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Comparado ao nível dos episódios anteriores, Arachnids in the UK é um episódio fraco. Não ruim. Mas fraco. Na estrutura pretendida por Chris Chibnall nesta 11ª Temporada, o capítulo formaliza a entrada de Graham, Yas e Ryan como uma “Equipe TARDIS” de fato, fechando a sequência acidental de aventuras que uniu o trio à Doutora, em The Woman Who Fell to Earth.
De volta a Sheffield, nos dias atuais, a Doutora lida pateticamente com a possibilidade de ficar sozinha e a cena é tão tocante que nos fazer ter a maior vontade de abraçá-la, oferecer chá e companhia. Há um aspecto de personalidade dessa Doutora que é difícil ver de maneira tão aberta e compassiva em qualquer outro protagonista da série. Ela guarda um sentimento de empatia tão generoso, tão caloroso, que sua importância com qualquer vida é muito mais do que um dever de preservação, um real valor da Time Lady, como já havíamos visto em suas encarnações masculinas antes. Não. Neste corpo, ela se entrega de fato à causa e o sentimento que exprime pode ser visto nos olhos e nas expressões que dizem muito, mesmo quando as palavras vão por um outro caminho, quando ela mal consegue disfarçar.
Com medo de colocar pessoas em risco sem um aviso prévio — certamente um pouco de consciência pesada pelo que aconteceu com Bill — a Doutora procura dividir o cotidiano com seus novos companions (bem, na verdade, com Yas, mas vocês entenderam…) e é aí que começam a aparecer as pistas para o que será o foco desse episódio de transição e, ao mesmo tempo, de acomodação de questões anteriores. Conhecemos a família da paquistanesa e aproveitamos um pouco mais do lado pessoal de Graham, ainda lidando com o luto; e de Ryan, que recebeu uma carta do pai, homem ausente que nesse momento quer reatar laços com o filho. O roteiro é bem certeiro quando faz essas relações, porque todas elas estão organicamente colocadas, não existem momentos forçados dirigidos a essa exploração.
Mas aí entram as aranhas. E a justificativa para elas existirem.
Sim, sim, o ponto mais fraco do episódio está mesmo relacionado aos aracnídeos gigantes e não sei se isso vem pela justificativa do por quê elas ficaram assim, ou se pela forma como a história de Robertson, seu hotel construído em solo contaminado por lixo (químico) mais a ação de um laboratório com experimentos aparece em cena. Tudo é real e virtualmente plausível, mas não me convenceu de verdade. É como se essas justificativas fossem tão comuns que parecessem falsas, ou como se a grandiosidade dos bichos a e presença da Doutora aqui exigisse algo mais interessante, mais do que um elemento puramente terráqueo que deu errado. Cronologicamente, faz sentido que as aranhas tenham demorado 5 anos para ficarem daquele tamanho, mas pela forma como aparecem e pelo desenho de ataque nos mapas, o enredo nessa parte acaba se tornando bem bagunçado.
Gosto bastante da trilha sonora aqui, a parte da série que ainda não decepcionou ou se mostrou abaixo de outras (e ainda tivemos Where Do You Know Me From?, do Stormzy, o que foi ótimo). Já os outros setores técnicos estão apenas ok. Do roteiro, além das questões pessoais dos companheiros e da Doutora, gostei das nuances políticas, econômicas, ecológicas e até uma ironia (que pode ser de qualquer orientação, depende da leitura do espectador) de liberdades individuais ligada à frase “meu hotel, minhas regras“, dita pelo empresário mais de uma vez. Essa âncora de consciência de Chris Chibnall realmente tem me agradado. Mas a história das aranhas em si e a estadia um tanto estranha da Doutora, mais o momento estranhamente reticente antes de o trio entrar na TARDIS, no final, não me agradaram muito. Um episódio que para mim, por pouco, não ficou abaixo da média.
Doctor Who – 11X04: Arachnids in the UK (Reino Unido, 28 de outubro de 2018)
Direção: Sallie Aprahamian
Roteiro: Chris Chibnall
Elenco: Jodie Whittaker, Jaleh Alp, Sharon D. Clarke, Tosin Cole, Tanya Fear, Ravin J. Ganatra, Mandip Gill, Shobna Gulati, William Meredith, Chris Noth, Bhavnisha Parmar, Bradley Walsh, Adam Darlington
Duração: 48 min.