Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 2X08 e 9: The Impossible Planet / The Satan Pit

Crítica | Doctor Who – 2X08 e 9: The Impossible Planet / The Satan Pit

por Denilson Amaral
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No século 42, a TARDIS se materializa na base de uma expedição enviada para descobrir a fonte de energia que permite que um planeta orbite um buraco negro. Em meio a tudo isso, estranhos eventos começam a acontecer, quando uma antiga e poderosa Entidade começa a se libertar. Continuando com a ideia de trazer episódios ambientados fora da Terra, Matt Jones nos traz com essa interessante premissa dois dos mais impressionantes episódios da história de Doctor Who.

Um problema quase que crônico do subgênero das histórias de base é a demora no estabelecimento da confiança entre o núcleo Doutor/Companion e os membros do local. Nesse tipo de episódio, mais do que em qualquer outro, as relações estabelecidas entre os personagens são um fator essencial para o andamento do roteiro, aumentando sua dinâmica e impedindo a repetição de cenas de discussão. Um dos primeiros méritos do autor está na sua habilidade de contornar esse problema ao apresentar logo no começo o forte isolamento dos personagens como justificativa para o estreitamento de laços. Mais do que surpresa ou temor em relação aos estranhos, é nítida a felicidade da tripulação em ver novas pessoas em meio a uma expedição cercada de perigos, cujo capitão tinha sido uma das primeiras vítimas.

Seguindo para além da primeira impressão, o trabalho do autor em transformar estereótipos em figuras tridimensionais, com seus próprios medos e defeitos (devidamente apontados pela Besta no começo de The Satan Pit), juntamente com a brilhante escolha de elenco, propicia que a construção dos personagens se torne algo muito mais convincente, criando outro importante diferencial para esses episódios.

Em sua estreia na série, James Strong nos brinda com uma competente direção, utilizando de pequenas inserções para fazer a construção da ameaça e criar um clima de terror que faz o público se questionar sobre a verdadeira natureza da ameaça. Os episódios conseguem alcançar um elevado nível nos aspectos técnicos, apresentando efeitos especiais consideravelmente superiores ao padrão da série até aqui, utilizando também de efeitos práticos extremamente eficientes, como os símbolos que surgem no corpo de Toby para representar e reforçar a ideia de possessão pela Besta. A cenografia é outro show à parte, desenvolvendo um trabalho visualmente soberbo, que consegue representar ambientes realísticos com enorme detalhamento.

Aqui também temos a estreia dos Ood, uma curiosa raça cujo único objetivo é servir, mas que nesse primeiro momento só está presente para dar uma cutucada na temática da escravidão (que seria retomado posteriormente em Planet of the Ood) e para servir como marionetes da Besta. Outro dos muitos trunfos do roteiro foi o desenvolvimento do conceito do vilão. A todo o momento, o elemento mais forte da Besta é a sua voz, brilhantemente representada por Gabriel Woolf (que também tinha dado voz a Sutekh, vilão do arco Pyramids of Mars), de modo que só no final podemos ver sua forma física, servindo não apenas como uma representação do Demônio como uma ideia intangível, mas como uma forma de representar que todo tipo de mal tem suas fraquezas, podendo ser confrontado e derrotado.

Continuando com a exploração da relação entre Doutor e Rose, a história reforça a evolução e as mudanças da companion, que depois de desvendar o plot de The Idiot’s Lantern praticamente sozinha e com considerável antecipação, consegue tomar as rédeas da situação, agindo com lógica e estratégia, substituindo boa parte das funções do Doutor durante seu período de incomunicabilidade no episódio final. Apesar desse enfoque maior na companion, o roteiro também faz uma ótima divisão entre os núcleos, possibilitando cenas em que David Tennant consegue mostrar toda a sua capacidade de atuação, como no monólogo do Doutor no fundo do abismo e o momento em que ele demonstra sua confiança absoluta na Rose.

Devido a sua temática diabólica, as principais referências no roteiro são relacionadas ao Tinhoso e sua morada sombria. A forma do campo gravitacional do planeta como um funil faz menção à famosa obra de Dante Alighieri, A Divina Comédia e sua representação do inferno como uma sucessão de nove níveis em forma de funil, com o próprio Lúcifer no fundo. Ainda no funil, o cálculo feito pelo Doutor sobre sua força resulta em um série de três números 6, número tradicionalmente associado à Besta. O 666 ainda faz outra participação, dessa vez por meio da data da exibição original da, os dias 3 e 10 de junho de 2006, os dois sábados entre o dia 06/06/06.

Deixando de lado o Diabo e companhia, a série presta aqui algumas homenagens a Alien, o Oitavo Passageiro, um dos maiores clássicos da história do terror e da ficção científica, sendo as principais referentes ao design da base santuário, fortemente inspirado na nave Nostromo, e ao capacete do traje espacial laranja (que por sinal, faz sua estreia aqui), que apresenta semelhanças conceituais com o modelo de capacete utilizado no filme.

Marcados por um interessante diálogo com o misticismo, The Impossible Planet e The Satan Pit trazem um importante ponto de virada para a série, conseguindo equilibrar ação, mistério e suspense de uma forma inteligente por meio de um roteiro repleto de bons diálogos e digno de um longa-metragem de sucesso.

Doctor Who – 2X08 / 2X09: The Impossible Planet / The Satan Pit (Reino Unido, 2006)
Direção: James Strong
Roteiro: Matt Jones
Elenco: David Tennant, Billie Piper, Danny Webb, Shaun Parkes, Claire Rushbrook, Will Thorp, Ronny Jhutti, Paul Kasey, Gabriel Woolf, Silas Carson
Duração: 45 min

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