por trás de nomes como Charles Dickens ou a Rainha Vitória para ver as pessoas por trás dessas figuras históricas, a era Moffat passaria a abraçar essa visão cultural, salvo raras exceções.

Mas ainda que as intenções do roteiro de Mark Gatiss, sejam claras, o episódio encontra grande dificuldade em transitar entre os diferentes tons que a história busca. Há um tom definitivamente jocoso em ver os Daleks oferecendo chá para as pessoas no Bunker, durante a primeira metade da história, e na própria atitude paranoica do Doutor em relação aos seus inimigos. Mas quando a história assume contornos mais sérios a partir da segunda metade, a costura não é tão bem-feita, de modo que a tal vitória dos Daleks, ou a escolha que o Doutor precisa fazer no Climax do episódio nunca tenham peso real. Alguns podem apontar que esse descompasso de tom e peso dramático se deve a própria abordagem que o Show passaria dar aos Daleks a partir daqui, mas ao meu ver, é o roteiro de Gatiss que não consegue equilibrar o tom mais despretensioso da trama com a credibilidade da mesma. Mesmo a escolha por situar a trama no período da 2ª Guerra Mundial parece arbitrária, já que o roteiro nada faz de realmente relevante com esse cenário, o que é um desperdício, especialmente quando lembramos que os Daleks nasceram como metáfora para os traumas da 2ª Guerra Mundial.

Matt Smith e Karen Gillan continuam desenvolvendo a química entre os seus personagens, e aqui atuam como uma dupla perfeitamente articulada, vide a cena em que revistam o escritório do cientista que alega ter criado os Daleks. Smith tem a chance de mostrar aqui o lado mais raivoso do Doutor, visto brevemente no episódio anterior, em uma cena interessante, ainda que o ator fosse trabalhar melhor essa faceta do personagem em episódios futuros. Gillan tem menos o que fazer com Amy aqui, mas ganha uma boa participação no clímax, onde mais uma vez a série nos lembra da importância da Companion para ajudar o Doutor a entender os sentimentos humanos.  A direção de Andrew Gunn, em sua última participação na série até o momento (2021) é competente, acompanhando o clima mais despretensioso proposto pelo roteiro de Gatiss. Entretanto, visualmente o episódio nunca consegue realmente convencer o espectador que estamos na Londres de 1941, constantemente bombardeada pelos alemães, o que acaba atrapalhando um pouco a experiência.

The Victory Of The Daleks é uma história que tem sérios problemas de ritmo e que não consegue equilibrar o seu tom despretensioso com o seu conflito interno. É apontado por muitos como a pior história Dalek da Nova Série, e eu acho que é mesmo, mas ainda assim, é um episódio importante, por delinear como um dos principais ícones de Doctor Who passaria a ser trabalhado de forma mais leve nos próximos anos, e que no fim das contas, ainda consegue divertir, mesmo que pela breguice visual dos Daleks multicoloridos.

Doctor Who – 05X03: Victory Of The Daleks (Reino Unido, 17 de Abril de 2010)
Direção: Andrew Gunn
Roteiro: Mark Gatiss
Elenco: Matt Smith, Karen Gillan, Ian McNeice, Bill Paterson, Nina De Cosimo, Tim Wallers, Nicholas Briggs, Susannah Fielding, James Albrecht, Trevor Copolla, Mark Gatiss
Duração: 42 Minutos

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