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Crítica | Django Livre, a graphic novel

por Ritter Fan
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estrelas 4

Não é novidade alguma filmes receberem tratamento em quadrinhos, sejam prelúdios, continuações e, claro, adaptações deles próprios para a Nona Arte. Um dos mais famosos exemplos é a aclamada adaptação em quadrinhos de Star Wars, ainda na década de 70 pela Marvel. Exemplos recentes são os prelúdios de Homem de Ferro 3, Thor 2 e Guardiões da Galáxia. Mas essa tendência tem sido vista também há boas décadas em relação a séries de TV, como Doctor Who, Star Trek, Buffy, a Caça-Vampiros, Smallville, Arquivo X e até mesmo Sons of Anarchy.

Portanto, não chega a ser uma surpresa uma adaptação, em quadrinhos, de Django Livre, a primeira incursão de Quentin Tarantino no gênero western. Mas essa adaptação tem duas características que a separam das demais. A primeira delas é que ela ganhou abrigo na Vertigo, selo da DC Comics reconhecido por grandes obras como Hellblazer, Fábulas, Sweet Tooth e O Inescrito, dentre tantas outras. Sinônimo de qualidade, o selo  é normalmente garantia de uma boa leitura fora das amarras auto-impostas pela indústria mais mainstream de quadrinhos que precisa alcançar a maior latitude possível de leitores.

A segunda característica e talvez a mais importante é que Django Livre é uma adaptação direta do roteiro de Quentin Tarantino e, ainda por cima, do roteiro anterior ao shooting script (e que ganhou o Oscar de melhor em sua categoria, aliás), ou seja, aquele que efetivamente foi às telonas. Em outras palavras, o que vemos nas páginas da publicação é uma versão levemente diferente do filme.

Com isso, a graphic novel, formada por sete números, é uma leitura essencial para quem gostar de Tarantino e/ou de Django Livre e/ou bons faroestes em quadrinhos.

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(1) Capa de Jim Lee; (2) Capa de Denys Cowan e (3) Capa de Massimo Carnevale.

É de conhecimento geral que os roteiros de Quentin Tarantino são carregados de muitos diálogos e essa característica, pelo menos em princípio, não funcionaria sem podas em quadrinhos. No entanto, para minha grata surpresa, os diálogos e as narrações não só foram mantidos quase intactos, como sua distribuição pelos quadros funciona na maioria do tempo. O leitor não se sente sufocado por textos longos e potencialmente maçantes. Aqui cabe destacar o trabalho dos letristas Sal Cipriano (nas edições #1 a 4 e 7) e Taylor Esposito (#5 e 6) que, em conjunto com os vários artistas ao longo das publicações, soube distribuir inteligentemente os diálogos, tornando-os os mais fluidos possíveis considerando-se, claro, sua quantidade acima do normal.

Como não há uma adaptação propriamente dita, o que há no filme, há nos quadrinhos, com algumas adições aqui e ali, que dão um ar de “versão do diretor” à obra, algo que, claro, é sempre bem vindo. Há flasbhacks que aprofundam mais o passado de Django, Broomhilda e de Calvin Candie, além de novas sequências recheadas de violência e um embate final levemente modificado, mas com o mesmo resultado. São sequências que, sem exceção, teriam provavelmente atrapalhado a cadência da narrativa do filme e estendido sua duração ainda mais sem verdadeira necessidade. No entanto, nos quadrinhos, essas adições são bem estruturadas e adicionam à mitologia naturalmente, especialmente os flashbacks que ainda são desenhados com arte mais simplificada e caricata por parte de Jason Latour, criando ótimo contraste com a arte principal, cortesia de R.M. Guéra nas edições #1, 2, 4 e 7 e de Denis Cowen (traços) e de John Floyd (arte final) nas edições #3 e 6 e Daniel Zezelj na edição #5.

mosaico django 2

(1) Capa de Ivan Reis; (2) Capa de Frank Quitely e (3) Capa de R.M. Guéra.

Essa profusão de artistas costuma ser mal sinal para uma publicação, especialmente uma minissérie como essa. No entanto, o artista principal, Guéra, que trabalhou em Escalpo, estabelece o tom cru, sujo e no estilo “esboço” nos primeiros números e esses aspectos são mantidos, com algumas modificações, claro, nos números em que ele não participa. Com isso, não há solução de continuidade e gangorras artísticas, ficando mesmo com Latour o papel de criar contraste com seus flashbacks. Não há muita originalidade na transição de quadros e arte, em geral, não se beneficia de grandes momentos, com splash pages, algo que definitivamente poderia ter trazido mais grandiosidade para a obra.

O roteiro, como já mencionei, é diretamente o de Tarantino, que ganha os devidos créditos. No entanto, claro, apesar de não creditado na primeira edição, Reginald Hudlin ficou ao encargo da transição de roteiro para quadrinhos, ganhando menção nas edições seguintes como “adaptação por”. Seu trabalho somente falha na apresentação do sotaque do Dr. Schulz que, sendo alemão e falando inglês culto, causa estranheza dos rústicos cowboys escravagistas no começo da narrativa. Mas isso não transparece das páginas e os comentários ficam soltos e desconexos, necessitando de um pouco de ajuste do leitor.

Se você estiver se perguntando onde está a sinopse da publicação, por favor note que, em sendo uma adaptação direta do filme e tendo esse mesmo crítico feito os comentários críticos no original, convido-o a ler a outra crítica, bem aqui, para saber do que se trata, se é que você já não sabe.

Django Livre, em quadrinhos, é leitura altamente recomendada. Fica aqui o recado para todas as editores fazerem esse tipo de adaptação  com outros filmes do diretor e também de outros.

Django Livre (Django Unchained, EUA – 2012/2013)
Roteiro: Quentin Tarantino, adaptado por Reginald Hudlin
Arte: R.M. Guéra (edições #1, 2, 4 e 7), Denis Cowen (traços) e John Floyd (arte final) (edições #3 e 6) e Jason Latour (sequências em flashback)
Cores: Giulia Brusco, Jose Villarubia
Letras: Sal Cipriano (edições #1, 4 e 7), Taylor Esposito (edições #5 e 6)
Editora (nos EUA): Vertigo Comics
Editora (no Brasil): não publicado no Brasil quando da publicação da crítica)
Páginas: 264

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