Home TVEpisódio Crítica | Doctor Who – 1X06: Ladino (Rogue)

Crítica | Doctor Who – 1X06: Ladino (Rogue)

Bridgerton Who.

por Luiz Santiago
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Flertando com Bridgerton em uma narrativa simples e fabular, Ladino (Rogue) é, até o momento, o episódio mais fraco dessa 1ª Temporada de Doctor Who, em sua 2ª Nova Série. Num primeiro momento, parece um capítulo demasiadamente centrado em si mesmo e, talvez por isso, suas questões tenham tido dificuldade de ultrapassar as barreiras narrativas e ganhar qualidade no escopo da temporada. Ocorre que nem uma das duas coisas é necessariamente verdade. Narrativas isoladas nunca foram um problema para a série — embora viagens para o passado tenham tido uma performance relativamente aquém do desejado, nos últimos anos, dada a dificuldade de alinhar o propósito da temporada com a aventura. O outro ponto é fazer com que o texto traga algo para a linha corrente do show, mas vejam que Ladino faz isso de forma muito orgânica com o retrato da misteriosa senhora que se parece com a vizinha de Ruby (personagem que tem aparecido, encarnando diversas mulheres, desde A Imensidão Azul). O que aconteceu, então?

Apesar de trabalhar numa estrutura já conhecida por nós e que, com um outro roteiro, poderia ter um melhor resultado, Ladino não possui uma boa construção em seu próprio Universo, apresentando duas novidades (o personagem de Jonathan Groff e a família de Chuldurs) que disputam atenção e conduzem a história para lados completamente diferentes, resultando em emoções e marcas que não dialogam. Tamanha disparidade terminou por enfraquecer a trama consideravelmente em seu aspecto de chamariz dramático; e convenhamos que aquelas aves-humanoides consideravelmente cômicas e habitando confortavelmente o vale da estranheza (à la Disney) também não ajudaram a dar uma cara melhor ao texto de Kate Herron e Briony Redman. Creio que tenham ficado muito bem em acessórios, máscaras e figurinos, mas suas figuras me remeteram constantemente ao aspecto cartunesco que tanto destaquei nas críticas de Bebês do Espaço e O Som do Diabo, só que ainda mais bobinho e sem propósito.

Acredito que a produção tenha orientado, aqui, uma escrita de roteiro que pudesse trazer um pouco de desenvolvimento para essa encarnação do Doutor, e a despeito de tudo, ao menos esse aspecto do episódio foi conseguido… embora eu não acredite que uma representação amorosa assim, de cara, tenha sido uma boa ideia para o 15º, nesse ponto de sua temporada inaugural. Fico pensando noutro momento do show em que essa abordagem aconteceu introdutoriamente… Quando o aspecto mais declaradamente romântico tomou a série, na época do 11º Doutor, sua figura já estava bem estabelecida, então conseguimos focar e entender determinadas características dele nesse processo. Sem contar que River Song também teve o seu tempo de maturação numa história com foco diferente, antes de realmente protagonizar o romance.

Aqui, Rogue (Groff) é apresentado como uma figura misteriosa, mesclando uma versão desconhecida do Doutor com um Jack Harkness mais tímido, e de saída, é um personagem muito interessante. Estar caçando os Chuldur já foi um arranjo que comprometeu o seu estabelecimento como personagem, mas ainda assim, foi possível aproveitar o pouco que o roteiro forneceu. A situação ficou diferente quando o flerte inicial entre o caçador de recompensas e o Senhor do Tempo tomou o centro das atenções, aumentando o já citado contraste entre temáticas, numa briga que colocou uma questão importante em cena: eu gostaria de ver o primeiro beijo romântico do Doutor em outro homem numa aventura onde eu já conhecesse muito mais dos dois personagens, e onde a minha atenção não estivesse picotada em outras variantes narrativas. Foi um momento icônico e histórico para a série, isso é fato, mas foi dramaticamente precipitado e não foi esteticamente bem capturado.

Faltando apenas dois episódios para o final da temporada, essa pausa em 1813 abre a possibilidade de perguntas sobre a figura interpretada pela atriz Susan Twist (o mistério da temporada que parece mais legal que a própria origem de Ruby), sobre o futuro do 15º Doutor com Rogue (aquele “me encontre” pareceu um convite para futuros retornos do personagem, não?) e sobre a explicação de quem realmente é Ruby (aliás, não posso deixar de dizer o quanto a atriz Millie Gibson estava deslumbrantemente encantadora nesse episódio!). Com direito a uma adaptação de Bad Guy para orquestra e o Doutor colocando um anel de compromisso no dedo, o episódio não esteve à altura dos que tivemos até o momento, na temporada, mas ainda assim conseguiu sustentar a qualidade acima da média. Querendo ou não, é um ponto positivo.

Doctor Who – 1X06: Ladino (Rogue) — Reino Unido, 08 de junho de 2024
Direção: Ben Chessell
Roteiro: Kate Herron, Briony Redman
Elenco: Ncuti Gatwa, Millie Gibson, Camilla Aiko, Maxim Ays, Debra Baker, Nancy Brabin-Platt, Ashley Campbell, David Charles, Paul Forman, Michelle Greenidge, Jonathan Groff, Susan Twist, Indira Varma
Duração: 46 min.

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