Diário de Um Banana (2021), dirigido por Swinton O. Scott III, que trabalhou em Os Simpsons, The Looney Tunes Show, Futurama e Family Guy, e baseado na conhecida série de livros de mesmo nome, me surpreende por ser singelamente convidativo à sua faixa-etária. Quer dizer, este é um filme que eu gostaria de ter visto quando criança. Não pretende ser, é verdade, uma narrativa complexa, com mensagens subliminares no pano de fundo de sua história principal, mas consegue ser cativante na sua imagem, com um enredo envolvente e muito simples, e não menos bonito por isso. A relação entre dois personagens que, após inúmeros reveses e uma separação, descobrem o valor de uma amizade, me soa muito bem trabalhada e sem muitos enfeites da ordem de um roteiro ultra elaborado. É tudo muito linear e verdadeiro, construindo um universo particular e agradável aos olhos.
Greg Heffley é um garoto de 12 anos que está entrando na 6ºa série do Ensino Fundamental, e como toda criança desta idade carrega seus receios em relação ao colégio e à nova etapa, Greg não escapa à regra. Surpreende-se com tudo que há de novidade, com os novos populares, os novos comportamentos, afinal, uma série tão mais adulta exige também um comportamento à altura. Com seu melhor amigo, Rowley, as aventuras ficam ainda mais divertidas e as descobertas da nova série do Ensino Fundamental acabam virando um desafio em conjunto.
A história de amadurecimento é o grande motor da trama e, para o seu público-alvo, nada enche tanto os olhos, à nível de identificação, quanto assistir a um enredo que é capaz de lidar com problemas verdadeiros. O medo do primeiro dia de aula, juntamente de toda a insegurança que este momento traz, vai guiando todas as ações do nosso pequeno herói rumo à sua adaptação. Agora, muitas coisas mudaram: não se fala mais “recreio”, mas “intervalo”; nem mesmo ouse pronunciar a palavra “brincar”, pois o risco de virar chacota diante dos outros é grande. Com isso, a película enfoca neste período que é sobretudo de indecisão entre ser ainda uma criança, mas já querer ser adolescente, e ganha por trazer isso de maneira verossímil e divertida. Afinal, quem nunca, quando criança, quis ser já um adolescente? Parecia tão mais atraente a ideia de ser já maduro como as pessoas do Ensino Médio…
Dentro da narrativa de amadurecimento, alguns temas importantes são desenvolvidos, como o poder de uma amizade. Ainda que nossos pequenos heróis se desentendam em determinado momento da fábula, eles são reconciliados num momento em que um precisa do outro, num gesto fraternal em que a mensagem sobre amizade (amigo, estou aqui…) é trazida à luz, concluindo um desfecho muito bonito sobre um período da vida em que a construção de laços é muito importante. A propósito do estilo gráfico, o desenho é muito nostálgico, além de ser bem fiel às imagens do livro, o que me fez querer ser parte do universo representado.
O ritmo fílmico opta por ter uma estrutura episódica, assimilando-se a um episódio de alguma série ou programa – o que justifica e abre uma brecha gigantesca para uma continuação. Em 52 minutos, os principais laços dramáticos já estão todos desenlaçados, e em 57 minutos o filme se encerra. É um roteiro rápido, que não se prende em divagações ou qualquer coisa do tipo. Não vejo problema algum na rapidez da trama e vejo aí, nesta aceleração das ações do enredo, uma forma de lidar com a mensagem fílmica de uma maneira rápida e eficaz. O longa-metragem – que mais se parece com um média-metragem, ou com um primeiro episódio de alguma coisa – não cobra grandes esforços do público, nem interpretações mirabolantes, muito menos subestima o seu público-alvo. Tudo está lá, de modo conciso e cativante.
Diário de Um Banana é feito com poucos vestígios de uma grande animação, sendo mesmo uma produção do tipo: “coloque as crianças para assistir enquanto prepara o almoço”. É mediana, portanto, toda a proposta. O filme não excede o seu assunto, e nem o reduz demais, caracterizando-se pela estrutura episódica e veloz que assinala um enredo suficientemente bom para criar um arco dramático razoável e um desfecho satisfatório.
Diário de um Banana (Diary of a Wimpy Kid, EUA, Reino Unido, 2021)
Direção: Swinton O. Scott III
Roteiro: Jeff Kinney (baseado no livro de nome homônimo)
Elenco (vozes): Brady Noon, Ethan William Childress, Christian Convery, Brenda Crichlow, Chris Diamantopoulos, Braxton Baker, Cyrus Arnold, Brenda Crichlow, Hunter Dillon
Duração: 58 min.