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Crítica | Doctor Who – 12X01: Spyfall – Part One

por Luiz Santiago
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Depois de uma 11ª Temporada que dividiu o público da série e afastou muita gente (particularmente achei uma temporada muito boa, mas ainda assim cheia de tropeços e estranhezas por parte do novo showrunner), havia um mescla de medo e expectativa pelo que Chris Chibnall poderia nos trazer nesta nova temporada. Claro que entre a saga anterior e esta tivemos o Especial de Ano Novo de 2019, Resolution, que parece ter unido um pouco mais os whovians, mas ainda assim, nada que ajustasse a maioria de opiniões positivas sobre os rumos do show. De lá para cá eu acompanhei muito por cima algumas coisas em relação à série, vi algumas fotos de bastidores, mas só. Então 2020 chegou e trouxe também a nova temporada, com um episódio que vai dar o que falar.

Um elemento muito positivo aqui é o fato de estarmos diante de um duplo, o que dá a oportunidade de o roteiro trabalhar em algo um pouco mais aprimorado e, dependendo do rumo do episódio, segurar a atenção do público para o que vem adiante, algo de fato conseguido com sensacional cliffhanger que temos aqui. Depois, há o tema e a maneira como o roteirista o explorou. Histórias de espionagem possuem um ritmo próprio e todas são centradas em algo conhecido da maioria das pessoas (a intensidade na ação e as surpresas nas revelações), mas cada uma procura adequar os clichês do gênero ao tipo de espião que está envolvido. Notem que isso não é assim tão comum em outros tipos de narrativa, como o suspense, por exemplo, havendo uma integração muito maior entre os detetives dos mais distintos projetos possíveis (especialmente no audiovisual). Já na espionagem, o caminho é diferente.

Ao trazer isso para Doctor Who, Chibnall tinha, digamos, um caminho específico para seguir. Nós já tivemos todo um direcionamento do show para este gênero durante a Série Clássica, na encarnação do 3º Doutor (inclusive o Tissue Compression Eliminator que aparece aqui surgiu nesse período, no arco Terror of the Autons), onde a UNIT exercia um papel primordial nas aventuras, dando um ar meio James Bondsci-fi ao programa. Uma herdeira distante dessa abordagem foi Torchwood (que assim como a UNIT também é citada por C, personagem de Stephen Fry) e nesse espírito de referências e abordagens com um grande peso dentro da própria série é que o showrunner resolveu escrever um texto no melhor estilo “espião por acaso” + “espião espia espião“, que é um tipo de narrativa que começa de forma cômica, com surpresas para os protagonistas — colocados no meio da espionagem por motivos alheios a eles — mas pouco a pouco começa a trazer as já esperadas relações com os clássicos do gênero e a assumir um ar sério. Como é comum nesse tipo de abordagem, a ação está em foco desde o começo, mas a motivação ou maiores explicações demoram mais que o normal para virem à tona.

Em Spyfall – Part One, Chris Chibnall realiza um ótimo trabalho de construção geral do drama (o mistério dos vilões, as equipes de investigação — uma bem preparada outra amadora), com a intriga pouco a pouco se tornando um espetáculo desafiador e realmente perigoso, diante do qual a Doutora está espantosamente sem saber para onde ir, porque é algo novo para ela… tudo isso tem peso e é bem introduzido no episódio, que é embalado por uma ótima trilha sonora. Em suma, um bom esqueleto dramático (embora eu reconheça que esse tipo de estrutura do gênero não agrada a todo mundo). Mas ainda vamos encontrar aqui diálogos bem incômodos vindos dos companions, muitos deles fortemente expositivos, o que irrita bastante. Para mim, contudo, esses maus momentos foram facilmente suplantados por aquilo que o episódio trouxe de bom. Consegui embarquei na ideia desde a muitíssimo bem dirigida cena do carro assassino e daí para frente foi surpresa atrás de surpresa.

Jodie Whittaker está bem mais solta, mais natural, mais ativa nesse episódio, tendo bons momentos para brilhar (mas merecia mais!). E foi bom ver Ryan e Yas com verdadeiros e inteligentes diálogos na maior parte do tempo. Já Grant fica na retaguarda (estão vendo? Manter três companions é complicado!), recebendo até um cartão amarelo do próprio O, que aponta o papel de repetição/reafirmação de Grant para as coisas que a Doutora ou outro personagem diz. É um momento engraçado, mostrando que Chibnall realmente sabe o tipo de problema que tem em mãos, mas ainda assim não consegue apagar o pouco de incômodo que esse escanteio nos causa. E aí temos o homem do momento, Sacha Dhawan (que fez o papel do diretor Waris Hussein em An Adventure in Space and Time), a nova encarnação do Mestre. Eu vou deixar para explorar muito mais essa nova versão do personagem no episódio que encerra esse arco, por motivos de coerência mesmo. Mas uma coisa preciso dizer: meu queixo caiu quando ele disse quem era. Foi uma absoluta surpresa para mim. Amei o que vi até aqui, mas me reservarei de maiores comentários oficiais agora para fazê-los de maneira mais ampla e melhor amparada na próxima semana.

Spyfall – Part One foi um baita começo de temporada, uma fantástica surpresa para os fãs — tomara que implique em coisas bem legais daqui para frente — e possivelmente uma indicação de mudança no trabalho do showrunner neste ano. Vamos esperar para ver.

Doctor Who – 12X01: Spyfall – Part One (Reino Unido, 1º de janeiro de 2020)
Direção: Jamie Magnus Stone
Roteiro: Chris Chibnall
Elenco: Jodie Whittaker, Bradley Walsh, Tosin Cole, Mandip Gill, Stephen Fry, Lenny Henry, Andrew Bone, Sacharissa Claxton, Melissa De Vries, William Ely, Ravin J. Ganatra, Shobna Gulati, Asif Khan, Brian Law, Dominique Maher
Duração: 45 min.

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