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Crítica | Dia do Sim

por Laisa Lima
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O poder de um “sim” é, sem dúvidas, algo grandioso. Há casos em que a afirmativa vem do psicológico do próprio indivíduo, caso de Ferris (Matthew Broderick) em Curtindo a Vida Adoidado (1986), que decide por si mesmo afirmar que um dia de folga era merecido. Em situações mais diretas, como a de Carl (Jim Carrey), de Sim Senhor (2008), esta palavra é imposta e exigida como método de tratamento e mudança de vida. E é óbvio que, de fato, a vida muda. Seguindo a proposta de confirmação até dos eventos mais absurdos, Dia do Sim (2021) dá, dessa vez, o aval às crianças para a realização de quaisquer que sejam suas vontades. Os mais velhos que se contenham.

Allison (Jennifer Garner) é a típica adulta moderna: vive com a cabeça no trabalho e a mente nos três filhos, os criando à base de restrições, até sobre questões inerentes à infância. O diferencial é que a mulher, em um distante tempo atrás, já foi avessa ao “não”, embarcando em todas as aventuras que o destino lhe proporcionava. Contudo, ao casar com outro ex-aventureiro, Carlos (Edgar Ramírez), e experienciar a maternidade, sua visão de mundo se limitou apenas à realidade. E crianças não gostam disso. Ao serem chamados no colégio, mãe e pai, então, se deparam com a insatisfação do trio e decidem aderir ao “dia do sim”, que consiste em: filhos mandam, pais obedecem. Nisso, teoricamente, deveria haver um controle, mas que, na prática, pouco funciona. 

Como meio de localização do espectador na história, as cenas de Allison mais jovem juntamente com seu voice over enaltecem seu antigo espírito livre, com o intuito de criar um baque ao ver quem a personagem é atualmente. Mesmo com toda exposição da narração, a metamorfose da moça não se desvincula totalmente daquela imagem descontraída passada no início do longa-metragem, mesmo que a seriedade esteja efetivamente mais presente e seja tida como um empecilho para um bom relacionamento com os demais de sua casa. A prova disso é a adesão quase imediata ao “dia do sim” – ideia, aliás, de Allison. O embarque da mesma e de seu marido, visivelmente enrustido quando se trata de sua personalidade mais divertida, são instantâneos, sem qualquer vestígio de relutância, principalmente da parte de Allison. O que reforça tal sensação se deve ao contexto incentivador da não sobriedade dos adultos, visto que ali ninguém parece realmente um adulto.

Dia da Sim não tem a pretensão de se levar a sério, assim como não há tentativa de testar o mantimento de Carlos e, essencialmente, Allison, na promessa feita para as crianças. Todos os componentes humanos em volta da família possuem um ar infantilóide, passando longe até de uma realidade concreta. Ainda que isso seja um mérito em um filme de linguagem fácil no qual o alvo é voltado também para o infantil, eventos fora de uma coerência maior podem desviar o olhar de quem preza pelo mínimo de veracidade. É até compreensível o humor bobo de algumas ocorrências compostas para originar um riso fácil por intermédio de fatos irreais e exagerados mas condizentes com a natureza do filme, como o momento do jogo de uma espécie de paintball com bolhas d’água. Entretanto, a já esperada falta de austeridade de todos os aspectos da obra acaba sendo tirada por vezes como enfadonha, com este sentimento reforçado pela confecção genérica de certas ocasiões.

Para fazer rir, o diretor Miguel Arteta pautou o material fonte do roteirista Justin Malen em cima de clichês recorrentes em comédias de estilo leve e familiar. Todavia, a maneira de condução do cineasta entregou para Jennifer Garner, majoritariamente, o papel de dirigente do longa-metragem, fazendo dela não só fonte de tensão pelo descobrimento dos 5 desejos, mas igualmente de comoção, notado mais especificamente na subtrama com a filha mais velha Katie (Jenna Ortega) e um determinado festival de música. Por isso, o reconhecimento da afetividade por todos ali já é por si só uma matriz de apego do espectador, dado as devidas congratulações aos atores, tão comprometidos quanto soltos. 

Dia do Sim é uma diversão que exige menos detalhismo e mais desprendimento do real, embora tenha em seu interior, uma válida mensagem de liberdade e um incentivo a aproveitar as chances que a vida dá. A maneira com que é esta é transmitida, porém, não vai além do óbvio e do comum, respaldando, inclusive, na lógica do público para com algumas circunstâncias demasiadamente fantasiosas. A suavidade do longa-metragem para uns será capaz de compensar uma história quase sem surpresas, enquanto para outros, o senso de uma inventividade e uma novidade maior, falará mais alto. Afinal, não faz parte do filme focar nas nuances mentais de seus personagens e nas complexidades de um relacionamento familiar. Não obstante, um apanhado de concretizações, talvez de diversas crianças por aí, é observado. É possível dizer “sim” para elas ou para a procura de um enredo verdadeiramente adulto?  

Dia do Sim  (Yes Day) — EUA, 2021
Direção: Miguel Arteta
Roteiro: Justin Malen
Elenco: Jennifer Garner, Jenna Ortega, Edgar Ramírez, Ava Allan, Julian Lerner, Everly Carganilla, Hayden Szeto, Jessica Jade Andres, Leonardo Nam, Megan Stott, June Diane Raphael, Nat Faxon
Duração: 89 min.

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