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Crítica | Dirty Harry na Lista Negra

por Ritter Fan
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Em 1988, cinco anos depois de Impacto Fulminante, Clint Eastwood retornou pela quinta e última vez ao seu icônico policial violento Harry Callahan, mais conhecido como Dirty Harry, no mais curto e menos característico longa da franquia. É uma despedida razoavelmente modesta para o personagem criado 17 anos antes, mas ao mesmo tempo curiosa não só pela sua abordagem, como também por seu elenco e convidados especiais.

O ponto de partida do roteiro é a existência de uma lista de celebridades, a “lista negra” do título em português ou a dead pool do original, em que consta o nome de Callahan. São nomes que, em um jogo macabro, algumas pessoas apostam que morreram em determinado período. Como Harry é caracterizado como uma celebridade por ter contribuído para a condenação de um mafioso local, os atentados que sofre são inicialmente enevoados entre tentativa de vingança da máfia ou presença de seu nome na lista.

Com essa premissa, o roteiro de Steve Sharon faz uma crítica feroz ao jornalismo e ao culto da celebridade, o primeiro recebendo estocadas na forma como os repórteres correm atrás de sangue, esquecendo-se da humanidade, o que inclui o envolvimento de Harry com a jornalista Samantha Walker (Patricia Clarkson em seu segundo longa) e o segundo pela forma como a narrativa lida com a lista e com a produção de um slasher movie pelo diretor Peter Swan (Liam Neeson já razoavelmente veterano, mas ainda sem a fama que alcançaria), artifício narrativo central à resolução dos crimes, já que é na órbita de Swan que as pessoas começam a morrer, notadamente o ator e roqueiro Johnny Squares (Jim Carrey em um de seus primeiros papeis, uma ponta, na verdade, então ainda creditado como James Carrey).

Entre a presença de Neeson e Carrey no elenco, o uso publicitário da canção Welcome to the Jungle lançada no ano anterior e a própria presença não-creditada dos integrantes da banda Guns N’ Roses, com Slash inclusive atirando um arpão gigante e particularmente importante para o desfecho do longa, Dirty Harry na Lista Negra por vezes parece mais uma paródia da franquia, do que um filme sério. Tudo é mais bizarro e exagerado, até mesmo o novo parceiro de Harry, Al Quan (Evan C. Kim) que, por ser descendente de chinês, precisa, claro, usar kung-fu para derrotar um bandido, em direto contraste ao canhão mortal do policial veterano. Há até mesmo uma longa perseguição automobilística em São Francisco em que a dupla é seguida não por um carro normal, mas sim um pequeno e explosivo controlado por rádio que reforça o tom jocoso da coisa toda.

Em termos de atmosfera, a fotografia de Jack N. Green faz esforço para emular os filmes slasher trash dos anos 80, o que, claro, combina com o longa em produção dentro do filme, mas também acaba emprestando um ar “barato” ao filme que chega a incomodar, especialmente com o diretor Buddy Van Horn fazendo de tudo para esconder a identidade do assassino sem realmente precisar. Não é o mesmo tipo de erro que é visto em Magnum 44, pois lá há uma boa razão para todo o mistério, pelo que a artificialidade de toda a construção do “grande” vilão acaba não gerando os dividendos que deveria.

Pela economia em termos de duração, porém, o filme mantém o passo acelerado e aproveita bem o par romântico formado por Harry e Samantha, com uma boa química entre Eastwood e Clarkson (que, aliás, talvez não coincidentemente, parece-se muito com Sondra Locke, então ainda esposa de Eastwood e co-protagonista de Impacto Fulminante, o filme anterior da franquia), mas ele é feito de “pedaços” de diversos longas costurados juntos em uma tentativa de obra coesa que seu diretor nem sempre alcança. Além disso, o histrionismo das situações faz a narrativa pesar, causando estranhamento e esse ar de paródia que abordei mais acima sem que Dirty Harry na Lista Negra entregue-se completamente para esse lado. Ainda é um filme divertido, mas foi o momento certo de Eastwood largar esse seu personagem.

Dirty Harry na Lista Negra (The Dead Pool – EUA, 1988)
Direção: Buddy Van Horn
Roteiro: Steve Sharon (baseado em história de Steve Sharon, Durk Pearson e Sandy Shaw, por sua vez baseado em personagens de Harry Julian Fink e Rita M. Fink)
Elenco: Clint Eastwood, Patricia Clarkson, Liam Neeson, Evan C. Kim, David Hunt, Michael Currie, Michael Goodwin, Jim Carrey, Anthony Charnota, Ronnie Claire Edwards, Louis Giambalvo, Diego Chairs, Charles Martinet, Patrick Van Horn
Duração: 91 min.

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