Home FilmesCríticasCatálogos Crítica | Diamantes da Noite

Crítica | Diamantes da Noite

Experimentação formal e impacto político.

por Luiz Santiago
1,K views

Também conhecido como Noites de Diamantes aqui no Brasil, este exemplar da Nouvelle Vague Tcheca foi o primeiro longa-metragem do diretor Jan Němec, que aqui adapta um conto de Arnost Lustig e conta a história de dois jovens judeus (sem nome, o que fortalece as muitas perdas que esses indivíduos sofrem aqui, a começar por suas identidades) que pulam de um trem que os levaria para um campo de concentração e empreendem uma intensa fuga dos nazistas e da população local, apta a denunciá-los às autoridades.

No enredo, o filme é bem simples. Se pensarmos a obra num todo linear (aquilo que ela não é), veremos que se trata basicamente dessa fuga dos dois jovens, a perseguição feita a eles e os dissabores físicos (cansaço, cortes nos pés, fome) e psicológicos que sofrem. Todavia, a forma ousada como Němec dirige a obra e especialmente a maneira como ela é montada (por Miroslav Hájek, de Lemonade Joe) não nos entrega esse enredo simples de uma forma simples, mas com significados progressivamente profundos e complexos.

A angustiante e agonizante fuga dos rapazes perpassa presente, passado e futuro e tem, nas cenas do presente, a ocorrência de alucinações ou manifestações de desejos ou adições oníricas, dependendo da leitura que o leitor venha fazer de determinadas cenas. Cada espaço percorrido pela dupla traz um pouco mais de seu passado, cortado  e contrastado pelo extremo medo do presente e cenas enigmáticas do futuro, tornando Diamantes da Noite um filme em frequente construção, como se ainda não tivesse certeza para que caminho deveria seguir e o que encontraria logo adiante… uma execução da forma que serve de metáfora para a própria situação dos protagonistas durante toda a narrativa.

O desespero e a resignação são dois sentimentos que marcam o final, tendo inclusive um espaço para que o espectador construa também a saída de cena definitiva desses personagens. Noites de Diamantes é um daqueles filmes diante dos quais não conseguimos ficar indiferentes. É um teste de humanidade que foca em dois jovens em fuga, e essa fuga é enriquecida por memórias com diferentes tons dramáticos sobre o passado. As deixas para o futuro sempre flertam com algum tipo de tragédia, embora a gente só descubra a real ocorrência disso quando chega o momento e vemos a cena por inteiro.

Ao longo dessa dissecação do medo, o diretor ironiza e zomba do lado que detém o poder, representando os nazistas de forma oposta ao que esperamos deles (são dois soldados andando despreocupadamente e conversando na rua, minados de sua aura ameaçadora) e a milícia colaboracionista local composta exclusivamente por velhinhos. Estamos diante de um teste de dignidade e agonia executado com grande acidez, sob uma forma de vanguarda e ritmo intenso. Um filme que faz jus ao criativo cinematográfico que integra.

Diamantes da Noite / Noites de Diamantes (Démanty noci) — Checoslováquia, 1964
Direção: Jan Němec
Roteiro: Jan Němec (baseado no conto de Arnost Lustig)
Elenco: Ladislav Jánsky, Antonín Kumbera, Ilse Bischofova, Ivan Asic, Jan Riha, August Bischof, Josef Koggel, Oscar Müller, Anton Schich, Rudolf Stolle, Josef Koblizek, Josef Kubat, Rudolf Lukásek, Bohumil Moudry, Karel Navratil
Duração: 67 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais