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Crítica | Doctor Who – 12X07: Can You Hear Me?

por Luiz Santiago
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Até o mais desgostoso dos espectadores deverá admitir que a premissa de Can You Hear Me? é fantástica e prometia um daqueles misteriosos episódios de terror bem legais que a gente já teve na série antes. O resultado, porém, não foi assim tão animador como esperávamos, mas teve seus bons momentos e conseguiu trabalhar de maneira aceitável o seu assunto principal, garantindo uma boa diversão, apesar das barrigas.

Dividida entre Aleppo, 1380; Sheffield, 2020 e a nave de Zellin, num futuro distante, a trama explora os medos mais intensos, e a partir dessa situação temos um convite para olhar para dentro de cada um, gerando oportunamente um final de episódio bastante reflexivo e que aparentemente acena para a partida dos companions da Doutora (pelo menos Ryan e Yaz), o que evidentemente me deixou pulando de felicidade — e mais uma vez deixo claro que não é por desgostar deles, é porque eu estou enjoado deles e penso que os roteiros, embora tenham melhorado muitíssimo a dinâmica de um time grande na TARDIS, ainda não está conseguindo explorar organicamente o trio + a Doutora. E a minha primeira reclamação sobre o episódio tem a ver com esse assunto, por sinal.

Eu tenho a maior curiosidade para saber como foi o processo de escrita de Chris Chibnall e Charlene James para este capítulo. De quem foi a ideia de colocar a garota síria (Tahira, interpretada por Aruhan Galieva) como adicional temporária na TARDIS e mais Tibo (Buom Tihngang), o amigo de Ryan? Gente é o que não falta nessa nave ou nessa temporada e está claro o quanto isso segura o roteiro pelo rabo, em duas medidas: na estranheza, porque a gente fica se perguntando: “cadê fulano?“, e na estupidez, porque não há tempo de criar falas ou dar funções minimamente interessantes para esses coadjuvantes de momento (e eu implicava com a coitada da Courtney Woods, interpretada por Ellis George, na era do 12º Doutor! Mal sabia eu que estava no Paraíso!), de modo que ficam todos com cara de bolacha falando amenidades que ninguém se importa, atravancando o uso dos companions (que já são muitos) e o escopo de ação da Doutora, que precisa abarcar todo mundo. Ai ai…

O que torna o texto interessante, no entanto, é a jornada em torno do medo ou do desequilíbrio metal e que traz, na figura do vilão Zellin a conexão com diversos momentos da Série Clássica, como os Eternals (Enlightenment), os Guardians of Time (The Ribos Operation) e o Celestial Toymaker, que tem uma citação especial, dado o jogo que Zellin monta para a Doutora. Aparentemente estamos diante de um episódio isolado, mas ele tem a sutil habilidade de aglutinar rapidamente pequenos elementos da temporada, como o Dregs de Orphan 55 e a Criança Atemporal, dando um senso maior de unidade, mesmo que não nos encha de respostas. Eu me diverti com a história em si, mas não pude deixar de me irritar com a já citada superpopulação do núcleo central e em mais dois momentos, que acho que realmente estragaram muita coisa.

O primeiro foi aquela TE – NE – BRO – SA escapada da Doutora. Eu juro pra vocês que eu pausei o episódio para tentar respirar e me acalmar com o que eu vi naquela cena. Aquilo foi horrível em tudo o que se possa imaginar: foi uma escapada feia e burra para os moldes e inteligência da Doutora; foi uma das resoluções mais mal editadas que eu já vi em toda a minha vida e, pior ainda, foi uma cena num ponto alto do episódio, já orbitando o clímax, e exigia que o roteiro desse a máxima atenção para fazer um bom crescendo até o ponto máximo. Só que em poucos segundos vem aquele Deus Ex Machina e pronto, a Doutora estava liberta…

Por outro lado, me agradou demais a atenção dada aos companions, cenas que deveriam aparecer na primeira metade da 11ª Temporada, mas tudo bem, pelo menos apareceram, certo? Esse é o tipo interessante de exploração de personalidade e vida pessoal dos personagens e que casa bem com a temática do capítulo, dando um pouco mais de pistas sobre as ações, o pensamento e os anseios de cada um. Mas aí, caindo na maldição dessa Era (que para cada coisa boa deve ter uma ruim) tem aquele monólogo bonito e doloroso do Graham com a Doutora e ela simplesmente escanteia o cara! Eu fiquei muito bravo com os roteiristas nesse ponto. A Doutora dar um puxão de orelha na Yaz e dizer que eles “fazem perguntas demais” é uma coisa que faz sentido esperar dela, mas tratar o Graham daquele jeito? A 13ª Doutora? Não faz nenhum sentido. Estragou um momento bonito a troco de nada, indo na contramão de tudo o que se construiu da Doutora até aqui e perdendo outra oportunidade de ouro para fazer com que ela se mostrasse mais.

Apesar dos pontos negativos do episódio, eu realmente gostei da história como um todo. O que me incomoda é que mesmo em episódios que eu tenho gostado da maior parte, a ponto de estarem solidamente acima da média, ainda vejo tropeços quase inacreditáveis para DW a essa altura do campeonato. Impossível não se irritar com Chris Chibnall por isso.

Doctor Who – 12X07: Can You Hear Me? (Reino Unido, 9 de fevereiro de 2020)
Direção: Emma Sullivan
Roteiro: Chris Chibnall, Charlene James
Elenco: Jodie Whittaker, Bradley Walsh, Tosin Cole, Mandip Gill, Clare-Hope Ashitey, Aruhan Galieva, Nasreen Hussain, Buom Tihngang, Bhavnisha Parmar, Ian Gelder
Duração: 45 min.

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