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Crítica | Dias Perfeitos

Quando o cotidiano é suficiente.

por Roberto Honorato
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O cinema japonês é um dos que melhor representa uma sensação de melancolia ou introspecção através de personagens complexos contra uma narrativa mais objetiva, e essa seria minha exata expectativa para Dias Perfeitos antes de saber do envolvimento de Win Wenders na direção, o que pode trazer uma sensação de conforto por saber que é um diretor competente, porém não é fácil deixar de lado algumas preocupações envolvendo a visão de um diretor alemão sobre a cultura japonesa, principalmente em uma obra tão específica que exige certa experiência que vai além das câmeras.

A história é focada na vida de Hirayama (Koji Yakusho), um homem que parece ter encontrado um equilíbrio na vida, contente em trabalhar como zelador de banheiros públicos em Tóquio, também passa os dias aproveitando seus hobbies e paixão pela arte, como literatura, música e fotografar árvores com sua câmera analógica. Infelizmente, sua rotina é interrompida por constantes encontros com pessoas que logo fazem ele se lembrar de um passado misterioso. 

A ambientação que Dias Perfeitos procura é provavelmente algo nos ares de Yasujiro Ozu, que o próprio Wenders considera sua grande inspiração, e não seria estranho comparações na proposta, porém esse é um filme que parece ter atingido a veia de Jim Jarmusch, principalmente o que ele fez em Paterson, uma narrativa introspectiva sobre um protagonista de grande paixão em um estado de satisfação pela sua vida, sem deixar de revelar seu lado mais frágil, ainda que não deixe claro a razão para tal fragilidade. Hirayama, interpretado pelo carismático Koji Yakusho, traz mais do que uma alegria perante o mundano, há também uma perpétua melancolia no olhar, e isso fica mais claro quando o protagonista evita se aprofundar em debates com figuras de seu próprio passado, porém revela mais honestidade em interações com rostos desconhecidos que parecem compartilhar de um mesmo sentimento ambíguo. 

Como mencionei anteriormente, deve-se levar em consideração que estamos falando de um diretor alemão trazendo sua própria sensibilidade artística para um longa focado inteiramente em outra cultura, com suas próprias características e peculiaridades assimiladas através do cotidiano. Por um lado, é fácil ver como alguns elementos da obra podem ser interpretados de outra maneira, como a forma que a crítica social sobre a classe trabalhadora seja quase inocente ao ponto de se limitar a pequenas sequências de pessoas ignorando a existência do protagonista ou uma criança o reconhecendo como um igual e não apenas um “funcionário”; e o destaque da literatura e música serem quase inteiramente da língua inglesa também não ajuda o caso do diretor. Por outro lado, é fácil entender também o argumento de que os sentimentos do protagonista podem ser universais, o que fica ainda mais claro nos minutos finais, em uma emocionante cena embalada por Nina Simone.

Dias Perfeitos encontra a beleza no mundano e coloca Koji Yakusho para conquistar todos como a figura central na jornada de um homem que parece contente com seu próprio exílio, e mesmo que deixe o mundo ditar suas próprias regras, utiliza o silêncio ao seu favor, o que faz com que seus pequenos momentos de diálogo entre figuras do presente e passado sejam ainda poderosos e não deixem de trazer ao menos um pouco de esperança.

Dias Perfeitos (Perfect Days – Japão, Alemanha, 2023)
Direção: Win Wenders
Roteiro: Win Wenders, Takuma Takasaki
Elenco: Koji Yakusho, Miyako Tanaka, Long Mizuma, Tokio Emoto, Bunmei Harada, Min Tanaka, Siraki Shibuya, Aoi Iwasaki, Inuko Inuyama, Tomokazu Miura
Duração: 123 minutos

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